Apesar de ter sido descoberto por Charles Hatchett em 1801, o nióbio só foi encontrado no Brasil por Djalma Guimarães em 1953 em Araxá no estado de Minas Gerais, sendo o seu processo de extração iniciado apenas em 1965 por Walther Moreira Salles, criador da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). Trata-se de um elemento químico usado como liga na produção de aços especiais e um dos metais mais resistentes à corrosão e a temperaturas extremas, e quando adicionado na proporção de gramas por tonelada de aço, confere maior tenacidade e leveza.
Em razão de suas características naturais, o nióbio possui uma grande versatilidade de aplicações. Acompanhando o avanço tecnológico dos últimos anos, este metal permite tanto o desenvolvimento e inovação no setor tecnológico quanto no de construção civil. A exemplo, pode ser citado aqui a utilização do nióbio na indústria automotiva, o que possibilita o carro ser mais leve e mais resistente às colisões. O nióbio é fundido ao aço que compõe as estruturas do automóvel, reduzindo o seu peso, e consequentemente o consumo de combustível, bem como, oferecendo mais segurança aos condutores do veículo. Além disso, como citado, o elemento pode ser utilizado no fortalecimento de estruturas urbanas, como é o caso da ponte ferroviária Zandhazen, na Holanda, que em suas placas de aço foram microligadas com nióbio, proporcionando uma maior conformabilidade e resistência.
Mas o destaque vai para a sua utilização na área aeroespacial e eletrônica. Na primeira, o nióbio com seu aspecto de suportar altas temperaturas, pode ser empregado na construção de aeronaves como aviões e foguetes. Nestes últimos, é visto seu emprego nos componentes do sistema de propulsão e exaustão dos foguetes como na da empresa estadunidense SpaceX. E já na área eletrônica, pode ser empregado na produção de baterias elétricas para carros, uma área que está crescendo demasiadamente nos últimos anos, haja visto a necessidade de desenvolver tecnologias que dialoguem com a sustentabilidade, a fim de não prejudicar ainda mais o ecossistema mundial. A exemplo disso, a CBMM vem estabelecendo parcerias com empresas do ramo da tecnologia, com o objetivo de criar baterias elétricas que oferecem maior estabilidade e um menor tempo de carregamento se comparado com as atuais baterias neste mercado.
Apesar dessas novas aplicações na extração do metal e inovações tecnológicas, o nióbio não deve ser considerado um produto que irá reverter o atual cenário econômico do Brasil. Isso pode ser verificado pela pequena parcela que o nióbio possui nas exportações de minérios. No segundo semestre de 2020, o valor total de exportação de substâncias minerais foi de US$ 21 bilhões de dólares, do qual, apenas US$ 600 milhões foram de ferronióbio e nióbio, o que corresponde apenas a 2,85% de todo o lucro obtido.
Outro motivo que demonstra tal cenário, é a baixa demanda no mercado internacional de comércio, isso porque, não requer a aplicação de uma grande quantidade de nióbio nos setores aqui explicitados, como também existem outros metais que possuem as mesmas funções, como é o caso do vanádio e titânio. Outros aspectos negativos, são os seus impactos causados ao meio ambiente provenientes da mina de extração. Como é o caso de Araxá, onde houve o desmatamento para que pudesse ser instalada a unidade da CBMM e casos de contaminação nas águas que abasteciam as regiões vizinhas que as consumiam. Da mesma forma, a possível necessidade de expansão da atividade de produção do nióbio em outras regiões onde há reservas, como é o caso da Amazônia, implica em um cenário agravante no aumento do desmatamento, uma vez que a região já passa por inúmeros abusos ambientais.
Todavia, pesquisas e desenvolvimento de produtos manufaturados a partir do nióbio podem favorecer a expansão tecnológica e econômica no Brasil. Isso, uma vez que o investimento governamental no setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) tem impactos positivos em outros setores importantes para a economia de um país. Tal efeito é denominado de spillover, onde a manufatura de novos produtos e tecnologias passam a ser adotados em outros setores, e consequentemente, os efeitos se difundem, trazendo a longo prazo, benefícios para economia como um todo.
Assim, depreende-se que o investimento na área de P&D é uma política essencial para o avanço tecnológico brasileiro, mas por outro lado, essa prática é cada vez menos realizada no Brasil. Dados apontam que a média de investimento nessa área de 2000 até 2018 em relação ao PIB brasileiro foi de 1,05%, o que é relativamente baixo se for comparado com a média mundial entre 2014 a 2018, sendo esta de 1,79%. Esses investimentos poderiam alterar o quadro nacional de exportação de produtos manufaturados com base na origem do nióbio e entre outros, que atualmente não possui um alto valor agregado, uma vez que os produtos só chegam na fase final de fabricação como semimanufaturados e consumidos desta mesma maneira no mercado internacional.
Portanto, para que o Brasil possa aproveitar suas reservas e obter ainda mais lucros com o metal, faz-se necessário a elaboração de políticas para a sua utilização a longo prazo. A parceria entre o setor público e privado permitirá a concomitância dos objetivos de ambos os setores, providenciando um ambiente propício à inovação e desenvolvimento econômico, colocando o país no mercado internacional como um agente detentor de tecnologias avançadas, permitindo a transferência de tecnologia e a realização de cooperações com empresas internacionais e com outros Estados. Logo, percebe-se a importância dos investimentos em pesquisas que viabilizem a exportação de produtos manufaturados bem como para a expansão nos demais setores que compõem as cadeias produtivas brasileiras.
REFERÊNCIAS
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