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Demissão do Ministro Patriota: Uma crise diplomática com o atual governo?



No dia 26 de Agosto de 2013, ocorreu a demissão do até então Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota. Este fato foi causado pelo crescente desgaste que havia nas relações entre o ministro e a Presidente Dilma Rousseff, chegando ao estopim com a fuga do senador boliviano para o Brasil. O antigo cargo de Patriota passa a ser ocupado por Luiz Alberto Figueredo, ex-representante do Brasil na ONU. Sendo assim, seria o perfil do ex-ministro responsável pela crise? Ou seria o comportamento presidencial? Esta troca de comando do Itamaraty será uma solução favorável para a melhoria da diplomacia brasileira?

A diplomacia brasileira é, sem dúvidas, uma das mais respeitadas do mundo. Porém, recentemente, com a aplicação de um estilo “low-profile” (aparecer pouco na mídia), ela não tem sido muito eficiente: não aumentou a posição multilateral do Brasil como potência emergente, não manteve o nível do protagonismo brasileiro e dificultou a condução de estratégias em política externa do Presidente.

Antonio Patriota formou-se em Jornalismo no Rio de Janeiro, fez mestrado em Economia nos Estados Unidos e estudou Filosofia na Universidade de Genebra. Ingressou no Itamaraty como o primeiro colocado de sua turma em 1979, sendo Secretário-Geral das Relações Exteriores e embaixador do Brasil em Washington (2007-2009) até tornar-se Ministro das Relações Exteriores indicado por Celso Amorim, atual Ministro da Defesa. O perfil de Patriota se define como suave, contido, discreto e tradicional. Considerado por alguns analistas como competente e muito trabalhador, pecava na liderança do Itamaraty e das negociações externas.


Apesar da confiança e admiração da presidente Dilma, que não possui muita experiência no campo diplomático, houve ocasiões onde os atritos foram inevitáveis. Dentre estes atritos, podemos citar alguns: a visita de Dilma ao presidente estadunidense Barack Obama não gerou frutos nem acordos bilaterais durante o mandato de Patriota e acabou resultando em uma amenização do comércio exterior e das relações diplomáticas entre os dois paises. Em outra ocasião, na reunião da Rio+20, Dilma pediu ao ministro para fazer o discurso de abertura do evento, já que ela estava na reunião do G20, no México. Porém, após uma discussão, a presidente acabou tendo que fazê-lo. Já em 2013, na 5º Cúpula de Chefes de Estado dos BRICS, entre os presidentes do Brasil e da África do Sul, houve uma mediação inadequada de Patriota, que levou Dilma a não indicar Guilherme Patriota (irmão de Antonio) para missão do Brasil junto a OMC (Organização Mundial do Comércio), gerando muitas insatisfações.

Entretanto, o que causou constrangimento e abertura para uma possível crise diplomática foi a fuga do senador boliviano para território nacional brasileiro. O episódio recente do senador boliviano causou constrangimento no país e uma possível crise diplomática com a Bolívia. Isto culminou na demissão do Ministro.

No dia 23 de Agosto de 2013, o Senador Boliviano Roger Pinto, que estava asilado por 455 dias na embaixada brasileira em La Paz, fugiu para Corumbá, Mato Grosso do Sul, no Brasil, em caminho terrestre escoltado pelo Exército Brasileiro com a ajuda de Eduardo Saboia, diplomata brasileiro encarregado da embaixada na Bolívia. O senador Pinto era opositor político de Evo Morales e foi asilado por acusação de dano econômico ao Estado e abandono do dever através da venda de bens estatais e corrupção. Apesar do senador alegar que era perseguido político por Evo Morales e justificar sua fuga por precisar de tratamento de saúde, este fato trouxe graves consequências para o Brasil.

A presidente Dilma não havia autorizado a transferência do senador boliviano asilado para o Brasil sem a consulta do Itamaraty. O diplomata Eduardo Saboia agiu de forma independente e isto ocasionou em uma séria quebra de hierarquia. Dessa forma, os problemas internos foram ampliados externamente na opinião pública, prejudicando a imagem externa do Brasil. Tal fato também poderia acarretar em conflito diplomático com a Bolivia, por auxiliar a fuga e tentar esconder um senador asilado boliviano acusado de corrupção (mas, felizmente, de acordo com Evo Morales, isso não irá acontecer). Apesar de Patriota manter relações de confiança com Saboia, ele apenas adquiriu conhecimento da fuga através da presidente e, ao invés de se encarregar do problema no momento, preferiu viajar à Finlândia para cumprir a agenda oficial e deixar este assunto sob a responsabilidade de outros. Para amenizar o constrangimento do país devido ao abrigo de um asilado corrupto estrangeiro, Dilma levou Patriota a pedir demissão.

Entretanto, analistas observaram uma queda diplomática no governo de Dilma em relação ao de Lula. Em 2003-2010, Celso Amorim, como chanceler único de Lula, levou a diplomacia brasileira ao destaque no cenário internacional, com a ampliação da rede de embaixadas, principalmente na África, a expansão dos programas de cooperação com países subdesenvolvidos e a integração de discussões sobre conflitos no Oriente Médio.

De acordo com analistas, Dilma possui menos empolgação com política externa, viajou menos vezes que o seu antecessor, manteve uma relação diplomática mais reservada e discreta, não se aproximou de temas internacionais mais destacados e diminuiu a criação de novas embaixadas. “Ela não tem aquele gosto que Lula tinha” afirma o embaixador Azambuja. O perfil da presidente também é mostrado como mais áspero e duro, enquanto Lula era mais extrovertido e carismático. A relação de Dilma e Patriota era conturbada, enquanto a de Lula e Amorim era companheira e acordada. “É muito mais difícil ser o ministro dela”, afirma o embaixador Azambuja. Logo, o comportamento mais áspero da atual Presidente pode ter influenciado nas relações diplomáticas brasileiras, não sendo apenas Antonio Patriota o completo responsável na má gestão da diplomacia atual. As manifestações nacionais também podem ser vistas como ponto de desvio de atenção externa da presidente, além de sua reeleição.


O novo Ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueredo, representa uma aposta esperançosa para a atuação externa brasileira. De acordo com embaixadores, ele possui um comportamento mais ativo, duro, hábil e articulado que o seu antecessor. Ele apresentou um ótimo desempenho na reunião do Rio+20, na conferência da ONU de desenvolvimento sustentável e demonstrou conhecer profundamente a área de diplomacia no Meio Ambiente. Em questões de competência, trabalho, inteligência e conhecimento são praticamente equivalentes à Patriota, o seu principal diferencial está no seu estilo, com uma personalidade mais aberta às negociações, da mesma maneira o que difere Lula de Dilma, um caráter mais forte para a diplomacia. Com um perfil mais carismático e extrovertido nas negociações externas da diplomacia, será esta a medida efetiva para um maior protagonismo do Brasil no cenário internacional.


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