Por: Danaila Almeida e Victor Hugo Batista, analistas internacionais.
No dia 3 de novembro de 2022 iniciou-se a AMUN (Amado United Nations), esta simulação da ONU proposta pelos alunos da Unijorge, é fundamental para compreender o funcionamento da assembleia mais cobiçada do mundo. Seguindo os ritos do modelo de assembleia da ONU, o Brasil discursou primeiro. A delegação brasileira apresentou-se diferente daquela do passado, onde falou-se que está livre do ‘’comunismo/socialismo’’, porém, será que um dia o país foi assim? Outro ponto interessante é a pauta da agricultura com baixo carbono, curioso, pois houve um aumento de 14% em plena pandemia, comparando com os números de 2019.
Durante a assembleia geral, a delegação dos Estados Unidos da América externou discursos que destoam da realidade da hegemonia norte-americana, escrúpulos teve o delegado para falar de um mundo como “terra arrasada’’, referenciando-se às inundações do Paquistão e valendo-se deste cenário para sair como benfeitor por causa das ajudas humanitárias ao país. O delegado estadunidense reiterou o compromisso com os direitos humanos, a autodeterminação dos povos e a democracia. Este último tornou-se um sustentáculo da política externa estadunidense. Entretanto, ao analisar as ações dos Estados Unidos no sistema internacional, denota-se contradições inequívocas.
A título de exemplo, tem-se as atuações dos Estados Unidos na subversão democrática dos países da América Latina e o apoio às truculências perpetradas por esses países no cenário de Guerra Fria. Assim como, a invasão ao Iraque, um ato unilateral fundamentado nas orientações de política externa presentes na Doutrina Bush. A argumentação acerca da existência de armas nucleares no Iraque tornou-se débil, mas não o suficiente para impossibilitar a invasão à nação iraquiana ,mesmo diante da negativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A derrocada de Saddam Hussein resultou no vácuo de poder e , por conseguinte, na luta de grupos armados que executam terrores contra a população civil.
A atuação dos EUA colaborou para tornar o Iraque um Estado falido. Salienta-se ainda as relações amistosas dos Estados Unidos com a Arábia Saudita - monarquia absolutista - , que viola continuamente os direitos humanos. Cabe citar, o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi . Nessa perspectiva, verifica-se que os discursos a respeito da democracia são por conveniência e expõe a faceta imperialista dos Estados Unidos disfarçada de liberdade, democracia e igualdade. Aspecto reiterado e criticado pelas delegações da China e da Rússia. Sob outro prisma, a invasão ao Capitólio deixou marcas na democracia estadunidense e pôs em xeque o lugar de “guardião da democracia mundial”. Quem poderia pensar que o congresso do hegemon do sistema internacional seria invadido?
A delegação de Israel esbanja em seu discurso de Estado forte, afirmando com veemência que está disposto a tudo pela segurança nacional, com foco em combate no terrorismo. Contudo, até onde vai essa obsessão por segurança e será que os delegados alguma hora tiveram consciência das barbáries que fazem em nome da ‘’liberdade’’ de sua nação? . Além disso, ressaltou as discriminações e hostilidades contra o povo judeu que perduram até os dias atuais desde o fatídico holocausto. Todavia, ao observar a atuação do Estado judeu, percebe-se os abusos promovidos pelos israelenses.
A história não deve esquecer-se das intifadas, um movimento palestino contra as opressões de Israel, cuja munição era paus, pedras e o desejo pela liberdade. A política opressora ainda praticada pelos israelenses são apoiadas pelos Estados Unidos que tanto enfatiza os direitos humanos, enquanto os palestinos têm os direitos de ir e vir restringidos. Hoje, essas ferramentas foram substituídas por mísseis que rasgam os céus destes Estados do Oriente Médio. Os litígios entre os atores supracitados continuam e com eles, o sofrimento da população. O aliado dos Estado Unidos, a Turquia aborda temas como ‘’paz com os vizinhos’’, uma contradição, visto que atualmente anda financiando/apoiando o Azerbaijão no conflito de Nagorno-Karabakh, fora o deplorável relacionamento com o povo curdo.
Tendo em vista que a temática da assembleia geral é a guerra no século XXI e os novos desafios para a agenda internacional de segurança, a delegação da Rússia posicionou-se favorável aos cenários belicosos, sob a justificativa que esses confrontos não são ilegais ou incorretos. Tal postura é colocada em prática na guerra com a Ucrânia. Assim como foi percebida na crise durante a assembleia proveniente do ataque contra o general Sergei Surovikin. Ao declarar abertamente o desejo de retalhar a ofensiva contra a Ucrânia respaldado na soberania- sem provas contundentes -, a Rússia tornou-se também um desafio para a agenda internacional de segurança, mesmo diante de negociações para investigar e conter a crise.
Nas discussões sobre a situação da América Latina e do Caribe, notou-se uma rápida fuga do real interesse de ajudar a região da violência, pobreza e outros. Por ser mais próximo de sua área de extrema influência, os EUA citou ataques contra as FARCs, ajuda humanitária e investimento de bilhões de dólares nos países centrais. Todos presentes pautaram a controversa situação da Nicarágua, onde todos foram a favor de sanções, contudo, a China foi a única a se posicionar contrário, tendo em vista que os problemas socioeconômicos poderiam ser acentuados. A delegação russa frisou o compromisso com a liberdade e a democracia.
No entanto, o cenário doméstico russo é marcado pelo retrocesso democrático e perseguição aos opositores políticos, tal como o político Alexei Navalny, preso por violar a sentença de um suposto peculato. Porém, atualmente, sabe-se que os próprios mecanismos democráticos são usados e manipulados para retirar os antagonistas do jogo político. E com Alexei Navalny não foi diferente. Por outro lado, apesar de pontuar a liberdade e a democracia, a Rússia fugiu escancaradamente do tema, abordando mais o seu país do que a real pauta de ajudar a região, citando que os países da américa latina precisam repensar em quem é o protagonista da guerra Rússia x Ucrânia.
Seguido pelo país luso, Portugal abordou a violência na América Latina, mas não apresentou soluções para mitigar o panorama. O cenário começa a melhorar quando apresentam uma ideia de futuro fundo monetário para a região com o intuito de ajudar no desenvolvimento, porém enquanto a reunião estava em andamento, a delegada sugeriu a troca de tema, o que ressalta que, talvez, não lhe interesse tanto. Além disso, a crise humanitária também tornou-se uma tônica quando os debates foram direcionados às agressões contra a República Democrática do Congo. As nações destacam os compromissos para mitigar os efeitos decorrentes desta conjuntura.
A delegação de Portugal enfatizou a ajuda humanitária de 54 bilhões de euros concedida pela União Europeia, bem como, reforçou a importância das missões humanitárias. E apontou a necessidade de levar os criminosos de guerra à corte internacional de justiça, postura similar à dos EUA. O representante da China também discursou sobre a ajuda financeira e humanitária que oferece aos outros países.
De fato, a potência asiática tem se saído na frente dos EUA por não implantar imposições culturais, intervir na política interna do país com o qual se relaciona. E além disso, deixou nas entrelinhas que não vai tolerar ações da forças americana para abalar a soberania chinesa, com o que tudo indica, questão de Taiwan. As demais nações indicaram a cooperação ,o multilateralismo e as vias diplomáticas enquanto instrumento de resolução das controvérsias na agenda internacional de segurança.
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