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Stella Nunes

A reação da comunidade internacional à reeleição de Alexander Lukashenko em Belarus


Após o último dia 9 de agosto, o mundo voltou os olhos para a situação política em Belarus, país localizado no Leste Europeu que preserva a herança histórica do período em que fez parte da União Soviética. Com a nova eleição que manteve o presidente Alexander Lukashenko no poder, Minsk, capital do Estado, se tornou o cenário principal dos maiores protestos da história do país contra o resultado eleitoral.

Considerado como o “último ditador da Europa”, Lukashenko alcançou a presidência de Belarus em 1994 para um mandato que se encerraria em 2001, contudo, foi reeleito por cinco vezes. A eleição deste ano é apontada como fraudulenta, tendo em vista que a líder e candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, era favorita para assumir o cargo e não houve a participação de organismos internacionais durante o processo eleitoral e durante a apuração dos votos que indicaram vitória de Lukashenko com 80,1% da aprovação do eleitorado, segundo a Comissão Eleitoral Central (CEC) bielorrussa.

A veracidade da reeleição do presidente é contestada pela população e pela comunidade internacional, que deram como prazo o dia 15 de setembro para que o governo realizasse uma nova votação. Apesar da forte presença de símbolos que saúdam o período soviético, a juventude bielorrussa apresenta uma abertura aos ideais ocidentais e democráticos, em contradição ao que é proposto por Lukashenko, que se posiciona de acordo com os alinhamentos do governo de Vladimir Putin, da Rússia.

O populismo de Tikhanovskaya reflete a insatisfação dos cidadãos com o governo autocrático e repressor e a crescente crise econômica. Em maio, com a prisão de seu esposo, Sergei Tikhanovskaya, Svetlana se tornou o principal nome para a abertura democrática com o apoio de outros candidatos opositores ao atual governo. O resultado das urnas fez com que Tikhanovskaya buscasse refúgio na Lituânia, onde conseguiu contato com outros chefes de Estado e com a União Europeia (UE) - que também contestam o resultado da eleição.

A Rússia é considerada como a peça fundamental para tirar Belarus da crise, pois, disponibilizou ajuda financeira a Lukashenko, além de oferecer assistência política e envio de policiais para o país vizinho. O governo Lukashenko incentiva a coerção policial à medida que cresce o número de detidos e presos políticos durante as manifestações pacíficas.

O presidente francês Emmanuel Macron tem se posicionado quanto à situação em Belarus. Em entrevista ao Journal du Dimanche no último dia 26, Macron expressou apoio aos manifestantes e declarou que Lukashenko “tem que sair” da presidência. Ademais, o presidente francês prometeu apoio à líder opositora e também demonstrou interesse em mediar o impasse político que se instaurou no país. Na mesma entrevista, Macron citou uma conversa com o presidente russo para que este auxiliasse na resolução da crise em Belarus e deixasse de apoiar o atual governo.

Ao longo dos anos, o ditador bielorrusso mantém estratégias geopolíticas que ajudaram na manutenção do bom posicionamento com a União Europeia ainda que sua aproximação com a Rússia fosse mais expressiva, mas essa relação foi abalada com o resultado das últimas eleições. A UE também não reconhece a legitimidade da reeleição de Lukashenko e condena o uso da força policial nos protestos pacíficos e a preservação dos direitos dos cidadãos para uma nova votação “inclusiva, transparente e confiável”. Segundo Charles Michel, representante do Conselho Europeu, a UE aplicará sanções aos envolvidos na fraude eleitora.

A União Europeia apresentou à Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, relatos da repressão massiva em Belarus, que se assemelham ao modo como o governo agiu contra a oposição após as eleições em 2010. Além disso, pediu um relatório sobre a situação dos direitos humanos em Belarus durante e após o processo eleitoral deste ano, e a liberdade para os que foram presos por se oporem ao atual governante. Entretanto, a delegação bielorrussa defende a soberania do governo e a legitimidade de ações para assuntos internos. Utilizando do princípio da não-ingerência, se opôs aos pedidos feitos pela União Europeia e pela ONU para diálogos referentes à situação dos direitos humanos e seus argumentos ganharam apoio do representante russo.

Ao passo que o regime se torna mais autoritário, a sociedade internacional busca um modo de intervir e assegurar a democracia em Belarus. Ainda que os posicionamentos dos Estados europeus contestem a legitimidade da reeleição de Lukashenko, há cautela nos pronunciamentos em apoio a Tikhanovskaya para evitar a intervenção russa ou o início de conflitos militares na região pacificada desde as tensões na Criméia.


REFERÊNCIAS:

Alexander Lukashenko: como o ‘último ditador da Europa’ se mantém há tanto tempo no poder?. BBC. 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53833353> Acesso em: 28/08/2020


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Comissão eleitoral de Belarus confirma vitória do presidente Lukashenko. EFE. Moscou. 2020. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2020/08/14/comissao-eleitoral-de-belarus-confirma-vitoria-do-presidente-lukashenko.htm> Acesso em: 29/09/2020


ERLANGER, Steven. E.U. rejects Belarus election, without demanding a new one. The New York Times. 2020. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2020/08/19/world/europe/eu-belarus-election.html> Acesso em: 29/09/2020


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SAHUQUILLO, María R. Svetlana Tikhanovskaya, líder opositora: “Fraudaram as eleições. Sou a presidenta eleita em Belarus”. El País. Minsk, 2020. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/internacional/2020-08-27/svetlana-tikhanovskaya-lider-opositora-fraudaram-as-eleicoes-sou-a-presidenta-eleita-de-belarus.html> Acesso em: 29/09/2020


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WEIR, Fred; SHUNTOVA, Tatiana. Why Russian aid for Lukashenko doesn’t end Belarus crisis. The Christian Science Monitor. 2020. Disponível em: <https://www.csmonitor.com/World/Europe/2020/0915/Why-Russian-aid-for-Lukashenko-doesn-t-end-Belarus-crisis> Acesso em: 28/09/2020



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