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Foto do escritorNURI

Genocídio em Ruanda – O Massacre Negligenciado



Um dos maiores genocídios da história ocorreu na década de 90 em Ruanda e resultou em, aproximadamente, 800 mil mortes em 100 dias, segundo dados divulgados pela ONU. A partir de interesses imperialistas durante a sua colonização pela Bélgica, esse país acentuou as tensões entre as etnias tutsis e hutus que eclodiu na maior guerra civil dessa década. Mesmo com o conhecimento da ONU sobre a situação desse país, nada foi feito para impedir o massacre dessa população.

A divisão étnica na Ruanda teve início durante o século XVI, período anterior a sua colonização, quando tutsis imigraram para esse território, antes habitado somente pelos hutus, submetendo-os pela força e dando inicio a novos Estados. Até o final do século XIX, instaurou-se uma monarquia liderada pelo povo tutsi. Com o início da sua colonização, em 1890, a partir da conferência de Bruxelas, seu território foi entregue à Alemanha. Entretanto, com o desenrolar da Primeira Guerra Mundial e a posterior derrota da Alemanha, a posse desse Estado passa para a Bélgica em 1916.

Durante esse período, apoiada pela igreja católica, a Bélgica estabeleceu critérios segregacionistas para distinguir as etnias a partir de posses e características físicas, como formato do nariz, altura e cor da pele. Aqueles que possuíssem traços mais semelhantes ao dos europeus seriam tutsis, caso contrário, seriam hutus. Esse “esquema racial” serviu como pretexto para subjugar cerca de 80% da população, que era hutu, estabelecendo impostos mais altos, trabalhos forçados, e instituições de ensino separadas por etnia. Em 1933 as carteiras de identidade passaram a vir com carimbos explicitando a etnia de cada pessoa. Entre 1940 e 1950 a grande maioria dos estudantes era tutsi devido à desigualdade de ensino existente.

A primeira rebelião da população subjugada ocorreu em 1959, dando início a uma guerra civil. Estimulado pelos movimentos de independência vitoriosos que ocorreram nessa década na África e na América central, o rei da Ruanda, Mutara III, pede a independência da Bélgica e promete acabar com o trabalho forçado, mas é assassinado e sucedido por Kigeri V, gerando grande insatisfação entre os hutus. Em 1959, um rumor de que um dos políticos hutu, Dominique Mbonyumutwa, teria sido assassinado por razões políticas fez eclodir no país uma grande revolta, gerando milhares de mortes. Tentando amenizar o conflito, o governo Belga permitiu que novas eleições municipais fossem realizadas com a candidatura de políticos de qualquer etnia. Entretanto, tal fato não foi suficiente para impedir outro levante, resultando na expulsão de 100 mil tutsis da Ruanda. Dominique Mbonyumutwa sobreviveu ao atentado e foi nominado o primeiro presidente. Em 1965, a partir da pressão popular, deram-se inicio às eleições naquele país. Grégoire Kayibanda se tornou o primeiro ministro interino e em 1961 proclamou a república no país.

O governo que se estabeleceu no poder após a revolta hutu não conseguiu efetuar seu plano político adequadamente devido aos entraves econômicos e políticos estabelecidos pelas nações mais desenvolvidas aos Ruandeses. Buscando a manutenção do poder, assim como para conter a revolução popular, foi necessário que a burguesia africana se aliasse ao imperialismo europeu. Em 1962, por meio da ONU, Ruanda finalmente consegue sua independência.

Em 1963 a Frente Patriótica Ruandesa, uma guerrilha formada por rebeldes tutsis exilados, invadiu o país pelo território do Burundi, que ainda era governado pela aristocracia tutsi. Esse Estado foi originado a partir da divisão da Ruanda, imposta pela Bélgica em 1961, e permaneceu com o regime monárquico mesmo após a proclamação da República na Ruanda. Forças inglesas ameaçaram intervir no conflito para conter as tensões. A guerra étnica foi sustentada por países imperialistas que forneciam armamentos e impunham golpes militares no país. Durante esse período, milhares de tutsis foram mortos e muitos outros deixaram o país novamente, buscando refúgio em países próximos como a Uganda, Burundi e Tanzânia. Em 1973, Habyarimana destitui Kaybanda do poder, a partir de um golpe militar. Em 1978 foi eleito e governou até 1990.

Em 1989 houve uma queda do preço mundial da importação do café, impactando negativamente na economia do país, já que era um dos seus principais produtos para a exportação. Com essa diminuição, ocorreu uma das maiores crises alimentícias da região. Enquanto isso, o governo dos hutus aumentava os recursos para combater as revoltas populares.

Em abril de 1993 a ONU aprovou a resolução 872, intitulada “Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda”, Mianur, com o envio de 2.548 homens que tinham como objetivo conter os conflitos. Entretanto, as tropas foram quase completamente evacuadas semanas antes do genocídio. Em janeiro de 1994, um carregamento aéreo francês é destinado às forças armadas de Ruanda enviadas por Israel, Bélgica, França, Reino Unido, Países Baixos e Egito. Durante os próximos meses, os militares mataram 800.000 tutsis e hutus moderados. Em abril daquele ano os presidentes de Ruanda e Burundi foram assassinados. Esse conflito gerou grandes sequelas para o país que são perceptíveis na atualidade, possuindo um baixo IDH, e enorme índice de natalidade e mortalidade infantil.


Um dos fatores que mais contribuiu para que o número de assassinatos fosse tão exorbitante foi a demora da ONU em admitir que esse conflito, de fato, se tratava de um genocídio. Portanto, por não se tratar de um crime contra a humanidade, não haveria uma motivação forte o suficiente para intervir na batalha e agredir a soberania de um Estado. Além disso, Ruanda é um país localizado na África Central, sem muitos recursos atrativos para a economia, o que gerou pouco interesse nos Estados Unidos em amenizar o combate. A mídia também teve sua parte: pouco divulgou essa guerra civil, não sendo suficiente para mobilizar a opinião pública. As grandes potências estavam focadas em outros conflitos dessa década que poderiam ser economicamente mais lucrativos, como as guerras da Bósnia. Logo, deixaram a resolução do massacre em segundo plano.

 

BIBLIOGRAFIA:

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Ruanda: 800 mil mortos, 100 dias de massacre e 20 anos de lições. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2014/04/ruanda-800-mil-mortos-100-dias-de-massacre-e-20-anos-de-licoes> Acesso: 20/10/2015.


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