O fenômeno das drogas é mundial. No período de globalização, que se intensificou no fim do século passado, o consumo de drogas tem aumentado e se tornado um grande problema para os governantes dos mais variados locais do planeta. De acordo com uma pesquisa da UNODC[1] de 2010, países como Peru, Colômbia, Bolívia, Paraguai, México, Guatemala, Marrocos e Afeganistão são grandes exportadores de narcóticos para o resto do mundo.
Dos oito países citados seis são países latino americanos. Estes embora tenham diversos aspectos históricos e culturais muito diferentes, partilham de semelhanças no que diz respeito a sua estrutura interna e as desigualdades enfrentadas por suas populações. Um fato histórico em comum entre esses países foi a ocorrência, durante o período da guerra fria, de governos ditatoriais militares, o que desencadeou variados movimentos de guerrilha guiados por ideologias e movimentos de resistência, com exceção do México no qual o Exercito Zapatista de Libertação Nacional só vai explodir a partir da década de 90.
Atualmente alguns desses movimentos originados no fim do século passado ainda resistem. Um exemplo destes, que tem causado grande repercussão no debate sobre as drogas, são as Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia. No entanto, os governos militares que justificaram o surgimento desses movimentos já caíram em todos os países da América Latina e os movimentos de Guerrilha perdem forças visto que suas ideologias tornam-se base para discursos vazios que não justificam as ações violentas e criminosas desses atores. As FARC são hoje um grupo que está diretamente relacionada com o tráfico de drogas na Colômbia e é considerada por alguns países como os Estados Unidos, como um grupo terrorista. Mas afinal o guerrilheiro é um terrorista? É muito difícil distinguir na prática quais desses grupos não são guiados por uma ideologia política ou qual deles não busca se fortalecer através do terror.
Além das FARC, no Peru, o grupo Sendero Luminoso também é acusado de associar-se ao tráfico de drogas e causar problemas para o governo peruano que busca na repressão a solução para os problemas oriundos da violência e do tráfico de entorpecentes. Todavia, alguns grupos de guerrilha tal como o EZLN no México, já citado anteriormente e o Exercito de Libertação Nacional na Colômbia recusam-se veementemente a se associar com o narcotráfico, embora não apliquem uma postura pacífica em suas atividades.
As máfias e o crime organizado cresceram na mesma proporção que as conexões globais se intensificaram. O tráfico de drogas é uma fatia significativa da economia mundial e está infiltrado inclusive nos setores administrativos dos Estados produtores e receptores das drogas. Todavia esse poderoso comércio explora um grande número de pessoas mas restringe seu lucro para uma pequeno grupo de países produtores e intermediários bem como o Brasil. O lucro dos empresários que repassam a droga para os principais países consumidores, a exemplo dos Estados Unidos e dos empresários da lucrativa máquina de repressão que dependem da existência da guerra as drogas para garantir os seus empreendimentos torna o narcotráfico um problema ainda mais difícil de se combater.
Em outubro deste ano, o presidente colombiano Juan Manuel Santos ganhou o Prêmio Nobel da Paz pelo esforço de pacificação do país. Ele foi um dos líderes da negociação que chegou ao acordo de paz com as FARC. Em 2012, Santos abandonou a retórica linha-dura, retomou as negociações e chegou a um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, assinado em Setembro deste ano. O acordo, entretanto, foi rejeitado em referendo, tendo em vista que muitos eleitores viram o acordo como brando demais em relação à narcoguerrilha, tendo como principal opositor o ex. Presidente Álvaro Uribe. Este, durante o seu governo, contou com massivo apoio econômico dos EUA, para empreender a sua “guerra ao terror”.
[1] UNODC. Word Drug Report, 2010. United Nations Publication Sales No. E.10.XI.13. ISBN: 978-92-1-148256-0