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Instabilidade bancária internacional: possibilidade de nova crise mundial?

Carlos Almir Barbosa Lima Oliveira Maria Júlia Paz Correia


O mais recente prospecto de crise bancária mundial, na esteira da falência do Silicon Valley Bank (SVB) e da retração acentuada do Credit Suisse, em Março deste ano, vem chamando atenção de especialistas ao redor do globo. Com impactos que podem alterar diversas dinâmicas do sistema financeiro internacional, atingindo não apenas investidores, mas também Estados e seus bancos centrais nacionais, é preciso entender as possíveis consequências desses acontecimentos e como as ações de contenção subsequentes afetam o cenário internacional.

Antes de mais nada, é necessário esclarecer que, apesar dos eventos recentes que trazem os dois bancos como protagonistas se localizarem temporalmente próximos, não há relação direta entre eles, visto que são casos com razões e desdobramentos distintos. Enquanto o SVB declarou falência em um movimento que causou surpresa a muitos, o Credit Suisse, nas palavras de Peter Boockvar, diretor de investimentos do Bleakley Financial Group: “[...] tem sido um acidente de carro lento há anos”. Contudo, é necessário pontuar que a mínima histórica registrada pelo banco suíço pode, em parte, ser justificada pelo clima de insegurança gerado pelo decreto de falência do norte-americano, já que tanto na Europa quanto nos EUA as taxas de juros vêm, nos últimos anos, apresentando uma crescente, em especial quando se traça uma comparação com a década passada.

No dia 10/03, a notícia da falência do SVB atingiu o mundo de surpresa, com o maior impacto sendo notado nos EUA. Além de país-sede do banco, foi por lá que começou a Crise de 2008, a partir do fechamento do gigante Lehman Brothers. Apesar de o SVB não possuir tamanho similar, tendo direcionado suas operações especialmente para startups localizadas no Vale do Silício - que, inclusive, deu o nome à instituição -, a falência de um banco de médio-grande porte desperta medos adormecidos, ressuscitando os fantasmas da última grande crise no setor. O processo de falência do SVB pode ser explicado pela inabilidade do banco em manter sua liquidez. De acordo com Janet Yellen, Secretária do Tesouro dos EUA: “Houve uma corrida ao banco. Ele dependia muito de depósitos segurados. Houve uma retirada maciça de depósitos que levou a um problema de liquidez. O banco teve que ser fechado por esse motivo”. Essas retiradas em massa podem ser explicadas pelo alto grau de homogeneidade da base de clientes do banco, que consistia majoritariamente em empresas de tecnologia, que geralmente possuem tendências de investimento parecidas. Com pouca diversidade de contratantes, a margem de manobra do SVB foi mínima, o que levou a um colapso rápido e uma queda vertiginosa.

Menos de uma semana após o decreto de falência do SVB, a instabilidade que pairava sobre o sistema financeiro internacional atingiu um novo patamar, quando foi anunciado que as ações do titã suíço Credit Suisse desabaram em 24%, após afirmar que foram encontradas algumas incongruências em seus relatórios financeiros. A partir disso, o temor de que uma crise ainda mais robusta afligiria todo o mundo provocou uma série de quedas em uma gama de bolsas ao redor do planeta. Contudo, dado o enorme grau de importância da instituição, foi traçado um plano de contingência a fim de resgatar o banco, em uma operação que envolveu até mesmo seu governo nacional. Com uma história que se confunde com a trajetória de suas instituições financeiras, a Suíça, através de seu banco central, promoveu um primeiro resgate ao Credit Suisse, em uma operação que garantiu que o banco pudesse seguir funcionando pelos dias subsequentes. Após isso, a alternativa encontrada foi costurar um acordo de compra junto ao UBS, maior banco do país e outrora concorrente do Credit Suisse. Uma vez encaminhado o processo, uma sensação maior de estabilidade tomou conta da situação, algo perceptível através do desempenho positivo de diversas bolsas no continente europeu após a confirmação da intenção de compra. Entretanto, é importante frisar a volatilidade da situação, que está longe de um desfecho completamente favorável.

No contexto brasileiro, imaginava-se uma eventual variação na taxa de juros a partir do Banco Central como desdobramento para a crise. Contudo, além disso não acontecer, um fenômeno observável diz respeito à baixa retração que os bancos brasileiros apresentaram em comparação com estrangeiros do setor, como demonstrado no gráfico abaixo, que traz as variações entre 13 e 17 de Março:



Tais dados reafirmam a solidez das instituições financeiras do país, além de serem um bom indicativo para o futuro delas no que diz respeito à internacionalização. Um exemplo disso na prática diz respeito ao Grupo Master, que encaminhou a compra do BNI, em Portugal, e planeja iniciar suas operações em terras lusitanas assim que obtiver as devidas licenças referentes à aquisição, que ainda possui aprovação pendente. Entretanto, o prognóstico é positivo e espera-se que um desfecho favorável venha ainda em 2023. Mesmo tendo o sistema financeiro internacional demonstrado ser um mar de incertezas, a confiabilidade inspirada pelos bancos brasileiros pode render ótimos frutos num futuro não tão distante.

No contexto mais recente, apesar de um aparente clima de paz no sistema bancário internacional, a falência de outra instituição financeira, dessa vez o First Republic Bank, voltou a acender a luz vermelha para uma nova escalada na crise. Os títulos do banco norte-americano foram a leilão, onde encontraram no JPMorgan, maior banco do país, um comprador disposto a assumir tais riscos. O resgate do JPMorgan ao First Republic Bank ocorre quase dois meses após os processos do SVB e do Credit Suisse, um indicativo de que, apesar da atuação de outras instituições financeiras ao redor do mundo visando contornar a crise, ela ainda pode estar longe de ter um desfecho.

Portanto, nota-se que muitos são os possíveis desdobramentos que um contexto de crise bancária poderia trazer, sendo o Brasil, também, afetado por todas essas mudanças. Todavia, o gerenciamento de risco empregado nos três casos observados - SVB, Credit Suisse e First Republic Bank -, acaba por mitigar maiores preocupações. A elevação da taxa de juros por parte do FED (banco central norte-americano) manteve a previsão anterior à crise, o que é um indicativo favorável para os próximos meses.



REFERÊNCIAS:


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INFOMONEY. Falência do SVB: bancos nos EUA caem até 80% e ações têm negociação suspensa. Como afeta Brasil? Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zlpzZrCYoyE&t=1778s>. Acesso em: 23 mar. 2023.


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ZANATTA, P. Crises de Credit Suisse e SVB não devem afetar solidez de bancos no Brasil, dizem especialistas. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/economia/crises-de-credit-suisse-e-svb-nao-devem-afetar-solidez-de-bancos-no-brasil-dizem-especialistas/>. Acesso em: 23 mar. 2023.


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