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OBSERVATÓRIO | Isabela Pitangueira

A guerra no Iêmen: uma crise humanitária esquecida

Atualizado: 17 de mai.

A guerra no Iêmen é um conflito devastador que vem assolando o país há vários anos, resultando em uma crise humanitária de proporções alarmantes. O conflito começou em 2014, quando o movimento  Houthi, grupo xiita considerado uma milícia rebelde,  apoiados pelo Irã, tomaram o controle da capital, Sana'a, e  parte da região norte do país, enquanto o governo legítimo de Abd-Rabbu Mansour fugiu para o sul.


O conflito teve o seu ápice atingido em 2014, todavia, as suas raízes vêm da Primavera Árabe, de 2011, com a saída do presidente autoritário Ali Abdullah Saleh. Com a entrada do vice, Abdrabbuh Mansour Hadi teve que lutar contra diversas questões: ataques da Al-Qaeda, um movimento separarista no sul, além de corrupção, desemprego e insegurança alimentar. Logo, a minoria muçulmana xiita Zaidi do Iêmen se aproveitou dessa fraqueza do recente  governo para tomar o poder e se expandir. 



Posto isso, a situação rapidamente se deteriorou, com uma coalizão liderada pela Arábia Saudita  e apoiada por outros países árabes  intervindo para restaurar o governo legítimo iemenita, com o principal interesse de proteger a sua segurança e estabilidade, principalmente  Arábia Saudita que faz fronteira com o Iêmen, acreditando que os rebeldes houthis representam uma ameaça ao reino.


Desde então, o Iêmen tem sido palco de intensos combates, bombardeios aéreos, ataques com mísseis e confrontos terrestres, resultando em um alto número de vítimas civis, destruição generalizada e uma crise humanitária sem precedentes. De acordo com informações do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, mais de 21 milhões de pessoas precisam de ajuda e proteção no país.  A falta de acesso a alimentos, água potável, cuidados médicos e saneamento básico levou o país a uma crise humanitária terrível. Segundo dados divulgados pela ACNUR Brasil,  93% da população se encontra em extrema vulnerabilidade, precisando de assistência humanitária urgente. A desnutrição, a propagação de doenças evitáveis e a falta de abrigo adequado são apenas algumas das consequências trágicas dessa guerra prolongada.


Além disso, o Iêmen tem sido palco de confrontos regionais e uma arena para rivalidades geopolíticas por ser uma área de importantes rotas marítimas do Mar Vermelho, que são fundamentais para o comércio internacional e para o transporte de petróleo. A intervenção estrangeira e o fornecimento de armas a ambos os lados do conflito têm exacerbado a crise e prolongado o sofrimento do povo iemenita.


Com os insuficientes esforços da comunidade internacional para buscar uma solução política e humanitária, a guerra continua a devastar o país. Muitos iemenitas não conseguem sair dos territórios em conflito por não terem os recursos necessários, tendo que se submeter a viver em cidades cheias de escombros e sendo alvos fáceis dos bombardeios ativos nas áreas. Um exemplo disso é o caso dos irmãos  Bader al-Harbi e Hashim que desde 2022 carregam cicatrizes da guerra, por terem sido atingidos por um bombardeio organizado pelos rebeldes houthi quando voltavam da escola, traumatizados física e psicologicamente os meninos nunca mais retomaram os estudos. 


A necessidade urgente é colocar um fim imediato ao conflito, permitindo que a ajuda humanitária chegue às pessoas necessitadas, além de promover negociações de paz inclusivas e sustentáveis que envolvam todas as partes envolvidas. 


O povo iemenita merece uma chance de reconstruir suas vidas e seu país. É crucial que a comunidade internacional intensifique seus esforços para encontrar uma solução pacífica e duradoura para o conflito no Iêmen, garantindo assim um futuro mais estável e próspero para essa nação martirizada pelo sofrimento.  No entanto, com 8 anos que dura a guerra e sem a chegada de uma resolução definitiva, a crise humanitária no Iêmen parece ter caído no esquecimento das grandes potências, até mesmo para aquelas que têm um interesse direto na posição estratégica que o país ocupa. 


Posto isso, os iemenitas temem que a sua situação de extrema vulnerabilidade seja fácil de ignorar pelo  atual cenário internacional  com a guerra na Ucrânia ainda em vigor, que se deu no ano passado em virtude do presidente da Rússia,  Vladimir Putin,  colocar em ação uma "operação especial"  invadindo o país ucraniano, após o mesmo tentar fazer parte do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) . E o estouro recente de mais um conflito entre o Estado de Israel  e Palestina, em que o grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou, no dia 7 de outubro, um ataque surpresa a Israel, ao qual o governo israelese respondeu com bombardeios e anunciou uma ofensiva por ar, terra e mar contra o território. 


Ademais, com os grandes cortes de custos que  as agências de ajuda humanitária como o Programa Mundial de Alimentos estão tendo que fazer para todo o país, casos semelhantes ao de Hassan Ali, um bebê de 10 meses que depois de seis dias internado em um hospital morreu de desnutrição, sendo mais um entre tantas ocorrências de vidas perdidas que se convertem em estatísticas nos escassos dados divulgados pelos veículos de comunicação. Segue abaixo um gráfico que mostra a quantidade de  crianças que estão em tratamento contra a fome no Iêmen. 


Mapa: CNN Brasil Fonte: Integrated Food Security Phase Classification Dados de: © OSM Criado com Datawrapper


Portanto, tanto o desprovimento de esforços eficientes por parte da comunidade internacional - como a não realização dos corredores humanitários que foram idealizados pela coalizão liderada pela Arábia Saudita em conjunto com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) - quanto a carência de informações sobre o conflito devido o desinteresse das mídias globais em veicular o cenário conflituoso e as atualizações sobre guerra implicam na concepção de negligência da ONU e outras entidades de poder sobre o que continua acontecendo no país do Oriente Médio. Posto isso, a quantidade de informações desconhecidas contidas na presente produção textual comprova quão esquecida é a crise humanitária que a anos assola o Iêmen.


 

Referências


Por que há uma guerra no Iêmen e qual é o papel das potências internacionais. BBC News Brasil, 2018. Disponível em:  URL: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46322964. Acesso em: 13 de out de 2023.


Iêmen - ACNUR Brasil.  ACNUR Brasil, 2015. Disponível em URL: https://www.acnur.org/portugues/iemen/. Acesso: 13 de out de 2023


Iêmen: a guerra 'esquecida' que deixa milhares de crianças feridas e passando fome.  BBC News Brasil, 2023. Disponível em URL: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3gz5q58vgwo. Acesso: 13 de out de 2023.


Quem são os hutis, os rebeldes que derrubaram o governo do Iêmen - BBC News Brasil.BBCNewsBrasil,2015. Acesso em URL: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/01/150123_huties_rebeldes_saudita_fn. Acesso em: 13 de out de 2023


Tumulto no Iêmen resulta em pelo menos 85 mortos e 322 feridos. G1, 2023. Disponivel em:


Bloqueio de navios pelos sauditas agrava a fome extrema no Iêmen. CNN Brasil, 2015. Acesso em: URL: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/bloqueio-de-navios-pelos-sauditas-agrava-a-fome-extrema-no-iemen/. Acesso em: 15 de out de 2023


Três corredores humanitários serão abertos no Iêmen. Estado de Minas, 2018. Disponível em URL: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/09/24/interna_internacional,991238/tres-corredores-humanitarios-serao-abertos-no-iemen.shtml. Acesso em 15 de out de 2023. 


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