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OBSERVATÓRIO | Milla Macedô

O POVO MOÇAMBICANO: HISTÓRIA, CULTURA, E APRENDIZADOS

Atualizado: 12 de nov.


Em julho de 2024, um serviço voluntário realizado por uma equipe de jovens durante 20 dias em Moçambique, foi o suficiente para gerar uma experiência profunda e transformadora. Durante esse período intenso, visita a diversos lugares – de onde havia fartura, até onde a escassez dominava; conhecer pessoas que carregam histórias incríveis; e experimentar a cultura única que a nação carrega, promoveu uma bagagem de vivências que trouxeram conhecimentos significativos. Essa trajetória levou o grupo a carregar um profundo amor pela nação, e o reconhecimento da necessidade de documentar cada aprendizado adquirido por eles e principalmente pela autoria deste artigo, durante a viagem. 

A base de estudo das Relações Internacionais são os Estados e como eles se relacionam entre si. Contudo, um Estado não pode ser reconhecido como tal sem o seu principal fator que o compõe – o povo. Com isso, este artigo tem como tema central o povo de Moçambique em específico, abordando sua história, cultura e o que pode ser extraído como aprendizado através do estilo de vida e lutas vivenciadas pelas pessoas desta nação, com pesquisas baseadas em relatos dos próprios moçambicanos e de pessoas que, assim como a autoria, tiveram suas vidas transformadas através da convivência com os mesmos.


SOBRE O PAÍS


A República de Moçambique está situada no sudeste africano, com sua costa banhada pelo Oceano Índico, o que o faz possuir um exuberante litoral. Seu idioma oficial é o português, porém cada província possui diversas línguas tradicionais diferentes, totalizando cerca de 43 na região inteira. A moeda oficial do país é o metical moçambicano, e o atual presidente é o Filipe Nyusi. A população de mais de 32 milhões de habitantes está em maior parte concentrada no meio rural, onde a agricultura é uma das principais atividades econômicas do país. Dispõe de grande riqueza cultural, com manifestações como a música e a literatura, que possuem reconhecimento internacional. 



Infelizmente, a nação enfrenta problemas políticos e econômicos atualmente, o que afeta duramente a maioria da população. Com isso, Moçambique é considerado um dos países mais pobres do mundo, com 64,6% da população vivendo abaixo da linha da pobreza (ONU,2020), e vem se recuperando de conflitos internos gradativamente, como a guerra civil de 1977 a 1992.


MARCAS DE UM PASSADO COLONIAL


O território moçambicano passou por um processo de povoamento muito antes da chegada dos seus colonizadores, e era habitado por povos africanos diversos, como os bantus. Os portugueses se instalaram inicialmente no litoral, entrando para o interior apenas a partir da década de 1530, com a comitiva do navegador Vasco da Gama, que realizou diferentes incursões pelo litoral moçambicano, até à anexação desse território a Portugal (ARQUIVO NACIONAL, 2017). Moçambique conquistou a sua independência de Portugal no dia 25 de junho de 1975, após quatro séculos de domínio português marcado pela massiva exploração de recursos naturais e mão de obra, além do aumento da desigualdade social local. O país teve como primeiro presidente da República Samora Moisés Machel, um dos líderes da guerra em prol da independência e soberania moçambicana.

As marcas do colonialismo são muito latentes até os dias atuais, afinal a independência da nação foi conquistada há somente 49 anos. Durante a visita ao país, o fato de que muitos moçambicanos possuem um certo grau de complexo de inferioridade, foi notório. Grande parte das pessoas na qual teve-se contato, costumavam enxergar a equipe de voluntários de forma superior a eles, essa percepção era explícita em suas falas e comportamentos. Em uma conversa com uma nativa, ela comentou: “Ainda temos uma ideia colonial muito presa em nossa mente, as pessoas daqui sempre acham que o que vem de fora é melhor, eles acham que só podemos receber o que é bom, sendo que também podemos dar.”

Em outro questionamento a uma jovem moçambicana chamada Emília Isabel Dengo, sobre quais são as marcas causadas pelo processo de exploração que são notadas frequentemente, a jovem afirmou que as sequelas são muitas, a morte da cultura tradicional do país,  foi considerada a principal delas, a moçambicana pontuou: “as línguas maternas estão sendo esquecidas, não sendo faladas por muitos jovens pois não são ensinadas nas escolas, onde se ensina somente o português.” Também foi afirmado por ela, que um dos exemplos da desvalorização da cultura moçambicana é a vestimenta de grande parte dos jovens, que em parte, têm adotado o estilo europeu de se vestir, deixando de lado as roupas tradicionais como a capulana. 


LUTAS E APRENDIZADOS


Apesar de possuir uma rica reserva natural, Moçambique está no ranking do 5º país mais pobre do mundo, de acordo levantamento realizado pelo FMI; e com 64,6% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, segundo dados divulgados pela ONU referentes a 2019 e 2020. A pobreza em Moçambique é agravada por fatores políticos, sociais e culturais, a instabilidade política e a violência afetam negativamente o desenvolvimento do país e contribuem para a falta de segurança alimentar e nutricional, o acesso limitado aos serviços básicos de saúde e educação, bem como a falta de infraestrutura (SUNO, 2023). Por conta disso, a maioria da população vive de forma indigna, se submetendo a meios de trabalho precário e exaustivo, para sobreviver com o básico. Além disso, a nação também enfrenta graves problemas referentes à violência, sendo ainda mais pertinente no norte do país. Na província de Cabo Delgado, foram noticiados diversos casos de sequestros, assassinatos e incêndios causados por grupos armados, o que ocasionou a fuga de 801 pessoas (ONU NEWS, 2024).

Durante a experiência dos voluntários no país, também foram vivenciadas parte das dificuldades que o povo moçambicano vive diariamente também foram vivenciadas, porém, além de tudo que foi passado em relação aos problemas enfrentados, o que mais causou impacto foi a gratidão, alegria e generosidade que eles carregam. Ao perguntar a pessoas materialmente pobres o que elas gostariam de ter, a maioria das respostas eram “Gostaria de ver minha família saudável” ou “Quero conhecer mais sobre Deus”, o fato da ausência de pedidos relacionados a bens materiais ou dinheiro provaram que o coração deles está no que é mais importante – o amor. A maneira que a equipe foi bem acolhida também foi algo que constrangeu, ao serem recebidos em diferentes lugares com música, dança, e comida. Ao serem servidos de forma excepcional, os moçambicanos que os recepcionaram faziam questão de partilhar com alegria o que tinham, sendo muito ou pouco. Ao conversar, se mostravam sempre interessados em ouvir. Cada sorriso e abraço dados à equipe, foram os mais sinceros e profundos já recebidos por alguém que não os conheciam. Mesmo com a ausência de eletrônicos que facilitam a rotina de quem vive em um meio digital, os moçambicanos tinham tempo para as pessoas.  Através de tudo isso, foi identificado pelos que tiveram o privilégio de conhecer esse povo, que eles carregam o que realmente importa. 

Cada problema noticiado remetido aos moçambicanos neste artigo, são para que possam ser interpretados, através do estilo de vida exemplar que muitos deles levam, aprendizados para a forma de como são enfrentadas as dificuldades cotidianas de quem lê este artigo. Conclui-se também o fato de que um Estado não é definido somente pelo seu governo, a melhor forma de conhecer uma nação é através do povo que o compõe, a qual deve ser dado visibilidade. Sendo assim, cada cultura, tradição e característica que formam um grupo social de um país, carregam informações essenciais, onde é de grande relevância que sejam enfatizadas, onde através disso, aqueles que a consumirem, abra os olhos para o conhecimento de novas perspectivas que geram novas atitudes. 


 

REFERÊNCIAS 


GUITARRARA, Paloma. Moçambique; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/mocambique.htm. Acesso em 21 de outubro de 2024.


MOÇAMBIQUE. Período Pré-Colonial. Portal do Governo de Moçambique. 16 jun. 2015. Disponível em: https://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Historia-de-Mocambique/Periodo-Pre-Colonial. Acesso em: 11 out. 2024. 


REIS, Tiago. Países mais pobres do mundo: confira a lista atualizada. SUNO, 2024. Disponível em: https://www.suno.com.br/guias/paises-mais-pobres-do-mundo/. Acesso em: 15 de out. de 2024. 


ONU News. Violência em Moçambique persiste apesar de redução de ataques de grupos armados não-estatais. 5 jan. 2024. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2024/01/1825792. Acesso em: 21 out. 2024.


CAMPOS, Mateus. Moçambique; Mundo Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/mocambique.htm. Acesso em: 30 de out. de 2024.



48 visualizações2 comentários

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2 Comments


Jane Macedo
Jane Macedo
Nov 12

Que linda história, apesar de ser o país mais lindo pobre eles carregam e demonstram o mais importante que é o amor ❤️‍🔥

Que Deus continue abençoando esse povo🙌🏽🙌🏽

Parabéns Milla Macedo pela narrativa 👏🏼👏🏼👏🏼

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unijorge.trabalhos1
Nov 13
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Obrigada❤️

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