Análise 18/09 - Da Cooperação à Crise: O Colonialismo Digital em Debate no SPECPOL - AMUN 2025
- nuriascom
 - 19 de set.
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Por: Lorena Gama, Maria Rita Souza, Marceli do Carmo, Lorena Gama e Nicole Almeida
A sessão iniciou-se com duras críticas ao chamado colonialismo digital, mas nenhuma delegação apresentou, de fato, uma proposta concreta para enfrentar as problemáticas levantadas. Nos primeiros momentos, os discursos enfatizaram a necessidade de cooperação entre países; apenas em seu terceiro pronunciamento a delegação do Reino Unido rompeu com o tom predominante ao questionar a eficácia dessas falas generalistas e como as agendas mencionadas poderiam ser efetivamente implementadas.
A primeira agenda aprovada, proposta pelo Haiti e patrocinada pelo México, deu novo fôlego aos discursos, que passaram a ser conduzidos principalmente por essas duas delegações e pelo Reino Unido. Em contraste, a delegação norte-americana, após longo período afastada do debate, criticou a postura de Estados como Egito e Reino Unido, acusando-os de apoiar uma agenda que não defendem com convicção.
Outro ponto notável foi o silêncio da República Democrática do Congo, intrigante dado o peso do país no fornecimento de minerais estratégicos para as grandes potências tecnológicas, como os Estados Unidos e a ausente China. Nesse vácuo, os EUA retornaram para reafirmar sua posição de liderança no setor, embora fosse o México quem mais defendia a integração econômica e o livre-comércio, postura que levanta dúvidas sobre a fidelidade de algumas delegações às políticas externas reais de seus países.
À medida que a sessão avançava, os discursos tornaram-se repetitivos a ponto de a delegação do Irã criticar a negligência em relação às agendas nacionais e ao tema central do comitê. O debate não moderado abriu espaço para comentários mais incisivos, inclusive para a manifestação de contradições. Os Estados Unidos, por exemplo, questionaram se a criação em massa de aplicativos não traria riscos de vazamento de dados, apontamento que expôs tensões latentes no discurso da própria potência.
Foi nesse momento que surgiram propostas surpreendentes: blocos regionais, alianças improváveis como Brasil e Reino Unido ou Rússia e Irã, além da inesperada aproximação entre Haiti e Estados Unidos. O Haiti chegou a propor, no documento de trabalho, a criação de um órgão da ONU para supervisionar o cumprimento das metas estabelecidas. No entanto, considerando as frequentes menções à soberania, tal sugestão soou contraditória em relação aos princípios que muitos Estados defendiam.
A crise instalada revelou-se o ponto alto da sessão. Os limites da soberania, a proteção de dados e o papel das potências no sistema internacional geraram embates intensos entre Estados Unidos, Haiti, Israel e Reino Unido. O México, que antes liderava o debate, foi acusado de comportamento “infantil”, acentuando o tom conflituoso. Enquanto isso, algumas delegações, como Moçambique, permaneceram alheias ao debate, entretidas em conversas paralelas e registros fotográficos, em contraste com o cenário de crise que se desenrolava. Um momento inesperado veio da Nigéria, que, após pouca participação, sugeriu a suspensão temporária de impostos. A proposta foi imediatamente barrada por Haiti e EUA, apesar das insistentes tentativas de interrupção da delegação israelense.
O primeiro dia de SPECPOL encerrou-se de forma confusa. Reuniu uma sequência de inconsistências: debates circulares, ausência de participação efetiva de delegações como Argélia, Filipinas, Argentina, Brasil e Palestina, contradições em relação às políticas externas reais dos países representados e uma crise que, embora tenha culminado na entrega de um documento, não ofereceu resolução clara às agendas previamente aprovadas.

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