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A relação entre Positivismo e Imperialismo



O imperialismo, em suas diversas manifestações históricas, é fruto da necessidade expansionista capitalista, impulsionada pelo discurso positivista. Neste artigo, vamos analisar de que forma ocorreu o desenvolvimento deste processo e como o imperialismo se deu e se dá dentro de uma lógica positivista.

O imperialismo, tal qual o concebemos, surge em meados do século XVIII como uma necessidade de expansão de mercados. Para que houvesse o suporte necessário para o desenvolvimento total do capitalismo, era imprescindível que os centros produtores buscassem novos mercados consumidores, bem como novas fontes de matéria-prima. Ocorre então uma nova colonização, principalmente da região africana. Para Lenin, em sua obra “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, o imperialismo é datado de início do séc. XX resultado da mudança do enfoque do capitalismo para uma fase financeira. Esta nova fase é marcada pela busca supracitada de matérias-primas, principalmente para a siderurgia e a indústria carbonista, e também pelos monopólios financeiros (concentração de capital em poder dos bancos, cartéis, trustes, sindicatos). Essa fase monopolista se inicia e se concretiza com o colonialismo, onde vai ocorrer a dominação política, econômica e territorial. Hoje sabemos que esse domínio territorial já não ocorre como antes, porém a dominação econômica, e em consequência política e cultural, é bastante visível, principalmente no período da pax americana (pós 1945).

O positivismo é uma corrente de pensamento surgida no século XIX, que tinha como pretensão buscar nas ciências sociais uma objetividade, tal qual as ciências naturais. Para tanto, os positivistas buscaram fazer uso de métodos utilizados pela física, biologia, fisiologia, etc., através de meios quantitativos. Essa quantificação da ciência social, a priori será uma fonte de pensamento e análise com pretensões utópicas (com anseio de mudanças, e não necessariamente fantasiosas); porém, com a queda do regime aristocrata após a Revolução Francesa, este método vai se transformar em uma fortíssima ideologia (destinada à manutenção da ordem) que influenciaria diversas áreas das ciências sociais. Michael Lowy, em seu livro “As Aventuras de Karl Marx contra o Barão de Munchhausen”, faz uma analogia entre o Positivismo e o “Princípio do Barão”. A situação que dá nome a este princípio é a seguinte: o Barão ao andar com o seu cavalo cai em uma areia movediça e, com o propósito de se salvar, prende o cavalo entre suas pernas e se puxa pelos cabelos, salvando sua própria vida e a seu animal. Para Lowy, ao propor uma objetividade axiológica nas ciências sociais, livre de preconceitos e distante das paixões, visivelmente impossível, os teóricos positivistas acabam caindo na “armadilha”, pois sua proposta de neutralidade é inviável, tal qual a estratégia do Barão.

Podemos citar o Direito, a Economia e a Sociologia como exemplos de disciplinas desenvolvidas com uma forte influência do positivismo, por tentar desenvolver leis gerais, ou por analisar de forma simplesmente quantitativa, elementos sociais. Elementos estes que estão sempre à mercê de acontecimentos históricos, de visões sociais, resultantes de momentos históricos diversos, em locais alternos.


Uma das consequências desta naturalização das ciências sociais foi o surgimento do que se denominou Darwinismo Social. As ideias de Darwin a respeito da evolução podem ser resumidas no pressuposto de que aquelas espécies melhor adaptadas ao seu habitat tenderão a se perpetuar, evoluindo de acordo com as necessidades impostas pelo ambiente. Não são as mais fortes, mas as que melhor se ajustam de acordo com a sua realidade. Transportando isso para a análise social (através do positivismo), desenvolve-se o conceito de sociedades relativamente avançadas, de acordo com determinados fatores. A intenção de se buscar uma neutralidade na análise social é inviável também neste caso, pois estes mesmos fatores selecionados como padrões de desenvolvimento social partem de uma determinada realidade, de uma determinada sociedade, em um determinado momento histórico.

Aquelas sociedades que ao longo dos anos sempre foram subordinadas aos anseios desenvolvimentistas do velho mundo e também dos EUA, como as sul-americanas e as africanas, por exemplo, estariam sempre caracterizadas como sociedades menos evoluídas, por fugirem do padrão civilizacional dos países centrais. Ora, se isto é colocado e aceito como verdade, existirá então um álibi para estas sociedades serem subjugadas. Bem verdade que o discurso imperialista colonizador está pautado sempre na suposta boa vontade de “civilizar” aqueles povos menos desenvolvidos, “menos civilizados”.

Este discurso de que os povos mais “atrasados” necessitam de intervenção do mundo desenvolvido geralmente é pautado pela premissa de ajuda, de cooperação, de altruísmo. Porém, o que está por trás deste palavrório?

As reais intenções serão necessariamente a busca pela extensão de poder em suas variadas formas. O imperialismo estadunidense é uma demonstração bem clara, pois este povo se entende desde o nascedouro de sua sociedade enquanto salvador do mundo, através da doutrina do destino-manifesto. Sempre que se fala em intervenção dos EUA a qualquer país que seja, há, subentendidamente, uma espécie de darwinismo social, ao tratar outras sociedades como inferiores, como menos evoluídas, e que o seu padrão ianque deve ser exportado para estas mesmas sociedades.


Porém, ao final destas pretensas boas ações, o que se vê como resultado é a melhoria referente às necessidades destes países ditos civilizadores. Seja na busca por petróleo, minerais, influência política, interdependência, ou que quer que seja, estes interventores saem sempre favorecidos, não havendo realmente intenção em ajudar, e sim em mascarar ações egoístas para abafar a opinião pública – que constitui importante ator, geralmente corrompido pela mídia que pertence a estes mesmos “altruístas”.

Há de buscar, portanto, uma compreensão e uma visão crítica a respeito do papel desempenhado pelas ideologias e suas raízes e frutos, que são determinantes na formação de um imaginário coletivo, de discursos e de ações que se demonstram dia-a-dia e que perpetuam ações das mais diversas, legitimando a dominação e a subjugação de povos, culturas e Estados. Como foi demostrado, o positivismo é um dos pilares do discurso imperialista, que, sem máscaras, se tornaria menos aceitável por aqueles que são suas vítimas ou meros espectadores.


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