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OBSERVATÓRIO

MUNDO EM FOCO: O MESMO OLHAR

Por: Roberta Ribeiro e Victoria Sousa, analistas internacionais

Nesse segundo dia (04/11) de sessão da ONU Mulheres com a temática “Mulheres em zonas de conflito: violência de gênero como arma de guerra”, destaca-se a fala da delegação do Human Rights Watch que clama por uma efetividade na resolução da problemática e um foco em propostas eficazes no combate à violência contra a mulher. A delegação chama a atenção para a relevância no tema que não é novo no campo político, tal "tática de guerra" pode ser observada em conflitos como os de Tigre na Nigéria (atual), na Guerra da Bósnia (1992-1995) e no Congo (1998-2003). Esse ato é entendido por especialistas como uma forma de violência contra o indivíduo do sexo oposto por o considerar inferior, nesse caso, as mulheres:

A expressão refere-se a situações tão diversas como a violência física, sexual e psicológica cometida por parceiros íntimos, o estupro, o abuso sexual de meninas, o assédio sexual no local de trabalho, a violência contra a homossexualidade, o tráfico de mulheres, o turismo sexual, a violência étnica e racial, a violência cometida pelo Estado, por ação ou omissão, a mutilação genital feminina, a violência e os assassinatos ligados ao dote e o estupro em massa nas guerras e conflitos armados (GROSSI, 1995)

O que se observa nessas situações é o corpo da mulher como título de posse masculina e, portanto, para invadir e dominar por completo um território tem-se que dominar também a mulher. Esse pensamento patriarcal de domínio sobre a mulher gerou e gera inúmeras violações dos direitos humanos onde, por exemplo, durante a guerra civil em Ruanda na década de 1990, estima-se pela ONU que cerca de 250 a 500 mil mulheres foram violentadas por milícias. São diversos os casos em que essa violência se repete e, por isso, o tema é de extrema relevância não só para debate, mas principalmente para proposição de resoluções capazes de rarear essa prática.

O que chama atenção no comitê é a falta de posicionamento da delegação brasileira como um todo. Isso porque a violência contra a mulher é uma triste realidade no Brasil perpetuada por uma cultura extremamente machista e sexista. Como exemplo podemos ter a fala do deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (Podemos), com um discurso que estimula atos de turismo sexual contra mulheres ucranianas que, nas palavras dele, são "fáceis, porque são pobres”. A fala reflete diretamente a pratica de violência sexual contra a mulher em periodos de guerra. Urge, portanto, um posicionamento mais incisivo da delegação brasileira frente ao tema.

A agenda propõe que o papel do fundamentalismo religioso e como ele afeta a realidade das mulheres seja discutido, contudo, as discussões sobre esse tema ainda não iluminam a realidade das mulheres e meninas afegãs. A vida depois do retorno do Talibã ao poder gira em torno do radicalismo, a rigor as mudanças que ocorrem depois da saída dos EUA do Afeganistão são pontuadas para a comunidade internacional de forma pontual.

No dia 21 de maio de 2022 as mulheres que são apresentadoras foram obrigadas a cobrir o rosto, no dia 07 desse mesmo mês o uso do véu que cobre o rosto passou a ser obrigatório. Além disso, qualquer mulher que se recuse a obedecer a nova regra pode ver seu guardião homem preso por três dias. A ordem também afirma que elas devem deixar a casa onde moram apenas "em casos de necessidade" e os parentes do sexo masculino sofrerão consequências se essas diretrizes forem ignoradas. Portanto, sistematicamente as mulheres vem perdendo direitos adquiridos no país, o direito de ir e vir, de acesso à educação, ao trabalho, o domínio sobre seus corpos.

Considerando a conjuntura política atual do Afeganistão, tê-lo nesse comitê passando sem maiores pressões demonstra um caráter dúbio entre as presentes delegações. O questionamento que fica é “Até que ponto manter o diálogo aberto e não incisivo beneficia mulheres e meninas afegãs?”

Outro ponto de destaque é a ocidentalização do debate, o que foi pontuado pelas delegações de Rússia e Armênia no dia de hoje. Há uma série de ataques destinados à postura de países orientais em relação ao tema, porém a questão discutida parte de um problema histórico central da humanidade, o patriarcado, por essa razão, a violência contra a mulher atinge não somente Estados do Oriente, mas evidentemente também o Ocidente. Como exemplo, têm-se os Estados Unidos que internamente teve um aumento nos casos de violência de gênero durante o isolamento social a partir de 2020, de acordo com a CNN Brasil. Mesmo assim mantém postura superior aos demais presentes, como defensor supremo dos Direitos Humanos, porém de maneira clara falha em defender as mulheres de seu país e possui um histórico de crimes de guerra no século XX e XXI.


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