top of page

Análise 18/09 - PIZZA, VETO E ESPIONAGEM: O SHOW DIPLOMÁTICO DO PRIMEIRO DIA NO CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS (CSNU) - AMUN 2025

  • Foto do escritor: nuriascom
    nuriascom
  • 19 de set.
  • 4 min de leitura

Por: Andrew Costa, Lucas Bastos, Samantha Ellen e Steffani Narrane


O primeiro dia da AMUN 2025 iniciou-se através da defesa da agenda elaborada pela Federação Russa. A delegação trouxe a ideia de cooperação através da lente diplomática da potência do leste-europeu, com princípios sul-globalistas, regionalista e multilateral, de acordo com os senhores delegados. 

Unanimemente, a agenda passaria. Porém, a delegação dos Estados Unidos, guiada pelo costume de ser um adversário histórico, deu início a séries de debates não tão diplomáticos que permearam o dia.  Em resposta, a Rússia destacou a necessidade de que sua agenda fosse seguida à risca como a única solução para o sucesso do comitê.

A Delegação dos Estados Unidos questionam dois tópicos da agenda russa e os classificam como “redundantes”, assim como também declararam o repúdio a qualquer tipo de invasão à segurança nacional e cibernética, o que é uma afirmação historicamente duvidosa.

Durante a defesa russa de sua agenda, foi-se notando a formação de aliados que definiriam os blocos ideológicos das delegações no comitê, com destaque ao trabalho em conjunto nem um pouco esperado de Rússia, China, Brasil e Índia. Além disso, construiu-se uma aliança Sul-Sul entre Índia e Nigéria, Austrália, Malásia e França. 

Em sua única participação em todo o comitê, a África do Sul ressaltou a honra em participar do debate e disse que o tema acomete a paz e ameaça a soberania dos Estados. Após isso, a delegação manteve-se alheia à discussão e, enquanto o circo pegava fogo, assistia ao debate comendo uma pizza com refrigerante.

A Austrália, crítica nos debates, declarou preocupação com a intensificação das tensões na região, que afetariam a previsibilidade jurídica e ressalta que o direito do mar deve ser seguido de forma integral. “Precisa-se garantir que as ameaças não vigorem a nível regional e global”. Também, enquanto ninguém até o momento parecia criticar as contradições chinesas, a delegação do país do cangurus cita diretamente a China e diz que o discurso inicial foi contraditório, pois a linha de nove traços é uma violação da soberania.

O Brasil, sempre diplomático, ressaltou a importância da região e seu compromisso com a não intervenção, cooperação e multilateralismo. Também ressaltou que a nação brasileira ocupa posição estratégica e representante do Sul global.

A França refletiu sobre os perigos no mar do sul da China e condenou a militarização. O país tricolor destaca seu lema “liberdade, igualdade e fraternidade" e a importância da soberania das nações. Diz que todos os países têm direitos de decidir por si o que será feito. 

Se opondo à China, a Índia se apresenta como “o futuro do continente asiático” e define as rotas marítimas como um tabuleiro que define o futuro de potências mundiais. Após isso, a delegação do Iraque diz ser necessário reconhecer que a corrida armamentista está começando outra vez, além de ressaltar que não aceitará ser usada por grandes potências. Depois de tudo, dispara: “falhar nesse comitê é falhar no futuro da humanidade” 

A delegação nigeriana afirmou que a biodiversidade é afetada pela militarização do mar. Durante as sessões, a Nigéria foca seu discurso na questão ambiental outra vez, mas parece ser a única delegação preocupada com o tema, já que o foco das outras delegações parece excessivamente militar.

Malásia disse visar cooperação entre todas as nações, em principal as nações que não são tão favorecidas com capital, mas não obteve resposta, já que China e Estados Unidos começam uma nova disputa entre delegações, apontando erros e desviando do foco do debate

Como implícito, os debates estavam sendo monopolizados por países do norte global e algumas lideranças do sul global, escanteando os países da periferia do sul. Enquanto China, Austrália e EUA tomavam conta do debate, as outras delegações foram relegadas apenas ao balançar de suas mãos e seus braços como forma de apoio ou repúdio.

Em meados da segunda sessão, o CSNU passou por um momento de crise no primeiro dia de trabalho. Diante do comitê inteiro, havia promessas e declarações reincidentes no foco do multilateralismo e da cooperação. Porém, por trás deste teatro político que todos estavam inseridos, os Estados Unidos da América, a República da Coreia do Sul e a Federação Russa iam contra a proposta de seu próprio comitê, agindo de má fé enquanto países próximos ficam no encalço de mais uma disputa entre potências globais na Ásia-Pacífico.

As denúncias de espionagem e de negociação secreta entre Washington e Seul, reveladas por ataques cibernéticos, inflamaram o ambiente diplomático. A Coreia do Sul defendeu-se afirmando que “jamais trairia seus parceiros estratégicos”, enquanto os EUA recorreram à Convenção de Budapeste para justificar uma possível responsabilização criminal de hackers supostamente ligados à Rússia. Moscou, por sua vez, rejeitou categoricamente a acusação, sustentando que “quem não deve não teme” e denunciando uma tentativa norte-americana de criminalizar indivíduos sem provas conclusivas.

A China, diretamente citada nos documentos vazados, respondeu com dureza, acusando Washington e Seul de hipocrisia e alertando para os riscos de uma “nova Guerra Fria digital”. Pequim também criticou a escalada armamentista na região, lembrando que a Ásia já vive sob pressão da corrida tecnológica e militar.

Países emergentes como Brasil, Índia e Austrália manifestaram preocupação com a falta de compromisso das grandes potências e defenderam uma resposta neutra, centrada no respeito à soberania e no fortalecimento da governança internacional. A França, por sua vez, relativizou o episódio ao afirmar que “a espionagem é prática recorrente nos Estados Unidos”, lembrando que a instrumentalização de dados vazados já influenciou processos eleitorais em diversas ocasiões.

A crise expõe uma contradição central: enquanto o CSNU se propõe a ser espaço de diálogo e construção de confiança mútua, suas principais potências-membro utilizam o ambiente para projeção de poder e disputa de narrativas. O risco imediato é a intensificação da rivalidade cibernética, que pode se somar à corrida armamentista já em andamento, colocando em xeque a estabilidade internacional.

Ao final da reunião,  foi estipulada a aprovação dos projetos de medida da coalizão russa. Em resposta durante a oportunidade de falas, os Estados Unidos tentaram barrar e vetar a proposta, o que não foi aceito pela mesa, finalizando o debate com o adiamento da sessão.


 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO NURI ©‎
bottom of page