top of page
Foto do escritorNURI

Nióbio: Um metal capaz de mudar a economia do Brasil?

Atualizado: 14 de set. de 2021

Apesar de ter sido descoberto por Charles Hatchett em 1801, o nióbio só foi encontrado no Brasil por Djalma Guimarães em 1953 em Araxá no estado de Minas Gerais, sendo o seu processo de extração iniciado apenas em 1965 por Walther Moreira Salles, criador da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). Trata-se de um elemento químico usado como liga na produção de aços especiais e um dos metais mais resistentes à corrosão e a temperaturas extremas, e quando adicionado na proporção de gramas por tonelada de aço, confere maior tenacidade e leveza.


Em razão de suas características naturais, o nióbio possui uma grande versatilidade de aplicações. Acompanhando o avanço tecnológico dos últimos anos, este metal permite tanto o desenvolvimento e inovação no setor tecnológico quanto no de construção civil. A exemplo, pode ser citado aqui a utilização do nióbio na indústria automotiva, o que possibilita o carro ser mais leve e mais resistente às colisões. O nióbio é fundido ao aço que compõe as estruturas do automóvel, reduzindo o seu peso, e consequentemente o consumo de combustível, bem como, oferecendo mais segurança aos condutores do veículo. Além disso, como citado, o elemento pode ser utilizado no fortalecimento de estruturas urbanas, como é o caso da ponte ferroviária Zandhazen, na Holanda, que em suas placas de aço foram microligadas com nióbio, proporcionando uma maior conformabilidade e resistência.


Mas o destaque vai para a sua utilização na área aeroespacial e eletrônica. Na primeira, o nióbio com seu aspecto de suportar altas temperaturas, pode ser empregado na construção de aeronaves como aviões e foguetes. Nestes últimos, é visto seu emprego nos componentes do sistema de propulsão e exaustão dos foguetes como na da empresa estadunidense SpaceX. E já na área eletrônica, pode ser empregado na produção de baterias elétricas para carros, uma área que está crescendo demasiadamente nos últimos anos, haja visto a necessidade de desenvolver tecnologias que dialoguem com a sustentabilidade, a fim de não prejudicar ainda mais o ecossistema mundial. A exemplo disso, a CBMM vem estabelecendo parcerias com empresas do ramo da tecnologia, com o objetivo de criar baterias elétricas que oferecem maior estabilidade e um menor tempo de carregamento se comparado com as atuais baterias neste mercado.


Apesar dessas novas aplicações na extração do metal e inovações tecnológicas, o nióbio não deve ser considerado um produto que irá reverter o atual cenário econômico do Brasil. Isso pode ser verificado pela pequena parcela que o nióbio possui nas exportações de minérios. No segundo semestre de 2020, o valor total de exportação de substâncias minerais foi de US$ 21 bilhões de dólares, do qual, apenas US$ 600 milhões foram de ferronióbio e nióbio, o que corresponde apenas a 2,85% de todo o lucro obtido.


Outro motivo que demonstra tal cenário, é a baixa demanda no mercado internacional de comércio, isso porque, não requer a aplicação de uma grande quantidade de nióbio nos setores aqui explicitados, como também existem outros metais que possuem as mesmas funções, como é o caso do vanádio e titânio. Outros aspectos negativos, são os seus impactos causados ao meio ambiente provenientes da mina de extração. Como é o caso de Araxá, onde houve o desmatamento para que pudesse ser instalada a unidade da CBMM e casos de contaminação nas águas que abasteciam as regiões vizinhas que as consumiam. Da mesma forma, a possível necessidade de expansão da atividade de produção do nióbio em outras regiões onde há reservas, como é o caso da Amazônia, implica em um cenário agravante no aumento do desmatamento, uma vez que a região já passa por inúmeros abusos ambientais.


Todavia, pesquisas e desenvolvimento de produtos manufaturados a partir do nióbio podem favorecer a expansão tecnológica e econômica no Brasil. Isso, uma vez que o investimento governamental no setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) tem impactos positivos em outros setores importantes para a economia de um país. Tal efeito é denominado de spillover, onde a manufatura de novos produtos e tecnologias passam a ser adotados em outros setores, e consequentemente, os efeitos se difundem, trazendo a longo prazo, benefícios para economia como um todo.


Assim, depreende-se que o investimento na área de P&D é uma política essencial para o avanço tecnológico brasileiro, mas por outro lado, essa prática é cada vez menos realizada no Brasil. Dados apontam que a média de investimento nessa área de 2000 até 2018 em relação ao PIB brasileiro foi de 1,05%, o que é relativamente baixo se for comparado com a média mundial entre 2014 a 2018, sendo esta de 1,79%. Esses investimentos poderiam alterar o quadro nacional de exportação de produtos manufaturados com base na origem do nióbio e entre outros, que atualmente não possui um alto valor agregado, uma vez que os produtos só chegam na fase final de fabricação como semimanufaturados e consumidos desta mesma maneira no mercado internacional.


Portanto, para que o Brasil possa aproveitar suas reservas e obter ainda mais lucros com o metal, faz-se necessário a elaboração de políticas para a sua utilização a longo prazo. A parceria entre o setor público e privado permitirá a concomitância dos objetivos de ambos os setores, providenciando um ambiente propício à inovação e desenvolvimento econômico, colocando o país no mercado internacional como um agente detentor de tecnologias avançadas, permitindo a transferência de tecnologia e a realização de cooperações com empresas internacionais e com outros Estados. Logo, percebe-se a importância dos investimentos em pesquisas que viabilizem a exportação de produtos manufaturados bem como para a expansão nos demais setores que compõem as cadeias produtivas brasileiras.




REFERÊNCIAS


ALVARENGA, Darlan. ‘Monopólio’ brasileiro do nióbio gera cobiça mundial, controvérsia e mitos. G1 Economia, 2013. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2013/04/monopolio-brasileiro-do-niobio-gera-cobica-mundial-controversia-e-mitos.html.

AGÊNCIA NACIONAL DE MINERAÇÃO. Informe Mineral: 02 Semestre em 2020. Brasil, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/anm/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/serie-estatisticas-e-economia-mineral/informe-mineral/publicacoes-nacionais/informe_mineral_02sem2020.pdf.

PAES, Caio de Freitas. O nióbio e seu impacto silencioso no Brasil. Diálogo Chino, 2019. Disponível em: https://dialogochino.net/pt-br/industrias-extrativistas-pt-br/25588-o-niobio-e-seu-impacto-silencioso-no-brasil‌/.

CORDEIRO, Tiago; GARATTONI, Bruno. A verdade sobre o nióbio. Super Interessante, 2017. Disponível em: https:AGÊNCIA NACIONAL DE MINERAÇÃO. Informe Mineral: 02 Semestre em 2020. Brasil, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/anm/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/serie-estatisticas-e-economia-mineral/informe-mineral/publicacoes-nacionais/informe_mineral_02sem2020.pdf.

KINCH, Diana. CBMM strikes partnerships to pioneer niobium-bearing battery development. S&P Global Platts, 2021. Disponível em: https://www.spglobal.com/platts/pt/market-insights/latest-news/metals/061821-cbmm-strikes-partnerships-to-pioneer-niobium-bearing-battery-development.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÕES. Dispêndio nacional em pesquisa e desenvolvimento (P&D), em valores correntes, em relação ao total de P&D e ao produto interno bruto (PIB), por setor institucional, 2000-2018. Disponível em: https://antigo.mctic.gov.br/mctic/opencms/indicadores/detalhe/recursos_aplicados/indicadores_consolidados/2_1_3.html.

MONTENEGRO, R. L. G. et al. Pesquisa e desenvolvimento, estrutura positiva e efeitos econômicos: avaliando o papel do financiamento público na economia brasileira (2011-2020). Disponível em: https://www.anpec.org.br/encontro/2018/submissao/files_I/i9-98970220f36d560678d759fd066f74dc.pdf.

NEOFEED. A corrida espacial da CBMM. 2021. Disponível em: https://neofeed.com.br/blog/home/a-corrida-espacial-da-cbmm/.

NIOBIUM. Zandhazen railway bridge case study. 2018. Disponível em: https://niobium.tech/en/pages/gateway-pages/pdf/cases/zandhazen_railway_bridge_case_study.

SCHNEEGANS, S.; LEWIS, J.; T. Straza (Eds.). Relatório de Ciências da UNESCO: A corrida contra o tempo por um desenvolvimento mais inteligente – Resumo executivo. Paris: UNESCO Publishing, 2021.

SEER, Hildor José; MORAES, Lucia Castanheira. Nióbio. Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Minas Gerais, 2018. Disponível em: http://recursomineralmg.codemge.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Niobio.pdf.





27 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page