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Géssica Lima / OBSERVATÓRIO

A caminhada para a nova Guerra Fria: Estados Unidos e China e os novos avanço bélicos e tecnológicos

Atualizado: 10 de nov. de 2021



Quase 32 anos após o término da Guerra Fria que durou cerca de 42 anos, os Estados Unidos caminham para uma nova guerra fria com um novo adversário? Por que os avanços da China amedrontam tanto a terra do tio Sam?


A Guerra Fria foi um conflito não armado que teve início em 1947 e foi até 1989 entre os Estados Unidos e a União Soviética (URSS). Após o término da Segunda Guerra Mundial, onde ambas as potências - EUA e URSS - ao trabalharem juntas como aliadas saíram vitoriosas ao derrotarem seus inimigos em comum, fascismo e o nazismo. Entretanto, a vitória das duas grandes potências fez com que o mundo se tornasse bipolar, ou seja, com dois grandes pólos de poder: um de ideologia socialista (URSS) e o outro, capitalista (EUA), formando dois grandes blocos e fazendo assim que muitos dos países tomassem partido por um dos Estados. Assim, ambos buscavam aumentar sua área de influência, tanto por meios materiais – através da economia e do poder bélico – quanto por suas distintas ideologias.

Procurando se firmar como maior potência global, ambos iniciaram uma corrida armamentista na busca de aumentar sua área de influência, tanto por meios materiais (economia e poder bélico), quanto por suas distintas ideologias. A corrida armamentista tornou-se também nuclear: os Estados Unidos possuíam a tecnologia desde 1945, e a URSS realizou seus primeiros testes em 1949.

Estes conflitos significavam uma forma de guerra indireta entre Estados Unidos e União Soviética, de demonstrar seu poder e buscar aumentar sua influência nessas regiões. O componente ideológico também estava presente nesses confrontos: eram batalhas em que comunismo/socialismo e capitalismo se enfrentavam. Tendo fim apenas em 1989, após inúmeras guerras indiretas, patrocinadas pela União Soviética e os Estados Unidos, como a Guerra da Coreia (1950), Início da Guerra do Vietnã (1959), a Crise dos Mísseis (1961), graças ao declínio da ideologia comunista no mundo e a falência da economia soviética. A URSS lidava com vários problemas quando, em 1989, tomou a decisão de não utilizar a força para apoiar o governo comunista na Alemanha Oriental. O episódio da queda do Muro de Berlim marca o fim da Guerra Fria.

China e Estados Unidos vêm medindo forças abertamente no que foi denominado "guerra comercial"; uma disputa econômica entre países, caracterizada - dentre outros elementos - pela imposição de taxas ou cotas comerciais e alfandegárias, o que vem acontecendo pelo menos desde que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump assumiu a presidência daquele país.

Desde 2018, as relações entre as duas maiores economias do mundo tornaram-se fatigantes, marcadas por imposições de tarifas sobre produtos importados, barreiras comerciais e até acusações de espionagem. O objetivo do governo americano é dificultar a chegada de produtos chineses aos Estados Unidos, o que estimula a produção interna. O governo da China, por sua vez, tem reagido com retaliações, chegando a impor também tarifas sobre produtos norte-americanos. Mas, para além destes conflitos, a definição sobre quem será o protagonista da economia global nas próximas décadas é o que está em jogo, mas vale ressaltar que antes da guerra comercial, manobras decisivas foram postas em curso já no governo de Barack Obama em relação ao Oriente. Uma de suas prioridades foi a "política de reequilíbrio - rebalancing - em direção à Ásia-Pacífico” ou como é mais conhecido o “Pivô Para a Ásia” que afeta a China ao erradicar os direitos aduaneiros que ainda restam e interferência na elaboração de normas comuns sobre todos os produtos (alimentos, agrotóxicos, artigos industriais…), serviços (bancos, cooperativas de crédito, fundos de pensão etc), propriedade intelectual e litígio, praticamente nenhuma área da vida está a salvo das transnacionais.

Oliver Turner, professor do Departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade de Edimburgo e especialista em relações dos grandes países do ocidente com a China, acredita que há uma preocupação dos EUA de que o país asiático passe a representar um papel que por cinquenta anos foi protagonizado por eles: “Os Estados Unidos estão preocupados com a concorrência da China em muitas áreas, mas principalmente em termos de tecnologia. Isso inclui tecnologia militar, mas também inteligência artificial, 5G e assim por diante [...] Políticos americanos estão preocupados que a China se torne líder global nessas áreas e que comece a fornecer tecnologias ao mundo da mesma forma que os Estados Unidos têm feito há muitas décadas. Em última análise, eles estão preocupados que a China possa começar a 'escrever as regras' de como o mundo funciona, como os EUA fizeram por pelo menos 50 anos”, afirma Turner para o jornal Brasil de Fato.

Nos últimos 30 dias os Estados Unidos vêm demonstrando ainda mais preocupação com o avanço militar da China para o país e seus aliados. Em agosto deste ano a China testava um dos seus maiores avanços tecnológicos e armamentista, um míssil supersônico - o mesmo estava armado com uma ogiva nuclear - capaz de dar uma volta completa na Terra. Entretanto, os Estados Unidos e o mundo só tomaram ciência deste teste nesse mês de agosto, o que pegou as autoridades de surpresa.

Essa guerra comercial oferece riscos já que os Estados Unidos têm a maior economia do mundo e a China, a segunda. Por isso, se os dois países sofrerem consequências negativas dessa disputa, o temor é que outros países e a economia global como um todo possa ser impactada, em uma reação em cadeia, prejudicando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global.

Os EUA já competiram antes com outros países pela liderança global, mas a diferença agora é que a disputa está mais equilibrada, segundo Elias Masco Khalil Jabbour, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O diretor da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA (DIA), Scott Berrier, e o diretor-geral da Agência de Segurança Nacional (NSA), Paul Nakasone afirmam que a China representa um “grande desafio” para Washington e seus aliados. Eles fizeram essas reflexões durante uma audiência do Subcomitê de Inteligência das Forças Armadas da Câmara dos Representantes: "A China continua sendo um competidor estratégico de longo prazo dos EUA, como uma ameaça que representa um grande desafio de segurança: Pequim usa várias abordagens, incluindo espionagem diplomática, econômica e militar para atingir seus objetivos estratégicos", argumentou Berrier. Além disso, o chefe do DIA destacou que a China "continua sua modernização militar durante as últimas décadas para construir uma força incrivelmente letal" que poderia colocar os EUA e seus aliados "em risco".

Para Carlos Gustavo Poggio, professor do curso de Relações Internacionais da FAAP, “essa é uma disputa que está além da questão econômica, é uma questão geopolítica”, diz Poggio. “Estamos diante da primeira grande disputa geopolítica do século 21, entre duas superpotências.” disse em entrevista ao jornal digital G1.

O professor aponta que a disputa é resultado do crescimento rápido da China nas últimas décadas, que reordenou a lógica dos mercados consumidores e da produção em todo o mundo.

Tamanha é a preocupação atual do governo americano com os movimentos da China que Lloyd Austin, secretário do Departamento de Defesa americano sugeriu o estabelecimento de "uma linha de comunicação direta", no estilo do "telefone vermelho" que conectou a União Soviética e os EUA durante a Guerra Fria e que segue em funcionamento ainda hoje.


  • - Géssica Lima







REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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