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Análise 18/09 - Soberania Digital em Disputa: Geopolítica da Tecnologia no Comitê da OMC – AMUN 2025

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    nuriascom
  • 19 de set.
  • 3 min de leitura

Por: Felipe Reis, Jéssica Alves, Luan Silva e Mariana Campos

Na abertura das sessões do comitê da Organização Mundial do Comércio (OMC), durante a Amado Model United Nations 2025 (AMUN 2025), realizada nos dias 18 e 19 de setembro no Centro Universitário Jorge Amado, os delegados apresentaram seus primeiros posicionamentos sobre inteligência artificial, soberania digital e fluxo transfronteiriço de dados.

Os discursos iniciais foram, em geral, marcados por um tom diplomático e previsível, enfatizando a defesa da soberania diante dos desafios da economia digital. Delegações como Chile e Brasil destacaram avanços regulatórios já implementados em seus territórios, enquanto outros ressaltaram as dificuldades impostas pela ausência de limites físicos no ambiente digital. A China, por sua vez, propôs uma revisão do sistema estrutural hegemônico, que, segundo sua delegação, compromete a soberania dos Estados.

Nesse contexto, a decisão da delegação brasileira de iniciar sua fala cantando versos de “Brasil Pandeiro”, dos Novos Baianos, destoa do tom formal do comitê. A escolha, embora criativa, acabou reforçando estereótipos culturais e levantando questionamentos sobre a seriedade da representação brasileira.



Primeira Sessão: Big Techs e Soberania Digital

A primeira sessão concentrou-se no debate sobre o papel das Big Techs e os impactos da concentração de poder tecnológico. O Brasil protagonizou um dos momentos mais polêmicos ao denunciar o monopólio das grandes corporações digitais e a influência norte-americana no controle de dados, alertando para os riscos à soberania nacional e à manipulação da opinião pública global.

A China reforçou essas críticas, acusando diretamente os Estados Unidos de concederem acesso governamental a dados corporativos, o que revelaria uma contradição entre o discurso de liberdade digital e a prática de vigilância. Encurralados, os EUA evitaram respostas diretas, insistindo apenas no avanço da agenda.

Enquanto isso, o Japão alertou que regulações rígidas poderiam prejudicar a inovação, defendendo maior flexibilidade. Canadá e Chile buscaram posições conciliatórias, sugerindo fóruns multilaterais para garantir a aplicação efetiva das normas. Já o México assumiu um discurso alinhado ao norte global, defendendo a capacidade de países como EUA e Canadá em construir um campo tecnológico seguro, postura interpretada por muitos como um gesto político de apoio, e não como uma análise crítica.

O debate revelou que, por trás da retórica da cooperação, trava-se uma disputa geopolítica pelo controle do futuro digital, em que inovação, vigilância e soberania se entrelaçam em um jogo de poder desigual.


Segunda Sessão: Acusações e Alinhamentos

Na segunda sessão, os debates tornaram-se ainda mais tensos. A China abriu os trabalhos destacando a responsabilidade dos Estados, seguida pelo Brasil, que reiterou preocupações com os rumos da agenda. O Canadá, ao assumir a palavra, apontou erros no rascunho do documento, demonstrando empenho em avançar nas negociações.

A Rússia criticou duramente o posicionamento japonês contra a regulamentação supranacional, levando o Japão a responder que apoia sanções nacionais, mas não mecanismos de controle internacional. A troca de acusações escalou com menções a espionagem envolvendo China e EUA. Em resposta, Pequim exigiu provas e questionou a legitimidade norte-americana de se apresentar como defensora da liberdade digital, considerando sua política interna e externa hostil.

Os EUA, liderados na simulação pelo presidente Donald Trump, minimizam as críticas, chamando-as de “picuinhas”. O embate se intensificou quando Rússia e Estados Unidos se enfrentaram sobre segurança de dados e princípios democráticos.

O México, mais uma vez, alinhou-se firmemente aos EUA, criticando a China e classificando-a como ditadura. Questionada, a delegação mexicana citou informações fornecidas por inteligência artificial – ironicamente, no mesmo comitê que discute seu uso. Em paralelo, surgiram acusações ainda mais inusitadas, como a alegação de que a Rússia financiaria cartéis no México, revelando como discursos políticos e ataques diretos obscurecem o avanço da pauta central.

Diante das tensões, EUA e Canadá pediram foco na construção do documento, e um novo debate não moderado foi aberto para tentar retomar o espírito cooperativo.



Conclusão

O comitê da OMC na AMUN 2025 deixou evidente que a regulamentação tecnológica não pode ser dissociada das disputas geopolíticas contemporâneas. Entre discursos de cooperação, acusações de espionagem e críticas ideológicas, ficou claro que a economia digital é hoje um campo de disputa por soberania, influência e controle de dados.

Ao mesmo tempo, propostas de criação de fóruns multilaterais e observatórios de pesquisa sinalizam caminhos possíveis para uma regulamentação equitativa, inclusiva e sustentável. O sucesso dessas iniciativas, contudo, depende da capacidade dos Estados de superarem interesses imediatistas e evitarem o uso da tecnologia como instrumento de pressão ou dominação.

Nesse cenário em constante transformação, o comitê reafirma a importância de espaços multilaterais para mediar conflitos, alinhar expectativas e propor soluções coletivas. A tarefa, entretanto, exige das delegações compromisso real com o diálogo, evitando discursos nacionalistas inflexíveis, acusações infundadas ou alinhamentos automáticos que enfraquecem sua autonomia.

O desafio da soberania digital não se limita ao aspecto técnico: ele traduz a disputa pelo futuro das relações internacionais em um mundo cada vez mais conectado, onde as fronteiras digitais se tornam arenas decisórias do poder global.


 
 
 

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