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CENINT > Breno Dornelas e Isabela Brito

Os Impactos do Ramadã na Agenda Comercial Global

O Ramadã ou Ramadan é o nono mês do calendário islâmico e o mais importante para a religião muçulmana, pois, foi o mês em que o Alcorão foi revelado à Muḥammad pelo arcanjo Gabriel, vindo do céu a mando de Allah. Por ser baseado no calendário lunar, o período do Ramadã não acontece na mesma data todos os anos, podendo ocorrer em qualquer estação ou mês. Neste ano, correspondeu aos dias 12 de abril até o dia 12 de maio. Durante todo mês, é praticado o jejum (sawm) do nascer até o pôr do sol, que é realizado para celebrar a palavra de Allah. Este é considerado um dos cinco pilares do islamismo. Durante o jejum, (o muçulmano) deverá se abster de qualquer alimento, água e pensamentos ou ações negativas, que possam trazer vícios. A fim de compor outro dos cinco pilares do islamismo, as doações de caridade têm aumento significativo nesse período.

O islamismo, com 1,8 bilhão de fiéis, é a religião que mais cresce no mundo, tendo previsão de superar em número o cristianismo até o fim do século, segundo o Pew Research Center. A região Àsia-Pacífico é a que concentra a maior parte dos adeptos, porém, devido a processos migratórios, o número tem crescido cada vez mais no ocidente. Somente na Europa, em 2016, havia 25,8 milhões de muçulmanos, com tendência a triplicar até 2050. Apenas a América Latina não apresenta um aumento no número de adeptos, sendo “a única região onde a taxa de crescimento da população estimada para 2050 supera com folga o aumento de muçulmanos” (BERMÚDEZ, 2017). Devido à constante crescente no número de adeptos ao islamismo, é de extrema importância para aqueles que não comungam da mesma crença adaptar-se ao Ramadã. Isso pode ser feito compreendendo melhor como o período funciona, e de que forma as diferenças culturais podem influenciar no comportamento.


A economia desses países, por exemplo, pode sofrer alterações como a redução da jornada de trabalho (2 horas a menos) e a diminuição no consumo de alimentos. Desse modo, é necessário conhecer tais fatores no estabelecimento de agendas de negócios. Em um mundo globalizado, esse impacto escala para níveis ainda maiores, resultando, de forma geral, em um abalo nas relações comerciais. Apesar do período de jejum, a procura por alimentos no Ramadã cresce, levando a fortes impactos no calendário comercial dos países de maioria muçulmana e seus parceiros econômicos. A demanda por alimentos começa meses antes da prática religiosa, a fim de formar estoques e evitar o desabastecimento e escalada de preços, já que nesse período existe o hábito de banquetes fartos entre os familiares nas refeições noturnas, junto à doação de alimentos e, uma redução das atividades comerciais durante o dia.

Muitas empresas se preparam o ano todo para o Ramadã, é o período que regula todo o calendário comercial. A exemplo da empresa tunisiana, Huilerie Loued, que afirma que os três meses que antecedem o período apresentam grande crescimento na demanda por sua linha de azeite de oliva, o CEO da empresa afirma que: “O mercado como um todo tem esse aumento, claro que depende do produto, mas em geral produtos como ovos, carne, peixes, frango, tâmaras e leite vendem mais” (LOUED, 2019). A Índia e Bangladesh são os mercados que mais demandam produtos para esse período, visto que são os maiores em população muçulmana.

Países também se organizam para suprir toda a demanda, como o Brasil, que mantém uma forte relação comercial com a Liga Árabe, ocupando o terceiro lugar como maior parceiro comercial. Somente no ano de 2019, a Liga Árabe importou US$12,2 bilhões em mercadorias brasileiras, sendo 70% das exportações do mercado de carne de frango, açúcar, minério de ferro, carne bovina e milho, nos quais os produtos alimentícios são fortemente demandados no período da prática religiosa. Os contratos para a exportação dos produtos são feitos com pelo menos três meses de antecedência, visto que existe a necessidade do embarque e estocagem dos produtos. Desse modo, as exportações costumam crescer nos meses anteriores ao Ramadã, e no período do jejum as compras já começam a normalizar.

Em vista dessa realidade, é vultoso o impacto do Ramadã em todos os âmbitos de uma sociedade, desde simples relações interpessoais, até questões mais importantes, como aquelas voltadas à economia, mudando a forma e a proporção das negociações, tanto a nível doméstico, nas transações financeiras dentro do país islâmico, quanto no que abrange a seara internacional.


Referências:


BRASIL ESCOLA. Ramadã. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/ramada.htm. Acesso em: 8 de mai. 2021


BBC NEWS. Por que a América Latina é a única região do mundo onde o islã não cresce. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39501016 . Acesso em: 8 de mai. 2021


EXAME. Os números do islamismo, a religião que mais cresce no mundo. Disponível em: https://exame.com/mundo/os-numeros-do-islamismo-a-religiao-que-mais-cresce-no-mundo/. Acesso em: 8 de mai. 2021


ECO DEBATE. Crescimento da população muçulmana na Europa: 2016-2050, artigo de José Eustáquio Diniz Alves. Disponível em:



G1 GLOBO. População muçulmana na Europa pode triplicar até 2050. Disponível em:


YAHOO NOTÍCIAS. Em 2070, o islamismo irá superar o cristianismo como a religião mais difundida no mundo. Disponível em: . https://br.noticias.yahoo.com/em-2070-o-islamismo-ira-superar-o-cristianismo-como-a-religiao-mais-difundida-no-mundo-113359365.html. Acesso em: 10 de maio de 2021



. Podcast 26: O que é o Ramadã e o que muda no mercado árabe. ANBADisponível em: https://anba.com.br/podcast-26-o-que-e-o-ramada-e-o-que-muda-no-mercado-arabe/. Acesso em:10 de maio de 2021



UX XOMEX. O que é Ramadã e qual sua influência no Comércio Exterior? Disponível em: https://uxcomex.com.br/2021/04/o-que-e-ramada-e-qual-sua-influencia-no-comercio-exterior/. Acesso em: 10 de maio de 2021



UX XOMEX. Brasil e o mercado Árabe. Disponível em: https://uxcomex.com.br/2020/09/brasil-e-o-mercado-arabe/ Acesso em: 12 de maio de 2021



ANBA. Apesar do jejum, Ramadã faz crescer demanda por alimentos. Disponível em: https://anba.com.br/apesar-do-jejum-ramada-faz-crescer-demanda-por-alimentos/. Acesso em: 12 de maio de 2021


ANBA. Comércio de itens para o Ramadã gira US$ 2,26 bi em Dubai. Disponível em: https://anba.com.br/comercio-de-itens-para-o-ramada-gira-us-226-bi-em-dubai/



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