Na última quarta-feira (17/03), depois de quase 6 anos, o Comitê de Política Monetária (Copom) tomou a decisão, por unanimidade, de aumentar a taxa de juros básica (Selic) brasileira para 2,75% ao ano. Sendo a taxa Selic o maior instrumento de política monetária do Banco Central, essa medida foi tomada com o objetivo de reduzir o volume da circulação de dinheiro no país, já que com as taxas em alta a preferência é investir em vez de gastar (investimentos em renda fixa, como o Tesouro Direto, por exemplo, se tornam mais rentáveis).
A mudança ocorreu principalmente devido à alta da inflação e ao início de uma estagnação econômica, originando a pior combinação para uma economia e a mais perversa para uma população caso a situação saia de controle: a estagflação. Preços altos geralmente sinalizam uma economia aquecida e dinâmica, mas, junto a uma grande taxa de desemprego e queda na renda per capita, significam uma grande crise e consequente desaceleração do crescimento do país.
O desemprego e a inflação são impactantes na vida dos brasileiros, sendo perceptível facilmente em uma ida ao supermercado, onde, por exemplo, o quilo da batata pode estar custando x reais em um dia e x+2 reais no outro ou com a grande falta de oferta de empregos no mercado de trabalho. Foram os alimentos, inclusive, junto ao preço do litro da gasolina, os principais vilões da inflação dos últimos 12 meses, com o aumento da exportação de commodities agropecuários e a grande demanda internacional de petróleo acelerando o processo.
O poder de compra da população é diretamente afetado por esses dois fatores, já que ela é obrigada a gastar mais para adquirir bens de consumo e serviços básicos, mas sem ter seus recursos financeiros aumentados, acentuando as discrepâncias socioeconômicas de um país. Enquanto os mais ricos realizam cortes nos gastos resguardados apenas às áreas de lazer, os mais pobres precisam cercear seus gastos com comida e serviços básicos, levando muitas vezes a contração de dívidas para sobreviver.
A decisão tomada passa a mensagem de que a economia brasileira não necessita mais de tanto estímulo como havia sendo dado, obrigando o Banco Central a controlar a crise por meio de uma política monetária intervencionista que força a queda do consumo pela sociedade. A falta de investimentos públicos por parte do Estado também reflete no cenário atual, já que seriam necessárias ações estratégicas prévias governamentais para atrair capital e posteriores para tentar controlar o cenário econômico predador que se instala no Brasil.
REFERÊNCIAS:
ALEGRETTI, Laís. 'Bolsocaro'? O que explica inflação mais alta para os mais pobres durante a pandemia. BBC News Brasil, 2021. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56413841>. Acesso em: 20 de mar. de 2021.
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BUSCH, Alexandre. Apertem os cintos, o Brasil ruma para uma estagflação. Deutsche Welle, 2021. Disponível em: <https://p.dw.com/p/3qorQ>. Acesso em: 20 de mar. de 2021.
ELIAS, Juliana. Estagflação? Cenário de crescimento baixo e inflação alta volta a rondar Brasil. CNN Brasil, 2021. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/03/11/estagflacao-cenario-de-crescimento-baixo-e-inflacao-alta-volta-a-rondar-brasil>. Acesso em: 20 de mar. de 2021.
FERREIRA, Gustavo. Copom sobe Selic aos 2,75% ao ano, primeira alta em 6 anos, e promete mais. Valor Investe, 2021. Disponível em: <https://valorinveste.globo.com/mercados/moedas-e-juros/noticia/2021/03/17/copom-sobe-selic-juros-aos-275percent-ao-ano-primeira-alta-em-6-anos-banco-central.ghtml>. Acesso em: 20 de mar. de 2021.
IDOETA, Paula Adamo. Selic: por que o Banco Central subiu a taxa de juros e quais são as consequências. BBC News Brasil, 2021. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56437290>. Acesso em: 20 de mar. de 2021.
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