A eleição do presidente da república Jair Bolsonaro em 2018 trouxe consigo influências de novos setores da sociedade brasileira para a gestão do governo federal, como o das igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais. Esta influência de sua base eleitoral fez com que decisões da política exterior fossem cogitadas, como o reconhecimento de Jerusalém como capital do Estado de Israel. Tal decisão, caso efetivada, embasada em preceitos religiosos do presidente e de seus eleitores, poderá prejudicar drasticamente as exportações para os países de maioria mulçumana, em especial a exportação de carne halal, o qual o brasil é o maior produtor do mundo, o que afetará a balança comercial brasileira.
Atualmente, o Islamismo é a segunda maior religião do planeta, com mais de 1,5 bilhão de adeptos, com estimativas de chegar a mais de 2,5 bilhões até 2050. A religião abraâmica ocupa principalmente as regiões de maioria etnicamente árabe como a região do Oriente Médio. Esta grande quantidade de pessoas é um forte mercado consumidor, em especial de proteínas halal, que são proteínas produzidas a partir de normas impostas por leis islâmicas, a xaria. O Brasil, após anos de aperfeiçoamento e investimentos, conseguiu se tornar o produtor número um de proteína permitida pela xaria, as vendendo em especial para o mercado do Oriente Médio.
Alguns dados mostram a importância deste mercado consumidor para as exportações brasileiras: 50% do total de frango exportado em 2018 foi frango halal; 20,8% das carnes bovinas eram halal; mais de 50% das importações de proteína animal dos países árabes vieram do Brasil; cerca de 10% das exportações agropecuárias e 6% de todas as exportações brasileiras foram de proteína “mulçumana”.
De acordo com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, as exportações de frango permitidas pela xaria para países árabes aumentaram 418% de 2003 para 2017. Cerca de 10 bilhões de dólares anuais são exportados para os países do Oriente Médio. E apesar de todas essas relações comerciais conquistadas pelo Brasil nos últimos 15 anos e todo o investimento no setor pecuário para a adaptação ao mercado halal, o Brasil já sofre as consequências da possível decisão presidencial de Jair Bolsonaro. A Arábia Saudita, país este o maior comprador de frango do mundo, já anunciou que comprará mais frango da Índia, diminuindo assim a importação do frango brasileiro.
Durante as eleições presidenciais de 2018, Jair Bolsonaro prometeu que as suas decisões governamentais sem embasamento ideológico, em especial na política externa, referindo que as políticas empregadas pelos governos anteriores foram determinados por suas ideologias. Porém, não é o que se vê, em especial na sua política externa, onde uma decisão de preceito religioso e eleitoral pode prejudicar drasticamente as exportações de um setor crucial da economia brasileira.
Não pode-se determinar o quanto as políticas exteriores do então presidente Jair Bolsonaro afastarão os países de maioria mulçumana da lista de compradores das mercadorias brasileiras, porém, já se é visto que tal afastamento é muito prejudicial para o futuro do país, tanto para exportações não apenas de proteínas ou produtos halal, mas também de matérias-primas, semimanufaturados e manufaturado. Com o avanço do governo atual, será observado o quanto as decisões ideológicas do atual presidente afetarão o futuro do Brasil.