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DIPLOMACIA DAS CELEBRIDADES: A ATUAÇÃO DE ROGER WATERS NAS RELAÇÕESINTERNACIONAIS

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  • há 3 dias
  • 4 min de leitura

Por: Lucas Bastos Pinheiro de Souza.


A diplomacia das celebridades refere-se à atuação de pessoas famosas que utilizam sua visibilidade e prestígio para chamar a atenção para temas políticos, sociais e internacionais, influenciando a opinião pública e até pressionando governos e organizações. Dessa forma, guiando-se pelos academicistas, esse fenômeno contemporâneo das Relações Internacionais atua de maneira que atores não estatais passam a intervir na construção de agendas políticas e sociais de alcance global. Segundo Nobre (2015), esse processo se insere na chamada democratização da diplomacia, caracterizada pela entrada de novos agentes (artistas, intelectuais e organizações) na oferta e demanda por serviços diplomáticos. Nesse sentido, celebridades não apenas participam de debates, mas traduzem questões complexas em narrativas acessíveis, capazes de sensibilizar e mobilizar amplos setores da sociedade civil.


Nesse contexto, a celebridade em questão é Roger Waters, ex-baixista e letrista do Pink Floyd, banda britânica formada nos anos 1960 e reconhecida mundialmente por sua crítica social e política. Nascido em Surrey, Inglaterra, em 1943, Waters transformou sua trajetória artística em instrumento de engajamento político, levantando debates sobre guerras, direitos humanos, desigualdade e imperialismo. A indagação que o autor do presente texto pretende responder é: de qual maneira a diplomacia das celebridades influencia a opinião pública?


A atuação política de Waters se manifesta de forma explícita em eventos públicos, como sua visita ao Brasil em 2023, quando se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto para discutir temas relacionados à democracia e aos direitos humanos. Tal episódio reforça a noção de que a diplomacia das celebridades funciona como canal alternativo de mediação entre temas internacionais e a opinião pública, mostrando como um artista pode transitar da arena cultural para a esfera oficial, transformando um capital simbólico em oportunidade de interlocução política. Seus shows em São Paulo refletiram a polarização política brasileira, dividindo a audiência entre aqueles que viam em Waters um símbolo de resistência e aqueles que o acusavam de instrumentalizar a arte com objetivos políticos (ROLLING STONE, 2023). Essa disputa ilustra como a diplomacia das celebridades não é neutra, sendo situada em campos de disputa ideológica.


Para além das controvérsias, a diplomacia das celebridades cumpre papel de amplificação de pautas invisibilizadas. De acordo com Jacobin (2023), ao denunciar práticas imperialistas e propor leituras críticas sobre conflitos contemporâneos, Waters atua como um mediador cultural que tenciona discursos oficiais e oferece alternativas narrativas. Assim, sua ação pode ser compreendida no marco do soft power não estatal, em que o prestígio cultural e midiático é utilizado como instrumento de influência política (CONEXEJ, 2023).


A celebridade analisada exemplifica uma forma contemporânea de diplomacia das celebridades: a articulação pública de agendas políticas de alcance internacional por meio de performances, declarações e encontros institucionais. Essa atuação produz efeitos reais sobre discursos públicos, diplomacia cultural e conflitos simbólicos, ao mesmo tempo em que suscita questões sobre legitimidade, responsabilidade e polarização. Waters emprega um repertório de letras e espetáculos massivos (o uso de imagens, telões e símbolos em turnês), aparições em eventos e entrevistas, além de atos públicos (como o encontro com autoridades) que ampliam sua visibilidade política. Nos palcos, suas performances costumam incluir narrativas anticapitalistas, críticas a intervenções militares e apoio a causas como a do povo palestino – posturas que reverberam em cobertura midiática internacional e nas redes, amplificando debates e polarizações locais. Essa combinação de espetáculo e mensagem política é central à eficácia de sua diplomacia de celebridade.


De forma positiva, Waters consegue colocar temas no centro da agenda pública, mobilizar movimentos e audiências transnacionais e pressionar instituições e governos a reagirem através da adoção de posições, legitimando debates antes marginais. Eventos como grandes concertos ou encontros com chefes de Estado têm efeito multiplicador na mídia e nas redes, gerando discussões que ultrapassam o âmbito estritamente artístico. A presença de celebridades no debate internacional amplia vozes, mas também cria dilemas normativos: até que ponto atores não eleitos podem influir em políticas externas sem prestação de contas? Estudos sobre a democratização da diplomacia alertam que novos atores ampliam a oferta e a demanda por serviços e discursos diplomáticos que exigem mecanismos de transparência e filtros críticos pela sociedade e pela academia. (NOBRE, 2015.)


Em conclusão, Roger Waters atua como um agente de diplomacia das celebridades que mobiliza sua carreira artística para intervir em temas internacionais e nacionais. Seu caso evidencia potenciais democráticos, raise awareness, visibilidade para violações e a utilização do potencial midiático. Para a análise de RI, Waters serve como estudo de caso sobre como atores culturais transformam arenas políticas: formulam debates, elaboram narrativas e trazem a reflexão de atores tradicionais a reagirem, tudo isso exigindo que pesquisadores e formuladores públicos desenvolvam critérios críticos para avaliar impacto, veracidade e responsabilidades dessas intervenções.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL. Presidência da República. Presidente Lula recebe Roger Waters no Palácio do Planalto. Brasília, 24 out. 2023. Disponível em: https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2023/10/presidente-lula -recebe-roger-waters-no-palacio-planalto. Acesso em: 21 set. 2025.

CONEXEJ. Diplomacia das celebridades: o impacto nas relações internacionais. Disponível em: https://www.conexej.com/post/diplomacia-das-celebridades-o-impacto-nas-relações-inte rnacionais. Acesso em: 22 set. 2025.

IURY, M. Pink Floyd e política: um estudo das canções de Roger Waters. 2020. Monografia (Graduação em História) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia,2020. Disponível em: https://repositorio.pucgoias.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1160/1/Monografia%20-% 20Iury%20%282020%29.pdf. Acesso em: 22 set. 2025.

JACOBIN. Roger Waters tem razão. Jacobin Brasil, 11 maio 2023. Disponível em: https://jacobin.com.br/2023/05/roger-waters-tem-razao. Acesso em: 22 set. 2025.

NOBRE, Guilherme. A democratização da diplomacia: novos atores na oferta e demanda por serviços diplomáticos. 2015. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/281292920. Acesso em: 23 set. 2025.

ROLLING STONE. Show de Roger Waters em SP reflete polarização do atual cenário político brasileiro. 2023. Disponível em: https://rollingstone.com.br/noticia/show-de-roger-waters-em-sp-reflete-polarizacao-do-at ual-cenario-politico-brasileiro. Acesso em: 23 set. 2025.


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