top of page

Análise 18/09 - Entre Conflitos e Contradições: O Primeiro Dia do Comitê C-34 - AMUN 2025

  • Foto do escritor: nuriascom
    nuriascom
  • 19 de set.
  • 3 min de leitura

Por: Daví Franca, Iasmin Cardoso, Mariana Santos e Vitória Rios


O início dos debates

O primeiro dia de discussões do Comitê Especial sobre Operações de Manutenção da Paz das Nações Unidas (C-34), na Amado Model United Nations 2025 (AMUN 2025), foi marcado por forte tensão e divergências profundas entre as delegações.

Logo na abertura, a Albânia chamou atenção ao citar crimes de guerra e atos de genocídio históricos na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, afirmando representar os Balcãs e até a União Europeia, bloco do qual sequer faz parte. Na sequência, a Alemanha acusou a Sérvia de conduzir ataques sistemáticos com fins de limpeza étnica, enquanto a Argentina adotou uma postura crítica à ONU, chamando-a de entidade “inerte e demasiadamente burocrática”. Em sua fala, a delegação argentina ainda atribuiu o massacre de Srebrenica ao “colapso do socialismo”, encerrando o discurso com uma frase polêmica de viés extremista.

O Bangladesh buscou recorrer a metáforas pouco consistentes em sua crítica à ONU, enquanto a Bósnia, peça central do debate, defendeu o multilateralismo e clamou por uma intervenção imediata em seu território, citando o cerco de Sarajevo como exemplo da gravidade da situação. A China reforçou a necessidade de justiça, mas destacou sua posição em defesa da soberania estatal e da rejeição a ações unilaterais.

Os Países Baixos, que tiveram tropas diretamente envolvidas nos eventos históricos de Srebrenica, adotaram um tom emotivo e moralista, enquanto a Turquia classificou o massacre como genocídio — embora, paradoxalmente, até hoje negue o genocídio armênio de 1915-16. Já a Iugoslávia protagonizou o discurso mais polêmico do dia, negando o caráter genocida dos acontecimentos, alegando perseguição prévia contra sérvios e defendendo a narrativa de uma “Grande Sérvia”.



Escalada de tensões

O debate rapidamente ganhou tom conflituoso. As farpas entre Países Baixos e Iugoslávia abriram uma série de réplicas, nas quais a delegação iugoslava questionou a legitimidade da independência da Bósnia e da Croácia e criticou duramente os EUA, acusando-os de posturas bélicas. Diversas delegações passaram a confrontar diretamente o discurso da Iugoslávia, até que os Estados Unidos intervieram, pedindo foco na agenda e criticando as provocações excessivas.

Ainda assim, os embates prosseguiram. A China cobrou da Bósnia um posicionamento mais claro e insistiu em questionar a eficácia da ONU, enquanto o Bangladesh defendeu uma intervenção militar sob comando da organização. A Argentina, por sua vez, voltou a relacionar a violência ao socialismo, aprofundando seu discurso ideológico.

A discussão voltou a se acirrar quando a China questionou o papel dos EUA na condução da agenda, por não serem parte central do contexto balcânico. Em resposta, a delegação norte-americana reforçou sua posição de maior potência militar do mundo e defendeu a intervenção armada como única alternativa realista à utopia pacifista.



Uma crise inesperada

No auge das discussões, o comitê foi surpreendido por uma crise repentina: um vídeo revelou a execução de um líder da operação de paz da ONU e a captura do delegado do Irã em território holandês. As acusações iniciais apontaram para uma ação conjunta da Albânia e da Iugoslávia, em aparente contradição com seus discursos anteriores de defesa dos direitos humanos.

O choque se intensificou quando o delegado iraniano reapareceu ferido, confirmando as acusações. O episódio gerou novos embates, com a China responsabilizando os Países Baixos por falhas de segurança, enquanto as delegações da Albânia e da Iugoslávia, em um movimento inesperado, assumiram responsabilidade pelo ocorrido e prometeram cooperação.

As acusações mútuas logo degenerou em novos ataques verbais: os Países Baixos ironizaram a postura da China, acusando-a de transformar o comitê das “Nações Desunidas”. A Bósnia, por sua vez, questionou a credibilidade de Albânia e Iugoslávia em assumir responsabilidades, dada a contradição entre discurso e prática.



Uma conclusão entre impasses e disputas narrativas

O desfecho do primeiro dia mostrou um comitê fragmentado, dividido entre propostas de intervenção militar, defendidas principalmente pelos Estados Unidos, e apelos ao multilateralismo, em especial pela China. As discussões, embora permeadas por ataques pessoais e acusações infundadas, também evidenciaram a dificuldade em se construir um consenso em torno de temas tão sensíveis quanto às operações de paz, soberania e reconhecimento de genocídios.

Entre contradições, narrativas disputadas e a crise inesperada, o C-34 na AMUN 2025 revelou que, no palco diplomático, os embates de memória histórica e legitimidade política continuam a pesar tanto quanto os esforços de cooperação multilateral.


 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO NURI ©‎
bottom of page