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Da Interdependência a Dependência: a delimitação agroexportadora do Comex brasileiro

Dimas Oliveira

Gabriela Arouca


Ao fim da Guerra Fria vemos uma mudança do sistema internacional e com ele um novo paradigma se construiu: o neoliberalismo, onde Robert Keohane e Joseph Nye analisaram as novas interações entre os estados do novo mundo globalizado e formularam então a teoria da interdependência, nela o comércio seria o instrumento-mor das interações entre estados e o mundo cada vez mais interconectado seria regido pelo poder de barganha e necessidade de cada um. Porém em conformidade às definições de poder de barganha foram mudando também as disparidades no que tange a capacidade de barganhar dos países entre tudo em desenvolvimento.

Adam Smith pai da teoria clássica do comércio exterior defende a ideia da vantagem absoluta entre Estados, onde utilizam de sua potencialidades variáveis de produção (geralmente indicada por menores custos) e usufruem dessa vantagem produtiva diante os outros Estados, fazendo com que o produto que tiver maior vantagem absoluta seja o principal a ser exportado e com ele o Valor Real de um produto, ou seja, o valor gerado pelo trabalho, nele incluído. Outro grande pensador seria David Ricardo na qual amplia tal análise com a teoria da vantagem comparativa onde temos o custo de oportunidade, e que muitos países abrem mão de produzir certos elementos para que possam focar em outros de melhor benefício econômico estratégico, gerando assim uma oferta.


O Brasil conhecido como “o celeiro do mundo” utiliza fortemente das ideias de vantagem comparativa e absoluta no que parte de sua fama de país agroexportador, principalmente por sua capacidade de suprir as demandas globais, ao utilizar a interdependência fica claro a importância da exportação na economia nacional. Porém se o Brasil está entre os maiores exportadores de bens primários do mundo porque ainda se encontra como um país industrializado não desenvolvido? Segundo o autor brasileiro Milton Santos, é um dos efeitos da globalização, criados por suas hegemonias e a captação de riqueza dos países centrais perante os países periféricos, onde nem a relação valor por necessidade seria capaz de quebrar tal estigma.


Fernando Henrique Cardoso em sua teoria da dependência aprofunda tal debate ao afirmar que países periféricos como o Brasil, como os países sul americanos vivem a depender economicamente dos países centrais do capitalismo, principalmente devido ao desgaste do sistema de trocas, isto é, o comércio entre estes esses países, tal lado negativo mesmo perante o conceito de interdependência vive a causar disparidades dos sistemas produtivos nos países periféricos, onde o próprio crescimento de tais países se estagna perante a diferença de desenvolvimento econômico, tecnológico e de poder aquisitivo.


Sendo assim, o Brasil como um desses países periféricos, está submetido a uma estrutura que dificulta o seu desenvolvimento e aumenta sua dependência aos países centrais, em que a interdependência do comércio internacional e o fenômeno da globalização alimentam esse modus operandi. Sob uma divisão internacional do trabalho, isto é, especialização produtiva econômico-industrial dos países, o Brasil estabeleceu-se como um país exportador de produtos com baixo valor real e valor agregado (agroexportador), afetando assim seu desenvolvimento, pois seu comércio exterior orientado para a exportação limita políticas econômicas voltadas à industrialização nacional.


Não somente a estagnação do crescimento econômico brasileiro e desindustrialização, frutos de um processo histórico desde a década de 1990 com políticas econômicas neoliberais, o país ainda encontra barreiras impostas pelos países desenvolvidos, reforçando um comércio internacional mais assimétrico e prejudicando o desenvolvimento dos países periféricos como o Brasil.


Com isso a sobrevivência econômica destes Estados seria se prender a suas vantagens absolutas e fazer com que sua principal atividade seja a agro-exportação, limitando as capacidades do estado de expandir suas áreas de desenvolvimento socioeconômico, das novas divisões do trabalho e suas inserções. Graças a interdependência global na qual pela necessidade ofertada acaba por restringir iniciativas mais vigorosas das matrizes econômicas e com que países periféricos como o Brasil na qual são agroexportadores acabem por não desenvolver seus setores perante o resto do mundo, devido a uma dependência histórica, tais desigualdades mantém o país em processo de desenvolvimento perpétuo.






Referências:


CARDOSO, Fernando Henrique. Notas sobre o estado atual dos estudos sobre a dependência. In: SERRA, José. (Org.). América Latina - ensaios de interpretação econômica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. KEOHANE, R. O.; NYE, J. S. Power and interdependence. Nova York: Harper Collins, 2001. Porto Editora – marginalismo na Infopédia. Porto: Porto Editora. Disponível em <https://www.infopedia.pt/$marginalismo> Acesso em 10 de out de 2022.

RICARDO, D. (1817) Princípios de Economia Política e Tributação. Tradução de P. H. R. Sandroni. São Paulo: Victor Civita, 1982.

SMITH, Adam. A riqueza das nações. Nova Fronteira, 2017.

SMITH, A. An Inquiry Into The Nature And Causes Of The Wealth of Nations" 1776.

SANTOS, Milton.Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008 (15ªedição).


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