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OBSERVATÓRIO | Victor Hugo Batista

Líbano: A complexidade de um país

‘’Líbano, a jóia rara do oriente médio’’ assim que o país árabe era conhecido durante parte do século XX devido a sua riqueza e prosperidade. Porém, para entendermos como o Líbano passou disso para se tornar sinônimo de desequilíbrio, faz-se necessário examinar sua história.

Situado na região onde é o local classificado como berço da humanidade, está povoado pelos fenícios presentes na área desde 1500 aC, sendo eles conhecidos pela sua influência no comércio marítimo e pela invenção da escrita alfabética. Porém em 64 a.c, fruto da derrota de Pompeu, o império romano conseguiu conquistar a região, e assim influenciar na herança cultural, arquitetônica e religiosa.

A história das raízes árabes atuais libanesas começam a se moldar com o fim do controle romano no território, quando em 636 d.C, a expansão muçulmana chega ao Líbano através do califa Omar ibn al-Khattab, marcando a transição do domínio bizantino para o islâmico. Durante isso, o Líbano experimentou a sua virada cultural que culminaria até os dias de hoje. Como fatores, a conversão ao islã de maneira gradual, resultaria na formação de uma sociedade árabe, esta, que contribuiu para o desenvolvimento de conhecimentos e fusão de tradições, essenciais para a ampliação libanesa em ciências, artes, literatura e filosofia. Seguindo o fluxo da expansão islâmica, em 1516, o Sultanato Mameluco do Egito e do Levante foi derrotado pelos otomanos sob o comando do sultão Selim I. Com esta vitória, a região do Levante, que inclui o Líbano, passou para o controle do Império Otomano. Essa fase marcaria o Líbano como uma das principais áreas de comércio do Império, sendo Beirute um dos principais centros comerciais dessa época, sendo uma ponte para o Oriente Médio e Europa.

A liberdade religiosa também foi um dos principais reconhecimentos da tutela do Império Otomano sobre o Líbano, como era uma terra muito étnica, as religiões predominantes eram os mulcumanos, cristãos e drusos. O império permitia que as comunidades expressassem as religiões e opiniões, desde que pagassem os impostos exigidos.

Após 4 séculos de governo, com a perda da primeira guerra mundial, o Império otomano se fragmentou, sendo dividido entre França, Grã-Bretanha e Itália. O Líbano, por sua vez, passaria a ser um protetorado francês e ali iniciaria uma nova fase.

Sob a administração francesa, o país pode enxergar um horizonte diferente com políticas mais brandas em relação ao reconhecimento libanês como Estado, na separação do território sirio-libanesa, reconhecimento a distinção religiosa e cultural. Além disso, houve o investimento na infraestrutura e a expansão do sistema educacional e como consequência, o francês é amplamente utilizado no Líbano até os dias atuais, sendo umas das principais línguas faladas no país. Porém, os problemas em se ter uma administração externa são evidentes, por causa do sistema confessionalista, essa estrutura tenta equilibrar os cargos de poder de acordo com as religiões locais. E como o Líbano é um Estado multi religioso, os cristãos maronitas ganharam mais força por, nitidamente, serem mais próximos ao lado ocidental, o que geraria um descontentamento pela parte

muçulmana contra essa política divisiva. Por fim, após uma grande pressão externa e por movimentos de independência, o Líbano se tornou independente em 1943, dando fim a um histórico de administrações externas e podendo seguir o seu próprio rumo. Após a sua independência foi quando o Líbano começou a ser classificado como ‘’A Paris do oriente médio’’ por conta da sua prosperidade econômica, e por ser um centro financeiro e cultural. No entanto, essa prosperidade serviu para esconder as mazelas do país, pois as instabilidades políticas do sistema confecionista geram tensões sectárias em um país tão diverso. Além disso, era notável a desigualdade social do país se aprofundar, fora que mesmo após a sua independência, o Líbano ainda sofria por intervenções externas, sendo extremamente influenciado por países. Por causa de todos esses fatores, em 1975, estourou a guerra civil libanesa, o pior evento da história do Líbano, este que mudaria para sempre os rumos do país, sendo divida em 4 partes:


● Fase inicial (1975 - 1976)

Marca o princípio da guerra civil, o estopim foi o confronto de milícias cristãs e palestinas em Beirute que acabou se tornando um conflito generalizado e desencadeou tensões entre cristãos e muçulmanos


● Intervenções Externas (1976-1978)

A Síria ingressou na guerra civil em apoio às milícias árabes, juntamente com o envio de forças para um sincronismo com a paz árabe. Enquanto isso, Israel já observava e temia com atenção a escalada do conflito.


● Conflito Israel-Palestino (1978-1982)

Em 1978, em resposta aos ataques da OLP em território israelense, Israel lançou a operação Litani, que correspondia a invasão do sul do Líbano para exterminar as bases da OLP. 4 anos mais tarde, Israel cercou e invadiu Beirute, que após 2 meses de receber os bombardeios israelenses, foi oficializada a saída da OLP da capital do país.


● Guerra Fragmentada (1985-1989)

Neste período houve uma ruptura maior do país, onde havia várias milícias atuantes e lutando por controle de territórios


● Acordo de Taif (1990)

O Acordo de Taif simbolizou o fim do conflito. Caracterizado como uma ‘’ Carta Nacional de Conciliação’’ foi mediado pela Arabia Saudita e teve como princípios a reestruturação do sistema político libanes, desarmamento de milícias e o fim da guerra.


O Líbano experimentou alguns anos de estabilidade após o Acordo de Taif, sendo marcado por reconstruções e uma forte aproximação com a Siría, porém, em 2005, aconteceria um atentado onde mudaria o rumo da política local, o assassinato do primeiro-ministro Rafik Hariri.

Rafik Hariri era uma importante figura chave na política libanesa, sendo extremamente participativo na reconstrução do país pós-guerra civil e por suas

conexões internacionais. O ex primeiro-ministro também era contra a participação da influência estrangeira no país, principalmente da Síria. Até os dias de hoje, as autoridades não sabem quem foram os autores do ataque. O governo do Líbano acusou o grupo paramilitar Hezbollah, porém os mesmos negam a autoria do feito. Consequentemente, eclodiu a revolução do Cedro, que foi um protesto em massa pela indignação ao assasinato de Hariri. Os manifestantes por sua vez, pediam a retirada de tropas sírias do Líbano, alegando que essas feriam a soberania do país, ademais de requisitarem apelo por justiça e manifestações em massa. No mesmo ano, com apoio dos EUA e França, a Síria se retira do território libanes. Para piorar a onda de instabilidades, 1 ano após a revolução do Cedro, estourou a Guerra do Líbano em 2006, sendo um conflito armado que envolveu o grupo paramilitar Hezbollah com o exército israelita.

O Hezbollah capturou soldados fronteiriços de Israel e pediu o resgate, o governo israelense recusou e iniciou uma campanha contra todo o território do Líbano. O conflito só veio a terminar 1 mês depois com a intervenção da ONU com a resolução 1701. A guerra teve impacto significativo no Líbano onde mais de 800.000 libaneses perderam suas casas em bombardeios israelenses.

Em decorrência da primavera arabe, o Libano, mesmo que não, sendo amplamente atingido, acabou sentindo os efeitos na região, sobretudo porque isso desencadeou a guerra na síria e causou um grande êxodo da população síria para o Líbano, que viu a entrada de refugiados virar uma situação sem controle, em acréscimo, o país carecia de uma estrutura e poder econômico para ajudá-los. Segundo a ACNUR, em 2021, a cada 10 refugiados sírios no Líbano, 9 vivem em situação de pobreza.

Adensando a insatisfação da população, em 2019, a proposta do governo de impor novas taxas sobre ligações pelo aplicativo WhatsApp desencadearam novos protestos, mas rapidamente evoluíram para um movimento maior contra a corrupção endêmica, má gestão econômica, falta de serviços públicos adequados e o sistema político sectário do país o que resultou na renúncia do primeiro ministro Saad Hariri.

Os protestos acabaram por perdurar até 2020, mesmo com a pandemia. No mesmo ano, o país ainda iria ficar marcado mundialmente pela explosão do porto de Beirute, por causa das 2750 toneladas de nitrato de amônio guardadas de maneira irregular.

É nítido que o Líbano, apesar da sua história rica e secular, também é marcado por conflitos, vulnerabilidade e influenciada pela política conturbada da região, além das diferentes administrações que controlavam o país até a sua independência. É importante ressaltar que o Estado libanes, precisa passar por uma reforma política profunda para poder se equilibrar, pois o sistema do confecionista já está mais do que datado e atrasa no desenvolvimento, ainda mais em um país que depende de exportações., Ademais, o líbano precisa criar mais políticas incisivas que o reforcem como um Estado soberano. É claro que não existe como não ser influenciado pelas políticas da região, pois todos os Estados fazem parte de um sistema, e possuem acordos econômicos, mas o Líbano

necessita uma maior força para enfrentar os problemas que o assombram e assumir o seu papel como um pilar forte no Oriente Médio.


 

Referências


Líbano, Um Ano Após o Conflito | ONU News. Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2007/07/1261191>. Acesso em: 23 out. 2023.

BBCBrasil.com | Reporter BBC | Entenda a crise no Líbano. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2007/05/070521_entendalibano novopc>. Acesso em: 23 out. 2023.

DOS, C. Operação Litani. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Litani>. Acesso em: 23 out. 2023.

Acordo de Taife. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_de_Taife>. Acesso em: 23 out. 2023.

Guerra do Líbano de 2006: resumo das causas e consequências. Disponível em: <https://www.suapesquisa.com/historia/guerra_libano_2006.htm>. Acesso em: 2 set. 2023.

Lembrando a morte de Rafic Hariri (1944-2005). Disponível em: <https://www.monitordooriente.com/20200214-lembrando-a-morte-de-rafic-hariri-194 4-2005/>. Acesso em: 23 out. 2023.

DOS, C. Revolução Colorida. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_dos_Cedros>. Acesso em: 23 out. 2023

Primavera Árabe. Origem e fatos da Primavera Árabe. Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/primavera-Arabe.htm>.

Acesso em: 23 out. 2023

O que foi e como terminou a Primavera Árabe? BBC News Brasil, [s.d.]. Disponívelem: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55379502>.

Acesso em: 23 out. 2023

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