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OBSERVATÓRIO/ Danaila Almeida

Efeitos da Polarização Política na Democracia

Atualizado: 20 de ago. de 2022

Por: Danaila Almeida


As manifestações que levaram centenas de pessoas às ruas entre março de 2015 e julho 2016 expôs os padrões de intolerância política vigentes na sociedade brasileira. De um lado, indivíduos indignados com os casos de corrupção e exigindo a saída de Dilma Rousseff da Presidência da República . Do outro, havia sujeitos que defendiam a continuidade do governo em respeito à eleição de 2014. Nesses eventos, os antagonismos também converteram-se em discursos de ódio e truculência.


Além disso, terminado o processo eleitoral de 2018 , o quadro de rivalidades e intolerância ainda continuam sendo uma tônica e configuram uma ameaça ao Estado democrático. Tais episódios trouxeram à tona a forte polarização política no Brasil. Por sua vez Borges e Vidigal, (2018; apud Fiorina; Abrams, 2008), apregoam que :


A polarização é uma questão de grupos que envolve dois ou mais grupos; (ii) a polarização aumenta quando a “dispersão dentro do grupo” é reduzida; e (iii) apolarização aumenta quando a distância entre os grupos cresce (Fiorina e Abrams,2008)

Em retrospecto , os cenários belicosos e os desmantelamentos de regimes totalitários no século XX, legitimaram a democracia liberal enquanto a única forma legítima de governo, e por conseguinte, o regime preponderante na seara internacional. Com isto, presumiu -se a insuperabilidade do regime supramencionado. Entretanto , atualmente, evidencia -se o escárnio em relação às instituições democráticas provenientes de forças conflitantes no cenário doméstico dos Estados. À vista disso, Robert Dahl advertiu que a democracia está em perigo quando a sociedade é polarizada em vários grupos antagônicos.


Na obra “ Como as Democracias Morrem” , Levitsky e Ziblatt debruçam-se na subversão democrática de maneira gradual e quase imperceptível até se tornarem ditaduras. De acordo com os autores, um dos elementos que culmina no retrocesso democrático é a polarização ideológica. Vale sublinhar que em uma democracia representativa , a tolerância mútua para com os adversários políticos é condição básica. Este último é caracterizado pelo:


Respeito a ideia de que , enquanto nossos rivais jogarem pelas regras institucionais, nós aceitaremos que eles tenham direito de existir, competir pelo poder e governar. Podemos divergir, e mesmo não gostar deles nem um pouco , mas o aceitamos como legítimos .” ( LEVITSKY ; ZIBlATT , 2018)

Basicamente, os adversários políticos concordam em discordar. Sendo assim , a alternância de poder somada ao pluralismo político são os sustentáculos de uma democracia.

Uma vez que o pluralismo político assegura e regula de maneira respeitosa , as interações entre grupos que divergem ideologicamente. Não há multiplicidade de ideias sem o respeito mútuo e tal aspecto não é uma tônica no cenário político brasileiro . De acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto Ipsos , 32% dos brasileiros acreditam que não vale a pena dialogar com indivíduos que possuem posicionamentos políticos divergentes. Desse modo, a incapacidade das partes em apresentar argumentos convincentes e em debater assuntos de interesses em comuns , tornam as relações interpessoais conflituosas e intolerantes.


Além disso, Jennifer McCoy apregoa que a polarização é prejudicial quando os antagonistas políticos enxergam-se como inimigos e representam uma ameaça à nação. Dessa forma, os efeitos são sentidos quando os partidos políticos , por exemplo , se negam a cooperar para a aprovação de reformas , leis no Congresso ou a aprovação de políticas públicas visando combater problemas na sociedade , como a pobreza. E ainda , ao alçar ao poder minam a democracia e restringem a mídia e o poder judiciário .


Neste contexto, salienta-se o papel das redes sociais na polarização, levando em consideração que os sistemas de algoritmos e hashtags fazem uma “filtragem” das informações antes de passar para os sujeitos aquelas que possuem mais importância. Por conseguinte , “[...] as opiniões tendem a ser reforçadas e, as mentiras, incontestadas” (D’ANCONA, 2018, p.53). A título de exemplo, tem-se o modelo de campanha de Donald Trump nos Estados Unidos que valeu-se de intensas campanhas nas redes sociais, a partir da disseminação de notícias falsas.


De maneira similar, a corrida presidencial de 2018 que alçou Jair Messias Bolsonaro à presidência do Brasil caracterizou-se por fake news, sobretudo a respeito de fraudes no processo eleitoral do Brasil. Diante disso , percebe-se a tentativa de minar a confiança e a integridade eleitoral. Isto posto , o respeito aos meios midiáticos e a apuração dos fatos são fulcrais para a manutenção da democracia. Vale sublinhar que o cenário de crises é um agravante para a polarização. Consoante a Adam Przeworski (2019) : “ Crises são situações que não podem durar e nas quais alguma decisão precisa ser tomada. Elas emergem quando o status quo é insustentável e nada ainda o substituiu”.


Sob este prisma, a conjuntura brasileira é marcada por crises econômicas e sociais que contribuem para o descontentamento da população em relação aos partidos tradicionais e às instituições representativas. Haja vista que a persistência de tal cenário explícita a incapacidade das mesmas em apresentar uma solução para o cenário, por isso, há a legitimação de ações e discursos que atentam contra tais instituições . Apesar dos aspectos supramencionados, a polarização política é elemento crucial para qualquer democracia saudável, desde que seja pautada no respeito mútuo pelas regras do jogo democrático.


Em consonância com a cientista política Jennifer McCoy, “ É necessário haver lideranças capazes de construir pontes” . Tais estruturas são construídas com debates civilizados entre os adversários políticos, focando em novas ideias e alternativas promissoras para o futuro da nação. Para superar este cenário de polarização é fundamental distanciar-se do sentimento de vingança e respeitar os antagonistas enquanto atores legítimos na política. Além disso , é imperiosa a atuação dos jovens na organização de movimentos para reivindicar seus direitos e na clamação por mudanças mais democráticas e menos divisivas.


 

REFERÊNCIAS :

ANDREASSA, Luiz. O que é a polarização e por que é prejudicial à democracia?. 30 jul. 2020 . Disponível em : https://www.politize.com.br/o-que-e-polarizacao/ . Acesso em : 16 Jun . 2022

BORGES, André; VIDIGAL, Robert. Do lulismo ao antipetismo? Polarização, partidarismo e voto nas eleições presidenciais brasileiras. Opin. Pública, Campinas , v. 24, n. 1, p. 53-89, Apr. 2018. Acesso em : 16 Jun 2022 http://dx.doi.org/10.1590/1807-0191201824153.

DAHL, Robert Alan. Sobre a democracia. Brasília: EdUNB, 2001.

GOMES, Bianca ; BRIDI, Carla; LARA, Matheus . Polarização política no Brasil supera média de 27 países. São Paulo , 2019 . Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/04/14/radicalismo-politico-no-brasil-supera-media-global.htm . Acesso em : 16 Jun . 2022

LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.

MCCOY, Jennifer; RAHMAN, Tahmina; SOMER, Murat. Polarization and the global crisis of democracy: common patterns, dynamics, and pernicious consequences for democratic politics. American Behavioral Scientist 2018, Vol. 62(1) 16–42. DOI: 10.1177/0002764218759576

NORBERTO , Bobbio . O futuro da democracia. 17° ed . Rio de Janeiro / São Paulo : Paz e Terra , 2020

PRZEWORSKI , Adam . Crises da Democracia. 1° ed . Rio de Janeiro : Zahar , 2020

RIBEIRO , Ednaldo ; FUKS , Mario . Tolerância política no Brasil . Disponível em :

https://www.scielo.br/j/op/a/kyfRG9m8yqBYnWjyDC5cwJH/ Acesso em : 16 Jun . 2022

TRISOTTO , Fernanda. A eleição das fake news: às mentiras que te contaram e os

impactos na campanha . Disponível em : <https://especiais.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2018/eleicao-das-fake-news-mentiras-que-te-

contaram-e-os-impactos-na-campanha/. Acesso em : 16 Jun . 2022

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