Por: Carlos da Hora, Iasmin Cardoso, Lívia Alves e Natália Meira
De mensagens criptografadas, gritaria, pedidos de moções para aumento de tempo de discurso a todo tempo à discussões sobre a produção infantil Peter Pan, o primeiro dia para os delegados do Comitê ONU Mulheres foi bem agitado e, diga-se de passagem, barulhento.
O dia começou com uma dinâmica de familiarização, oferecida pela Mesa, para aquelas que não têm experiência em simulações, discutindo-se o tema “Peter Pan: tráfico humano x história infantil”. Nesse primeiro momento, já foi possível observar o perfil de cada delegado e, também, perceber os possíveis destaques do dia. A primeira delegação a se apresentar no debate foi a da China, que, de forma curta e grossa, deixou clara sua posição no debate, afirmando que, quem via quaisquer sombra de referências ao tráfico infantil, estava projetando seus delírios em um simples filme infantil. Sincera, né?
Em contraponto, a ONG Cruzando Histórias (ou, pelo menos, o que foi possível ouvir de sua fala) e a Anistia Internacional apresentaram o fato de crianças estarem sendo entregues à estranhos, o que, para elas caracteriza, facilmente, tráfico humano (esqueceram da parte de exploração sexual, escravização e formas de coação, mas, cada um com suas percepções, não é mesmo?). Os delegados da República de Moçambique e da República Árabe do Egito mostraram-se extremamente indignados e revoltados com a comparação de um simples filme infantil com o tráfico infantil, e, se você estava no último andar da UNIJORGE, tenho certeza de que conseguiu ouvir perfeitamente tudo o que esses dois estavam apresentando.
Encerrando a dinâmica de familiarização, deu-se início à real discussão. Mas, para você que está lendo, nem se anime: nada foi resolvido e o objetivo do debate se perdeu entre brigas de ego e necessidades de reafirmação. A sessão começou com um pedido de moção para aumento do tempo de discurso, que foi negado pela Mesa (foi a primeira, mas não a última vez!). Em seus discursos de abertura, muitas delegações escolheram afirmar o óbvio: precisam lutar pelo direito das mulheres, mas não passam de meras palavras, visto que, no decorrer, poucos realmente demonstraram se importar com o tema, já que as picuinhas e discussões pareciam ser mais interessantes.
Dando segmento, deu-se início à segunda sessão e, novamente, com falas e debates que não se encaixavam no tema proposto. A delegação da França faz menção direta à delegação da China, ironizando seu posicionamento, alegando que a mesma não possui contato político com outros países e, em seu direito de resposta concedido, a República da China, fazendo referência ao lema da Revolução Francesa, questiona “Liberté, égalité, fraternité para quem?”, insinuando que o país só defende os direitos das mulheres (e de minorias) quando é conveniente.
A delegada de Cuba, por sua vez, alfineta a Federação Russa, afirmando que “o combate à desigualdade de gênero ocorre em países minimamente sensatos” e aponta que o país sofreu devido a rede de tráfico humano que ludibria cubanos prometendo emprego e os leva para luta na guerra Rússia x Ucrânia. Novamente, é percebida a fuga do tema principal do comitê e, além disso, os delegados também não conseguiram sequer se manter nas regras dos direitos humanos, Afeganistão defendeu que manter suas mulheres em casa irá ajudar na diminuição do tráfico humano, a delegação pensa que cárcere é a melhor resposta? Também houveram frases de base preconceituosas como a da Ucrânia sobre defender os direitos de "homens, mulheres e trans", generalizando e isolando pessoas trans e outras ainda piores como a da delegação mexicana "mulheres são seres humanos assim como nós", o que deixa claro que alguns delegados se perderam em seus discursos.
Nem na hora de aproveitar seu tempo para discussões construtivas os delegados conseguiram chegar em um consenso, ou sequer se manter no objetivo, durante as decisões para definir o desfecho do documento de resolução. Foram postas soluções breves sobre a problemática do comitê, porém a conversa logo se dispersou, uma mensagem criptografada sem origem atiçou o interesse dos delegados, mostrando que eles estavam mais interessados em descobrir esse mistério do que discutir o documento, dando origem a um diálogo sem rumo. Se a mesa usou desse artifício para movimentar as delegações, infelizmente só surtiu efeito em uma briga pré descoberta, porque depois que a mensagem foi revelada, parece que o caso ligado a elas interessou pouco as delegações.
A Armênia fez propostas relacionadas à proteção ambiental e aproveitou a fala para cobrar posicionamento da Rússia, que até o momento só se posicionou sobre a impossibilidade de consenso entre os países, logo após, a Anistia Internacional ressalta a importância dos debates, que não parece funcionar bem para esses delegados, a China cita a diferença entre proteção e direitos enquanto a Alemanha fala a verdade sobre a situação: o documento de resolução acabou sendo redundante, baseado em citações da agenda da ONUM, os delegados pediram moção 3 vezes durante a segunda sessão, mas mesmo assim acabaram sem nenhum consenso, no final do tempo de discussão, a Rússia provou seu ponto mesmo sem ter ajudado nas decisões, os delegados realmente não conseguem chegar em nenhuma concordância, e por fim o documento não foi entregue no seu horário prévio.
EU AMEI ISSO! Duro de se ler, mas necessário! Que o segundo dia tenha um direcionamento mais preciso que o primeiro, mas que nos forneça momentos únicos como os de hoje!