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OBSERVATÓRIO | Isabela Pitangueira

Ruanda: Da Resiliência Pós-Genocídio à Luta Contra o Vírus Marburg

Ruanda, situada na região central da África, é um pequeno país sem acesso ao mar, que faz fronteira com Burundi, República Democrática do Congo, Tanzânia e Uganda. Apesar de seu tamanho, Ruanda é um lugar de notável riqueza histórica e cultural, marcada por profundas superações. Sua trajetória é permeada por desafios, incluindo os trágicos eventos do genocídio de 1994, que moldaram não apenas a identidade nacional, mas também a resiliência de seu povo. Atualmente, o país se destaca por seus esforços em reconstruir e transformar sua sociedade, promovendo a paz e o desenvolvimento, enquanto celebra suas tradições, língua e diversidade étnica.

Antes da chegada dos colonizadores que devastaram o país, Ruanda era governada por uma monarquia. A sociedade era dividida em grupos étnicos, os Hutus e os Tutsis. Os Tutsi, que eram tradicionalmente pastores, detinham mais poder político e econômico, enquanto os Hutus, que formavam a maioria da população, eram predominantemente agricultores.

Em sua colonização, o país foi dominado primeiramente pela Alemanha no final do século XIX, quando o país foi incluído na colônia da África Oriental Alemã. Os alemães mantiveram a estrutura de poder existente, apoiando os Tutsi e exacerbando as divisões étnicas.

Com a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, a Bélgica assumiu o controle de Ruanda sob um mandato da Liga das Nações. A colonização belga aprofundou ainda mais as divisões étnicas, devido à influência da Igreja Católica. Os belgas introduziram documentos de identidade que rotulavam as pessoas como Hutu ou Tutsi, solidificando as distinções étnicas. O governo belga incentivou os Tutsis a exercer ainda mais controle sobre os Hutus, criando tensões que se tornaram explosivas.

Em 1962, Ruanda conquistou sua independência da Bélgica, mas o legado da colonização deixou profundas marcas na sociedade. As tensões étnicas se intensificaram e levaram a ciclos de violência, culminando no genocídio de 1994 que resultou na morte de cerca de 800 mil pessoas em apenas 100 dias. O filme "Hotel Ruanda" de 2004 foi baseado em eventos reais durante o genocídio em Ruanda.

A história gira em torno de Paul Rusesabagina, um gerente de hotel que usou sua posição como gerente para abrigar e proteger mais de mil refugiados tutsis, desafiando as autoridades locais e a indiferença da comunidade internacional. O filme destaca a luta pela sobrevivência e a necessidade de compaixão em meio à tanta brutalidade. O acontecimento de 1994 deixou cicatrizes profundas na sociedade ruandesa, sendo sentidas até hoje.

No entanto, apesar de seu passado trágico, o país africano demonstra resiliência e compromisso com o futuro, passando por um processo de reconstrução social, política e econômica notável. Sendo assim, Ruanda é um ótimo exemplo da seguinte frase de Friedrich Nietzsche, “o que não me mata, me torna mais forte” que expressa a ideia de que os desafios e adversidades da vida são oportunidades para crescer e se fortalecer. E foi justamente isso que o governo e a sociedade ruandesa fizerem, apesar de toda dor e abuso que sofreram tanto no período colonial quanto no genocídio de 1994, a nação africana se ergue mais forte e resiliente.

Com o governo implementando políticas de reconciliação e desenvolvimento econômico, focando na educação e na infraestrutura, em consequência, Ruanda é considerada um modelo de desenvolvimento em muitos aspectos. Em 2012, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB de Ruanda atingiu aproximadamente US$ 6,95 bilhões, demonstrando um crescimento econômico consistente.

Entretanto, nos últimos meses de 2024 Ruanda tem enfrentado um novo desafio, o vírus Marburg. Já tendo enfrentado vários surtos de vírus e doenças infecciosas ao longo dos anos, por exemplo a epidemia de HIV/AIDS em 1980, surtos de febre amarela em 2020 e a pandemia de COVID-19 , agora a sociedade ruandesa se observa combatendo esse novo vírus mortal.

O vírus Marburg é um agente patogênico altamente virulento que causa febre hemorrágica, pertence à família Filoviridae, a mesma família do vírus Ebola .A transmissão do vírus pode ocorrer principalmente por contato direto com fluidos corporais de pessoas infectadas, como sangue, suor e secreções. A transmissão também pode ocorrer através de superfícies contaminadas ou de animais infectados, como morcegos frugívoros, considerados reservatórios naturais do vírus.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que a taxa de mortalidade pode chegar a 88%, o que torna essencial a implementação de medidas rigorosas de prevenção. O primeiro surto de vírus Marburg foi identificado em 1967, na cidade de Marburg, na Alemanha, após a exposição de macacos infectados importados da África. Desde então, surtos foram relatados principalmente em países africanos como, Uganda, Quênia, Tanzânia, República Democrática do Congo e agora Ruanda.

O recente surto do vírus Marburg em Ruanda colocou o país em alerta, com um aumento no número de casos e vítimas fatais. Desde 27 de setembro, quando teve o seu primeiro caso confirmado, o número de infectados subiu para 31, já tendo ocorrido 11 óbitos, de acordo com o Ministério de Saúde de Ruanda.

O Ministério da Saúde de Ruanda intensificou esforços para rastrear e testar pessoas que tiveram contato com os infectados, alertando para sintomas sérios, como febre alta, dor de cabeça intensa, dores musculares, vômito e diarreia. O vírus faz parte de uma lista de vírus e bactérias com potencial pandêmico, sendo uma medida da OMS para evitar novas pandemias como a de Covid-19.

Atualmente, não existem vacinas ou tratamentos específicos para a infecção por vírus Marburg. A OMS enfatiza a importância do atendimento precoce em centros de tratamento designados, a prevenção é fundamental e envolve evitar o contato com indivíduos ou animais infectados, além de seguir rigorosas práticas de higiene. Portanto, o vírus Marburg é uma ameaça à saúde, em que é exigida a colaboração internacional e os esforços de saúde pública para enfrentar essa doença.



 

Referências


Montenegro, É. (2024). Marburg: o que se sabe sobre vírus com potencial pandêmico. [online] Metrópoles. Available at: https://www.metropoles.com/saude/virus-marburg-potencial-pandemico‌. Acesso em: 05 de outubro de 2024.

Surto de Marburg em Ruanda já matou 11 pessoas. [online] Agência Brasil.(2024). Available at: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-10/surto-de-marburg-em-ruanda-ja-matou-11-pessoas. Acesso em: 05 de outubro de 2024

‌ Marburg: entenda vírus com potencial pandêmico que preocupa a África. (2024). [online] Agência Brasil. Available at: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-10/marburg-entenda-virus-com-potencial-pandemico-que-preocupa-africa. Acesso: 05 de outubro de 2024

De, G. and Ruanda, N. (n.d.). Ministério das Relações Exteriores Departamento de Promoção Comercial e Investimentos Divisão de Inteligência Comercial. [online] Available at: https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/invest-export-brasil/exportar/conheca-os-mercados/como_exportar_privado/como-exportar.pdf/GNRuanda.pdf. Acesso em: 05 de outubro de 2024.

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