Antes de falar sobre o que é a Nova Rota da Seda vale ressaltar o que foi a rota original. Formada em um momento no qual a China era o principal centro da economia eurasiática, para ligar a Ásia à Europa e considerando a posição geoestratégica das suas vias, a rota acabou fundando uma cadeia comercial entre os países da região, cujo produto mais comercializado, era a seda - que na época, só a China possuía o know how da fabricação - daí o nome “Rota da seda”, que foi de grande importância para o desenvolvimento e crescimento das regiões pelas quais passava. O entendimento desses acontecimentos, ocorridos séculos atrás, são necessários para contextualizar o surgimento da Nova Rota da Seda, One Belt, One Road, anunciada em 2013.
A China, por ter um regime político baseado no socialismo, acabou por um bom período se isolando dos outros países. Entretanto, pode-se perceber que a entrada do país em 2001 na Organização Mundial do Comércio (OMC), dentre outros aspectos, demonstra como o Estado vem gradativamente pautando seu processo de abertura econômica, ampliando cada vez mais sua inserção como player no cenário internacional.
Nesse sentido, a Nova Rota da Seda, também conhecida como "Iniciativa do Cinturão e Rota”, decorre de uma estratégia da China de se estabelecer como liderança comercial mundial. Tal proposta tem o objetivo de interligar, por meio de rotas terrestres, a Europa, o Oriente Médio, a Ásia e a África, além de buscar vincular, por meio de rotas marítimas, os oceanos Pacífico e Índico e o mar Mediterrâneo, tendo como base o desenvolvimento de uma série de investimentos nas áreas de transporte e infraestrutura. Dessa forma, a Iniciativa do Cinturão e Rota está associada a um discurso de cooperação econômica e técnica entre os países envolvidos na iniciativa e no estabelecimento de novos mercados e de zonas de livre comércio.
Os Corredores econômicos presentes na Nova Rota da Seda são/serão:
1. Corredor Econômico da China, Mongólia e Rússia: Composta de ferrovias que cruzam a região da antiga Steppe Road – faz ligação com a ponte terrestre da Eurásia.
2. Nova ponte terrestre da Eurásia: é composta de extensões de ferrovias para a Europa: via Cazaquistão, transpassando Rússia, Bielorrússia, Polônia até a Alemanha.
3. Corredor Econômico da China, Ásia Central e Ásia Ocidental: interliga a região ao Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão, Turquemenistão, Irã e Turquia.
4. Corredor Econômico China-Península da Indochina: conecta a Vietnã, Tailândia, Laos, Camboja, Mianmar e Malásia.
5. Corredor Econômico da China-Paquistão: Esse projeto liga a cidade de Kashgar, na instável província de Sikiang, com a cidade portuária de Gwadar, no Paquistão, onde se localiza um moderno porto de águas profundas, financiado pelos chineses, utilizado para fins tanto comerciais quanto militares.
6. Corredor Econômico da China, Bangladesh, Índia e Mianmar: Consiste no projeto mais acometível, dada a rivalidade histórica Sino-Indiana e, essencialmente, a desconfiança e rejeição da República da Índia, a iniciativa da Nova Rota da Seda (MAZZI, 2020).
Apesar de contar com características multilaterais, a Rota foi pensada para consolidar redes bilaterais de apoio, assim, a ideia chinesa é estabelecer uma série de acordos feitos entre dois países, sendo sempre, um deles a China, e não entre vários ao mesmo tempo. Só de acordos feitos entre si, com outro paíse não entre vários ao mesmo tempo. Só em 2014 a China investiu $40 bilhões no Fundo da Rota da Seda (THE WALL STREET JOURNAL, 2014), tendo mais de 70 países envolvidos no projeto.
"[...] é crucial destacar que a Nova Rota da Seda é dotada de projetos de infraestruturas que, caso viabilizados, podem alterar a cadeia logística do comércio internacional, gerando vantagens para o transporte de mercadorias e diminuindo os seus custos logísticos."
Considerando que, segundo dados do Banco Mundial, a iniciativa do Cinturão e Rota já representa mais de 30% do PIB global e, tendo em vista a quantidade de acordos de cooperação já assinados com a China e do número de países que já fazem parte do projeto, se percebe a grande importância da Nova Rota da Seda e o quanto ela vai modificar as relações da China com o mundo nos mais diversos âmbitos. Não se pode negar que é um projeto desafiador, mas ainda assim não deixa de ser possível.
Trazendo uma pequena ajuda da teoria é possível analisar melhor a situação, por exemplo, “[...] para Mearsheimer, conforme a teoria do realismo ofensivo, os Estados entram em uma busca insaciável por poder, quando conseguem querem mais, saindo de suas zonas de influência para tentar conquistar outras…”(TEODORO, 2019). Com a
Nova Rota da Seda é vista essa possibilidade, praticamente uma certeza, pois a China passou a apresentar um comportamento próximo do imperialismo, especialmente no comércio. Logo, a liderança comercial do Estado sobre o resto do mundo se encontra muito mais próxima agora, em 2021, do que em 2013.
Diante do exposto se percebe que o que antes era visto como impossível vem sendo trazido à realidade. O estreitamento de relações entre os países do mundo e os investimentos bem direcionados são pontos positivos que possibilitam uma, relativamente, rápida finalização do projeto. Afinal, o governo chines deseja comemorar o centenário da revolução comunista tendo alcançado a posição hegemônica hoje de posse estadunidense, e a Nova Rota da Seda é um dos meios de se chegar mais perto deste sonho.
REFERÊNCIAS
AUGUSTO, Pedro. Rota da Seda. InfoEscola. Disponível em: https://www.infoescola.com/historia/rota-da-seda/. Acesso em 28 de fev. de 2021
BARBOSA, Manuelly P.; LIMA, Marcos Costa; FONSECA, Pedro A. A; GOMES JÚNIOR, Robson A. M. Gomes; ALVES Vítor L. Nova Rota da Seda e ascensão pacífica chinesa. Neari em revista, 2016. Disponível em: http://faculdadedamas.edu.br/revistafd/index.php/neari/article/viewFile/388/372. Acesso em 28 de fev. de 2021.
BARBOSA, Pedro H. B. Nova Rota da Seda chinesa completa seis anos com mudanças à vista. Le monde Diplomatique Brasil, 2019. Disponível em: https://diplomatique.org.br/nova-rota-da-seda-chinesa-completa-seis-anos-com-mudancas-a-vista/. Acesso em: 3 de maio de 2021
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