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OBSERVATÓRIO

Análise 04/11 - Segunda sessão ONUM

Por: Katharina Brito e Júlia Moura, analistas internacionais

O segundo dia de negociações no comitê ONU Mulheres contou tanto com discussões mais calorosas, quanto com um maior foco ao tema e agenda propostos pela mesa. Tópicos como a cultura patriarcal nos países foram trazidos pelos delegados, que se mostraram mais preocupados em pontuar situações especificas de violência contra as mulheres praticadas por alguns estados presentes, a fim de posteriormente pensarem em soluções para o tema.


Logo no início da sessão de hoje a delegada da Federação Russa trouxe a questão do orientalismo para as pautas de discussões, ao alegar que as demais delegações estavam fazendo uso de discursos ocidentalizados e negligenciando a situação das mulheres do leste global. Em entrevista para a assessoria de imprensa, a delegada da Rússia explica esta questão ao afirmar que muitos países adotam o ideal estadunidense e europeu, e relaciona isso como um dos causadores dos diversos ataques que alega sofrer por parte das outras delegações. No que diz respeito aos alegações direcionadas a Rússia, a delegada do Japão relembrou a situação de guerra na Ucrânia, na qual crimes contra a humanidade são cometidos e a Indonésia reintera esta questão, aborbando os casos de estupro sofridos pelas mulheres ucrânianas. A Rússia por sua vez alegou que ninguém tem provas concretas sobre soldados russos estarem envolvidos em casos de estupro, como fotos e videos, e Indonésia posteriormente se retrata por sua fala.


Já a conjuntura do Afeganistão entrou nas discussões após o delegado do Afeganistão afirmar reconhecer o direito das mulheres, mas destacar que tal reconhecimento será feito nos limites do islã, que é a religião oficial do seu país. Além disso, o representante deste país pede o reconhecimento do governo estabelecido pelo Talibã em seu país, que retornou ao poder em 2021, e exalta o que afirmou ser a importância deste grupo nas questões de segurança e defesa do seu território. Acusa, ainda, os Estados Unidos por invasões no Oriente Médio. Neste contexto, a delegada do Japão acusou o Talibã de ser terrorista e ainda relembra acordos do Talibã com os Estados Unidos. O acordo refere-se à retirada das tropas americanas e da OTAN do território do Afeganistão e o retorno do Talibã ao poder tem relação direta com este feito.


A delegação do Japão dialogou acerca da indisponibilidade dos Estados em assumir as consequências do seu erro, mas ainda demonstrou não querer discorrer sobre seu histórico de agressão à Coreia, como bem pontuou a delegada da Rússia. O Japão utilizou por diversas vezes o tom irônico, ainda ao elogiar o discurso da delegação da Rússia e pedindo para que ela proponha soluções, em vez de somente pedir para que as outras delegações proponham. Anteriormente a delegada da Rússia tinha se posicionado novamente contra a violência sexual como crime de guerra e se esquivado da pauta sobre a situação das mulheres que vivem nas regiões de conflito entre Rússia e Ucrânia, demonstrarndo querer discutir sobre as mulheres que estão sendo mortas e sequestradas no mundo todo. Além disso, a delegada do Japão afirmou que a hipocrisia deve ser algo sedutor, para ser tão utilizada pelas delegações, que declaram estarem comprometidas com os direitos das mulheres. Entretanto, na prática esse comprometimento não se mostra presente.


A situação na China virou pauta durante as sessões após a delegada da Armênia acusar o país em ser especialista em gravidez forçada e em tortura às mulheres. Posteriormente a delegada afirmou não estar diante de delegados omissos e por isso pede por não omissão ao caso das mulheres na China. Como resposta, a delegada da China anunciou que seu país está tentando responder os problemas que ocorrem em seu país. Segundo o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional “por gravidez à força entende-se a privação ilegal de liberdade de uma mulher que foi engravidada à força, com o propósito de alterar a composição étnica”. Todavia, a China sofre denúncia por esterilização forçada de mulheres, assim como outras acusações de querer diminuir a população uigur, muçulmanos que vivem na região próxima à fronteira com o Afeganistão. Após a denúncia, a China emitiu uma carta à CNN em que nega qualquer tipo de violação dos direitos humanos, mas a delegação da China não negou as acusações da delegada da Armênia.


As relações históricas foram colocadas em crise durante as discussões, quando a delegação da Rússia demonstrou não entender porque há um certo descontentamento da Armênia, em suas falas, em relação à nação russa, apesar da Rússia e Armênia terem um laço de cooperação político-militar. Já a delegada da Armênia nega descontentamento com a Rússia e mostra justamente o oposto, que preza pela relação das duas nações. Ao analisar esta situação, a delegada do Japão classificou como vassalagem e suserania, em que a Armênia seria o vassalo e a Rússia seria o suserano.


Um dos momentos de maior tensão ocorreu quando a delegada da Armênia chorou ao relatar a situação das mulheres do seu país, que sofrem com o conflito Nagorno-Karabakh, enquanto acusava todas as outras delegações de assassinos, principalmente o Japão, por matarem seu povo e negligenciarem a situação em seu país. A acusação de negligência parte da questão que as outras delegações ainda não terem se prontificaram para ajudar a população armênia, até aquele momento, mesmo após a delegada ter clamado por ajuda no dia anterior. Com o andamento das negociações, as delegações se prontificaram, principalmente no que tange ao acolhimento de mulheres refugiadas.



Para ficar na memória:


  1. União inquebrável entre Armênia e Rússia ao decorrer da sessão, tão unidas que parece que voltaram a 1970, quando todos eram um só

  2. Até defesa do Talibã tivemos hoje, isso não era pra ser a favor dos direitos das mulheres?

  3. Armênia e Japão num bate boca sem parar, bom para o entretenimento, as vezes tava até vendo um show de comédia

  4. Brasil calado e irrelevante, achei um ótimo reflexo do comportamento brasileiro na política externa do atual governo

  5. O ego do Japão super inflado, se aumentar mais explode e ainda consegue começar outra guerra com a explosão



Nota de esclarecimento: Durante a conferência de imprensa, uma das repórteres fez uma pergunta que criticava o uso obrigatório da burca, imposto pelo grupo fundamentalista religioso. Porém muitos interpretaram como uma crítica contra o uso da burca no geral, no entanto, como foi dito, a crítica e repúdio é contra a obrigatoriedade que o Talibã impõe sobre o uso da burca. Assim, tirando das próprias mulheres o direito de escolher se irá ou não usar tal artefato.



 

Referências:

Relatório acusa a China de esterilizar a população uigur. G1, 2020 . Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/06/29/relatorio-acusa-a-china-de-esterilizar-a-populacao-uigur.ghtml

Após denúncias, governo da China nega esterilização forçada de mulheres. Revista Crescer, 2020. Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Gravidez/noticia/2020/09/apos-denuncias-governo-da-china-nega-esterilizacao-forcada-de-mulheres.html




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