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Evergrande: A Crise da Empresa Chinesa que Afeta o Brasil e o Mercado Global



Por: Breno Dornelas e Isabela Brito


A Evergrande, segunda maior empresa imobiliária chinesa, anunciou no último dia 20 de setembro que corria risco de dar calote em parte de sua dívida de US $300 bilhões (cerca de R $1,16 trilhão), o equivalente a 2% do PIB do país. A possibilidade do não pagamento por parte de uma empresa de tamanha magnitude não gera impactos somente sobre a economia chinesa, mas também traz repercussões para o mercado internacional.


De acordo com o site jornalístico Brasil de Fato, o setor imobiliário é responsável por 13% do PIB da China, e durante 10 anos foi responsável por 1 ⁄ 3 do crescimento da economia. Devido à pandemia da Covid-19, houve uma desaceleração do crescimento econômico chinês e do setor imobiliário, consequentemente, agravando a situação da empresa que começava a apresentar os primeiros sinais da crise que estava por vir. A Evergrande possui cerca de 1300 projetos em mais de 280 cidades, além de possuir investimentos no setor alimentício, de veículos elétricos e esportes.


A gigante do mercado imobiliário cresceu com a estratégia do endividamento, ou seja, é colocado dinheiro à frente para financiar projetos e receber o retorno a longo prazo, conforme os imóveis são financiados. Essa é uma estratégia muito utilizada no mundo dos negócios, entretanto, a Evergrande ampliou muito o faturamento de caixa, e a crise da Covid afetou o faturamento que foi abaixo do esperado.


Visto isso, em setembro de 2020, o governo chinês tomou a decisão de pôr limites aos endividamentos do setor imobiliário com a criação das três linhas vermelhas, que buscava limitar o endividamento das empresas e ampliar a vigilância sobre o financiamento obtido por depósitos antes das vendas. Uma das medidas adotadas foi o índice de endividamento que define se as empresas podem ou não tomar empréstimos caso tenham ultrapassado os limites. No caso da Evergrande, a companhia ficou impossibilitada de adquirir empréstimos devido ao alto endividamento.


Exposta a dimensão da influência da Evergrande em um mundo globalizado onde as economias se interligam, fica claro que esse não pagamento pode impactar além das fronteiras geográficas da China, tendo efeitos direto sobre os mercados internacionais. A participação da China no PIB (Produto Interno Bruto) mundial vem aumentando ao longo dos anos, chegando a 17,6% em 2020 (Economia UOL), por tanto, qualquer mudança drástica em sua economia ecoará em todo o mercado internacional. Os primeiros sinais de uma crise global seriam a insolvência de todo o sistema financeiro chinês, visto que grande parte dos empréstimos tomados pela empresa vieram de bancos e instituições financeiras chinesas. Ademais, os prejuízos ao financiamento de empresas chinesas podem paralisar as atividades, que têm impacto em todo o mundo, sendo mais agravado nos principais parceiros comerciais do país.

O setor imobiliário é um dos maiores consumidores de commodities, como o minério, cobre, e ferro. Esse choque nas cotações têm efeitos diretos sobre os exportadores desses bens primários, como o Brasil.


Lívio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, afirma que pelo fato de 85% das exportações brasileiras para a China serem de minério de ferro, soja e petróleo, os efeitos podem ser sentidos fortemente. Somente em 2019, 59% do minério brasileiro foi destinado ao mercado chinês. Já a economista Catharina Sacerdote, consultora especialista em investimentos, prevê um impacto indireto na economia nacional, uma vez que provavelmente haverá uma redução do comércio da China com outros países e isso tem um impacto imenso para o Brasil.


O professor de economia internacional e economia chinesa no Insper e mestre em economia chinesa pela universidade chinesa de Fudan, Roberto Dumas, apresenta uma perspectiva mais abrangente de como o Brasil usufrui do crescimento chinês, mas pode ser afetado por uma possível crise causada pelo Evergrande. Enquanto a economia chinesa cresce, o país precisa de investimentos em grandes obras ou no setor imobiliário, o Brasil sendo um grande exportador de minério e aço é beneficiado. A prosperidade na economia gera um aumento do poder aquisitivo da população local, assim novamente o Brasil ganha com a exportação de alimentos, em especial proteína animal.


Todavia, se a China cresce menos, haverá uma natural redução na compra de mercadorias de outros países. Assim o Brasil terá que disputar com produtores de outros lugares uma forma de vender sua produção. Com menor demanda e mesma oferta, os preços de minérios e alimentos caem em todo o mundo. Fragilizando essa área da economia. A exemplo disso, é o que já está acontecendo com os preços do minério de ferro, que se desvalorizaram em quase 50% desde o pico em maio de 2021.


Segundo o Indicador mensal da Balança Comercial de agosto de 2021 do Instituto Brasileiro de Economia, com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o saldo comercial que o Brasil tem com a China atingiu US$ 35 bilhões apenas nos oito primeiros meses de 2021. Isso representa 67% do superávit global da balança comercial brasileira, de US$ 52,1 bilhões.


Essa realidade faz da China a maior compradora de produtos brasileiros, também sendo uma grande fornecedora de insumos e equipamentos para a indústria, além de ser um dos cinco maiores países investidores na nossa economia. Por esses três motivos principais, a economia chinesa tem influência direta no desempenho da economia brasileira e, consequentemente, na geração de emprego e renda para brasileiros.


Esses fatos explanam as consequências de se ter uma economia globalizada. Apesar de que os grandes lucros advindos de negociações entre países fazem valer o risco de crises econômicas, não muda o fato delas serem extremamente danosas para a economia nacional de um Estado, principalmente um ainda emergente, como o Brasil. Por isso toda a relação econômica internacional tem de ser bem estruturada entre as nações, garantindo uma melhor contenção de danos em um cenário de crises.





Referências

BBC NEWS. Por que Brasil pode ser um dos países mais afetados por crise na empresa chinesa Evergrande. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-58658150 . Acesso em: 07 de out 2021.

BRASIL DE FATO. Com dívida bilionária, Evergrande suspende operações na bolsa de valores de Hong Kong. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/10/04/com-divida-bilionaria-evergrande-suspende-operacoes-na-bolsa-de-valores-de-hon . Acesso em: 07 de out 2021.

CORREIO BRAZILIENSE. Crise na China: os possíveis impactos do colapso da Evergrande no Brasil. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2021/09/4950564-crise-na-china-os-possiveis-impactos-do-colapso-da-evergrande-no-brasil.html . Acesso em: 07 de out 2021. ECONOMIA UOL. Emprego, dólar, PIB: como Evergrande e desaceleração da China afeta Brasil. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/09/22/china-por-que-economia-chinesa-afeta-brasil.htm. Acesso em: 07 de out 2021. g-kong . Acesso em: 07 de out 2021.

FOLHA DE S.PAULO. Entenda por que a Evergrande sinaliza desaceleração da China e seu impacto no Brasil. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/09/entenda-por-que-a-evergrande-sinaliza-desaceleracao-da-china-e-seu-impacto-no-brasil.shtml . Acesso em: 07 de out 2021.

G1 GLOBO. Crise na Evergrande: por que o mercado está em alerta e quais as possíveis consequências para o Brasil e o mundo. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/09/20/crise-na-evergrande-por-que-o-mercado-esta-em-alerta-e-quais-as-possiveis-consequencias-para-o-brasil-e-o-mundo.ghtml. Acesso em: 07 de out 2021.

YOUTUBE. Evergrande: o que acontece com gigante chinesa e por que Brasil pode ser afetado. Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=lZKtx3P-Nng. Acesso em: 07 de out 2021.


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1 opmerking


Coordri UJ
Coordri UJ
21 okt. 2021

Caberia uma pitada de interdependência complexa na análise?

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