Colapsos no sistemas de saúde, crises sociais, instabilidade econômica, o mundo inteiro lida de diferentes formas e sofre as imensas consequências devido à crise do coronavírus. Nesse contexto, mesmo em meio a pandemia e todas as suas consequências, os conflitos entre Índia e Paquistão na região da Caxemira avançam e a população dessa região, sem voz, sofre com essa opressora realidade. A população vive uma situação de extrema vulnerabilidade em meio a tantos conflitos e crises acontecendo simultaneamente, dessa forma, o povo caxemiro continua sem a possibilidade de exercer seus direitos e pede socorro.
A atual crise faz parte da história de um conflito que vem acontecendo há muitos anos. Na década de 40, durante o processo de independência da Índia e do Paquistão, esses países deixaram de ser uma colônia britânica e passaram a disputar o território da Caxemira. A região era dominada pelo marajá hindu: Hari Sigh Bahadur e era composta pelos territórios de Jammu, Caxemira, Ladakh, Aksai Chin, Gilgit, e Baltisan Partition. Após suas independências, os dois países entraram em guerra em três momentos diferentes. Durante a primeira guerra indo-paquistanesa (1947-1949), aconteceu de fato a primeira tentativa da divisão de fronteiras, a fronteira oficial não está em vigor até os dias atuais, os dois países ainda não chegaram a um consenso a respeito da divisão do território da Caxemira. No período desse primeiro confronto direto, a ONU enviou uma missão de observação que encontra-se atualmente ainda em observação, pois os países ainda não entraram em acordo e a população encontra-se ainda em extrema vulnerabilidade. Nesse contexto, as décadas seguintes são marcadas por uma intensa militarização das fronteiras e uma corrida armamentista entre as duas potências atômicas. Assim, iniciam-se programas nucleares de ambas as partes , visando um maior balanço de poder para confrontar o seu vizinho. Na segunda e na terceira guerras indo-paquistanesas, o Paquistão utilizou suas forças militares em mais uma tentativa de modificar suas fronteiras, mas a Índia se apoderou das regiões mais populosas e produtivas do território, ocupando os territórios e os militarizando. Os limites territoriais, foram negociados com o Acordo de Simla em 1972, o acordo, com aval da ONU , tinha como objetivo a resolução de conflitos por meios pacíficos, através de negociações bilaterais. Entretanto, a resolução de conflitos e a paz na região ainda constituem uma realidade distante, o povo caxemiro ainda se encontra no meio de duas potências atômicas que buscam a anexação desse território a sua órbita de controle.
A região é de extrema importância estratégica para ambos os países, pois as nascentes dos principais rios da Índia e Paquistão, respectivamente, o rio Ganges e Indo estão localizadas na Caxemira. As terras próximas aos vales dos rios são mais produtivas e propícias à colheita. As complexidades e nuances características do conflito são extensas, as diferenças étnicas e religiosas também possuem grande espaço nesse cenário. Dessa forma, Hinduístas, muçulmanos, budistas e cristãos habitam o território, sendo os muçulmanos a maioria na região. As diferenças religiosas dividem opiniões e, muitas vezes, isso pode ser um fator utilizado pelas potências para seu benefício próprio ou a difamação do país vizinho. O governo indiano alega que grupos de militantes muçulmanos fazem são responsáveis por ataques terroristas na região. Já o Paquistão, é um país de maioria muçulmana, alega que devido a essa estatística, ele seria uma nação para todos os muçulmanos. No entanto, esse desejo de integração com o Paquistão não é um dado preciso, um plebiscito para consultar a opinião da população da Caxemira nunca aconteceu.
Novas leis e reformas constitucionais são implementadas continuamente, muitas dessas leis e reformas não representam a população, construindo-se um cenário de extrema instabilidade política onde o povo caxemiro não tem seus direitos e opiniões representados por nenhum dos dois países. Além disso, como desde 1989 a área sob domínio indiano, possui milícias e fortes oposições a esse domínio, o governo indiano tem implementado políticas de segurança cada vez mais agressivas, havendo na região a presença maciça do exército daquele país. Entre milícias, grupos terroristas e dois gigantes nucleares, a população vive esse cenário caótico de extrema insegurança e vulnerabilidade e a opinião pública é silenciada entre tantas tentativas para ocupar essa região.
As dificuldades e instabilidades econômicas da Caxemira tornam a realidade ainda mais difícil. A partir de agosto de 2019, cidadãos indianos passaram a ter o direito de investir, trabalhar e morar na Caxemira, o que até então não era permitido. A ocupação indiana toma proporções cada vez maiores e, para conter a oposição, o governo enviou mais militares do seu exército para a região. Por cerca de sete meses a população foi proibida de sair das suas casas e muitos meios de comunicação - incluindo a internet - foram cortados. O que fez com que muitos protestos contra a ocupação indiana ganhassem mais espaço, e aumentassem a pressão de muitas organizações. Após essa série de acontecimentos, a crise do coronavírus coloca a população em mais um ciclo de opressão e crise e o diálogo com essa população continua inexistente, ampliando seu histórico de direitos humanos violados.
Referências:
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/caxemira.htm : Acesso em 15 de maio de 2021
https://theconversation.com/in-kashmir-military-lockdown-and-pandemic-combined-are-one-giant-deadly-threat-142252 :Acesso em 15 de maio de 2021
https://theconversation.com/india-uses-coronavirus-pandemic-to-exploit-human-rights-in-kashmir-137682 : Acesso em 15 de maio de 2021
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