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Foto do escritorGessy Lima

Expectativas de Grandes Mudanças que se Tornaram Mais do Mesmo (Análise CFDS - Primeiro Dia)

O primeiro dia do CFDS entrega ideias ineficazes


Caro leitor,


Uma verdade universalmente conhecida é que a pressa é inimiga da perfeição. Mas… e quando você recebe tempo o suficiente para se preparar para um evento de grande importância, diga-se de passagem, e você sente que poderia ter tido um desempenho melhor? Podemos culpar o tempo? Ou deixaremos essa função para Claudinho e Buchecha quando dizem “o relógio está de mal comigo”? Digo isso porque os representantes das empresas poderiam ter se preparado um pouco meljor. A sua função era somente uma: mitigar as mudanças climáticas, através da promoção o desenvolvimento sustentável em Moçambique. Porém, a situação foi outra. De duas, uma: ora não tinham propostas, ora poderiam ser melhor elaboradas. Poucos se safaram dessa maldição, mas, para de fato compreender o que aconteceu, você terá de me acompanhar no primeiro dia do Comitê de Desenvolvimento Socioeconômico.


No início das discussões, o representante da Syngenta, uma das maiores desenvolvedoras e produtoras de sementes inovadoras do mundo, se apresentou como a "força motriz" para mercados de países que dependem do setor primário, como Moçambique, criando grandes expectativas em relação à proposta que seria posteriormente apresentada. Porém, apesar de afirmar seu compromisso com essas questões, será que a empresa cumpre essas mesmas declarações? O delegado destacou a presença da empresa na África desde os anos 90. No entanto, faço a seguinte pergunta: por que ainda há pouco investimento no mercado africano, já que este é considerado tão crucial? Além disso, qual é o real motivo do interesse em Moçambique? Nesse sentido, em 2022, a empresa acumulou cerca de 32 bilhões de dólares em agrotóxicos, o que parece contraditório com seus compromissos ecológicos. O discurso foi finalizado com promessas de um futuro promissor, mas que quebraram as expectativas iniciais. O representante também ofereceu respostas vagas sobre qual seria a participação do governo moçambicano e como, de fato, isso beneficiaria a população, levantando questões sobre a eficácia da proposta, sem respostas claras aos questionamentos da mesa.


“Não existe tecnologia apenas para um grupo de pessoas” e “vendemos sonhos e sustentabilidade”. Essas duas frases, ditas ainda no começo da apresentação da Huawei, mostraram-se, até certo ponto, promissoras. Porém, ao longo da apresentação, pudemos ver que, na verdade, foram incoerentes, visto que o uso de tecnologias para desenvolvimento tecnológico e educacional apresenta um certo déficit, principalmente na capacitação dos cidadãos moçambicanos. A delegada focou diversas vezes nos números e na quantidade de “feitos”, mas em nenhum momento deixou claro como isso poderia ser aproveitado pela população. Após ser questionada pela mesa acerca da clareza de sua proposta, a representante da empresa chinesa ressaltou que o foco principal é compactuar com a empregabilidade e fomentar a energia limpa, um tópico que só surgiu nesse último momento e não havia sido discutido anteriormente. Ou seja, a proposta, além de não ter sido clara, não trouxe nenhum tipo de resolução sobre o desenvolvimento da tecnologia.


A maioria das empresas, apesar de apresentarem ideias que, a princípio, poderiam ser consideradas interessantes, deixaram de ser eficientes quando não apresentaram meios para concluir e efetivar seus projetos. Um exemplo é a Vinci, que prometeu um “planeta digno de vida para todos”, mas não conseguiu desenvolver seus argumentos, não concluindo seu planejamento dentro do tempo permitido, o que também ocorreu com a Corteva.


Porém, no final das contas, é possível que haja uma luz no fim do túnel: a proposta fechada e aprovada da empresa Bechtel, que apresentou o projeto JUBEL, que busca investir na infraestrutura moçambicana para melhor distribuição de água. Tendo sido um projeto de baixo investimento, acordado entre a delegada e a mesa com uma entrada de 6 bilhões, parcelada em 6 anos para distribuir os lucros, esse projeto se torna um exemplo para as demais empresas. Uma apresentação simples, mas que conseguiu fazer o que nenhuma outra delegação conseguiu.


Muitas das empresas, em suas apresentações, mencionaram seu compromisso com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Porém, até onde esse comprometimento realmente vai? Trago a vocês o exemplo da empresa Vale, que, sem muita surpresa devido à sua reputação, não conseguiu associar a proposta de desenvolvimento sustentável com os históricos da mineradora multinacional brasileira. Em seu pitch, apresentou à nação moçambicana seu projeto de mineração “sustentável” (seja lá o que isso signifique), além dele mesmo reconhecer que os acontecimentos anteriores relacionados à empresa afetam sua imagem e credibilidade (para quem se lembra — ou não — a empresa se refere ao ocorrido em Brumadinho em 2019). E não para por aí; ainda temos a empresa de Portugal “NOS Comunicações”, que trouxe como sua proposta sustentável a implementação de cinemas “acessíveis” para os moçambicanos, além de assumir responsabilidades pela valorização dos resíduos. Entendemos que o entretenimento e o lazer são, de fato, de suma importância; porém, serão essas as prioridades dentro do contexto geral?


E vamos falar de crise? Às 09:00 do dia 19/09, a nação do Malawi sofreu fortíssimas chuvas, intensificadas pelas constantes mudanças climáticas. O resultado? Uma fronteira moçambicana saturada por imigrantes malawianos à procura de abrigo e primeiros socorros. Infelizmente, Moçambique não possui a estrutura necessária para auxiliar esses imigrantes, e fechar as fronteiras não é uma opção, considerando a enorme crise humanitária que isso ocasionaria. Visto isso, o papel das empresas presentes nos comitês foi o de propor três contratos focados nas áreas cruciais para solucionar a crise.


Caro leitor, estou ciente do que você pode estar pensando. Um desastre ambiental multiplicado por empresas despreparadas resulta em uma crise humanitária. Correto? Bom, essa equação irá depender das mencionadas empresas. Nós, pobres telespectadores, somente podemos torcer para que a vida de centenas de malawianos não seja perdida nessa matemática.



Com os melhores desejos de sucesso (na medida do possível), 


Assessoria de Comunicação - Analistas Internacionais

Por: Maria Júlia Souza, Giovanna Bohrer Matos, Maria Rita Souza

Curadoria: Gésscia Lima e Victor Hugo Batista

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