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OBSERVATÓRIO | Bernardo Tapioca

Soft Power & Guerra: Uma análise da tentativa de fortalecimento da narrativa de Israel no Eurovisão

Domingo, 14 de maio de 2023, uma hora e um minutos da manhã na Europa, 20:01 no Brasil. Os mais de 60 milhões de espectadores estavam aguardando a grande revelação da noite que começou no sábado: quem venceria o Eurovision (em tradução, ‘Eurovisão’) 2023? Na transmissão, dividida em dois fragmentos verticais, estava a Finlândia, representada pelo cantor e rapper Käärijä. Na outra porção da tela estava a Suécia, representada pela artista Loreen, que a todo momento controlava sua respiração. Nervosa, ela estava prestes a receber o (decisivo) televoto. O troféu estava, naquele patamar, sendo disputado apenas pelos dois vizinhos nórdicos. A Europa e o mundo acompanhavam atentamente os resultados da votação, que teve duração aproximada de quarenta minutos. Graham Norton, ator britânico e apresentador daquela edição, revelou que a música sueca “Tattoo” recebeu duzentos e quarenta e três (243) pontos do público, resultando em quinhentos e oitenta e três (583), garantindo a sétima vitória sueca e consagrando Loreen como a única mulher bicampeã do Eurovision. A partir do anúncio do triunfo da Suécia naquela primeira hora do domingo, estava certo que viria um longo ano de trabalho para o país, frente à tradição da nação campeã sediar a edição seguinte do evento. 

Contudo, um óbice fora do cálculo dos suecos pegaram-nos de surpresa: a deflagração do conflito entre Israel e a organização política e militar Hamas, que se iniciou 147 dias após o anúncio da vitória de Loreen. Começaria ali, um período tenso para a geopolítica global, com impactos significativos no Eurovision. A mudança seria significativa para o maior evento musical do mundo, tornando-se objeto de uma cadeia sem precedentes de tensões e pressões advindas das mais variadas esferas. Essas, foram agravadas pela autorização da participação de Israel na edição seguinte (2024) e o envio da canção representante do país, interpretada por muitos como um cristalino mecanismo de manipulação da opinião pública que objetiva fortalecer a narrativa “coitadista” de Tel Aviv frente ao conflito. Isso acontece em um delicado momento de crescentes denúncias de violações aos direitos humanos e crimes de guerra cometidos pelo Estado de Israel durante o confronto com a organização terrorista. Estaria o país do Oriente Médio utilizando do Eurovision como instrumento de legitimação das suas ações na Faixa de Gaza e Cisjordânia frente às deflagrações dos graves delitos cometidos durante a operação em xeque? São as minuciosidades deste contexto de crise que serão dissertadas nas linhas abaixo.

O Eurovision Song Contest (ESC) teve sua primeira edição em 24 de maio de 1956, em Lugano, na Suíça, como uma experiência técnica de transmissão televisiva iniciada pela European Broadcast Union (EBU), conhecida em português como União Europeia de Radiodifusão (Kolibli, 2021). O primeiro ESC contou com a participação de sete países europeus (Eurovision, 2022).


 

Anúncio do ‘Grand Prix Eurovision de la Chanson Européenne 1956’, a primeira edição do Eurovision, realizada em Lugano, na Suíça. (Eurovision.tv)


O concurso exibiu duas canções de cada um dos concorrentes, acompanhadas por uma orquestra sob regência do maestro Fernando Paggi (Eurovision, 2022). Assim, na noite de 24 de maio de 1956, a canção “Refrain” (em tradução, ‘refrão’), da representante suíça Lys Assia, foi coroada como a primeira vencedora do Eurovision Song Contest. A partir disso, o ESC passou a ser disseminado em massa na Europa, e em outros continentes, ao longo de suas edições, onde cada vez mais países integraram o evento, tornando-o uma verdadeira celebração através da música. Nos últimos anos, o Eurovision foi assistido por mais de 200 (duzentos) milhões de pessoas ao vivo (Kolibli, 2021), demonstrando o crescente potencial de alcance do concurso, tornando-o um poderoso mecanismo de transmissão de canções, mensagens e estilos musicais.

Por mais que o nome do evento sugira a participação exclusiva de países europeus, o ESC inclui nações de diversas partes do mundo, como Israel e Austrália. No entanto, para competir no Eurovision, essas delegações devem cumprir certos pré-requisitos, incluindo estar na zona de cobertura da EBU, pagar uma taxa de participação e ser membro ativo da organização europeia de radiodifusão (Kolibli, 2021). Abaixo, é possível verificar o mapa correspondente à zona de cobertura da União Europeia de Radiodifusão, juntamente com seus membros integrantes:


Os países membros são azuis-escuros e está(ão) indicada(s) a(s) emissora(s) nacionais de cada país-membro. Os membros suspensos estão indicados pela cor azul-claro (Via MapPorn, Reddit).


Pode-se observar no mapa membros do Norte da África, Oriente Médio e até mesmo estados transcontinentais, como a Turquia. Além disso, é interessante destacar a suspensão indicada no mapa para a Rússia e Bielorrússia. Moscou foi restringida de participar do evento em 2022, devido ao início da invasão russa ao território ucraniano em fevereiro daquele ano. Já Minsk foi suspensa na edição anterior, em 2021, devido à interpretação da canção enviada ao ESC como propaganda política, resultando na proibição de sua participação (The Guardian, 2021). Ambos episódios são de grande relevância, pois se revelam como precedentes importantes para a problemática principal deste texto: a disparidade na penalização dos países que violam as regras do concurso.

No entanto, uma dúvida persiste: a Austrália não faz parte da zona de cobertura da EBU, então por que ela participa do Eurovision? A União Europeia de Radiodifusão possui membros em todo o mundo, como evidenciado no mapa abaixo. Apesar de países e emissoras serem afiliadas à União Europeia de Radiodifusão, elas não podem participar do ESC por não atenderem a todos os pré-requisitos mencionados, como a Fundação Padre Anchieta (TV Cultura, Cultura FM e Rádio Cultura Brasil), no Brasil.



Membros da União Europeia de Radiodifusão. Os países com um ou mais membros são azuis-escuros. As instituições associadas estão indicadas de azul-claro. (Fonte: Wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/European_Broadcasting_Union#/media/File:EBU_Member_Elliptic.svg)


A participação da Austrália no evento pode ser compreendida pela popularidade do concurso no país da Oceania, onde a transmissão ao vivo ocorre desde 1983. Assim, na 60ª edição do Eurovision, a EBU convidou Camberra para integrar, como um convidado especial, a edição de 2015, garantindo-lhe inclusive uma vaga na final daquele ano (Kolibli, 2021). A canção "Tonight Again" (em tradução, ‘hoje à noite novamente’), interpretada pelo cantor Guy Sebastian, foi selecionada para representar a Austrália. Essa música conquistou o coração dos fãs do Eurovision, garantindo ao país o quinto lugar no pódio. A EBU demonstrou interesse em manter o envolvimento australiano no concurso, convidando-os novamente no ano seguinte e mantendo a tradição até a edição atual de 2024, com a possibilidade de renovação (Kolibli, 2021).

Em julho de 2023, a EBU anunciou que Malmö, na Suécia, seria a cidade escolhida para sediar a 68ª edição do Eurovision Song Contest, que ocorreria nos dias 7, 9 e 11 de maio de 2024 (BBC, 2023). A emissora pública sueca Sveriges Television (SVT) seria responsável pela produção do show, como membro associado da EBU. Além disso, toda a organização do ESC é liderada por Martin Österdahl, que atua como Supervisor Executivo da Eurovisão desde 2021 e do Junior Eurovision Song Contest desde 2020. No entanto, a preparação para o concurso foi abalada por um episódio que desencadeou uma crise na geopolítica mundial, com repercussões evidentes no Eurovision. Em 7 de outubro de 2023, o grupo extremista palestino Hamas realizou um ataque surpresa durante um festival de música eletrônica próximo à Faixa de Gaza. Esse ato brutal resultou na perda de mais de 260 vidas, além do sequestro de dezenas de pessoas (Universidade de Fortaleza, 2023).

A questão entre Israel e Palestina, e mais recentemente, Hamas, remonta aos séculos XIX (19) e XX (20). A disputa territorial na região conhecida como Palestina é central para o problema, dado que o território é alvo de profundas conexões religiosas, históricas e culturais entre judeus e árabes (Curso Sapientia, 2023).  Em 1917, a Declaração de Balfour apoiou a criação de um Estado judeu na Palestina, iniciando tensões duradouras. A Guerra Árabe-Israelense de 1948 estabeleceu Israel pela Organização das Nações Unidas (ONU). Desde então, a região enfrenta conflitos contínuos, incluindo a imigração judaica e a anexação de Gaza e Cisjordânia. O Hamas, surgido na década de 1980 como o Movimento de Resistência Islâmica, propõe a libertação da Palestina por meio da resistência armada, desafiando o governo oficial palestino (Curso Sapientia, 2023).

O conflito atingiu um novo ápice em outubro de 2023, quando o Hamas realizou um ataque contra civis israelenses. O governo israelense, liderado pelo Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu, retaliou, resultando em acusações de limpeza étnica por parte de líderes mundiais. Essa escalada de violência despertou reações internacionais, inclusive no contexto do Eurovision. Muitos fãs e páginas dedicadas ao concurso se manifestaram contra a participação de Tel Aviv, enquanto outros argumentaram que Israel deveria ter sua voz ouvida.

No dia 5 de dezembro de 2023, o perfil oficial do concurso publicou a lista de delegações que irão para Malmö. Trinta e sete países, incluindo Israel, confirmaram oficialmente sua presença no evento após semanas de especulações e pressões em relação à participação de Tel Aviv na edição de 2024. Após a divulgação, as reações nos posts do concurso foram diversas. Uma grande parte consistia em comentários de perfis com poucos seguidores, sem fotos de identificação e apelidos que sugerem ter sido criados artificialmente por robôs. Eles produziam mensagens curtas em apoio a Israel, às vezes limitando-se a usar apenas um emoji com a bandeira do país. A maioria restante denotava manifestações desfavoráveis à participação israelense no concurso, sob argumentos de infração aos Direitos Humanos, soberania e promoção de crimes de guerra. Contudo, o perfil da Eurovisão removeu parte dos comentários críticos à participação de Israel. Além disso, quando pressionados pelos internautas a justificar a exclusão, não forneciam respostas. Faltando menos de 1 (um) mês para a Primeira semifinal do concurso, o perfil oficial do evento, no X (antigo Twitter), curtiu um tweet de um usuário que chamou uma internauta de antissemita por rebater o perfil da competição sobre a manutenção da participação israelense.

Com isso, pode-se observar que as ações parciais em relação à questão israelense, promovidas pelo Eurovision, não foram eventos únicos, mas sim parte de uma série de atividades propositais que ocorreram entre dezembro de 2023 e maio deste ano. É fato que o comportamento em questão é incomum e, considerado por muitos, inadequado, por assumir parcialidade em pautas políticas. As práticas questionáveis do concurso abrem espaço exclusivamente para o silêncio, uma vez que nenhuma indagação sobre os ocorridos supracitados foi respondida oficialmente pela organização do evento.

Em fevereiro de 2024, a imprensa israelense divulgou que o país seria representado em Malmö pela artista Eden Golan. A canção, intitulada alegadamente provocativa 'October Rain' (em tradução livre, 'Chuva de outubro'), fazia referências explícitas aos acontecimentos de 7 de outubro (The New Arab, 2024). Naquele momento, a European Broadcast Union estava imersa em um processo de análise minuciosa do conteúdo lírico da música. A Corporação Israelita de Radiodifusão Pública (KAN), emissora credenciada pela EBU em Israel, afirmou que, caso a organização do evento solicitasse modificações na composição, o país do Oriente Médio voluntariamente se retiraria da competição durante o ano de 2024. Contudo, frustrando as expectativas de Tel Aviv, 'October Rain' foi considerada inadequada por violar as regras de instrumentalização do evento (Wiwibloggs, 2024). Diante disso, a KAN argumentou que a canção expressava os sentimentos atuais da população e do país, sem assumir um caráter político (The New Arab, 2024). No entanto, seguindo as regras da EBU, não são permitidas músicas que sirvam como veículo para promover políticas ou eventos de natureza política (Eurovision, 2024). Assim, Israel tinha duas opções naquele momento: modificar a composição e prosseguir com o evento, ou se retirar, como mencionado pela KAN nos dias anteriores à decisão da organização do concurso. O comportamento 'irredutível' da Corporação Israelita de Radiodifusão Pública acabou cedendo na primeira oportunidade, já que a música de Eden foi submetida à edição. Seu título e parte do refrão foram alteradas para 'Hurricane' (em tradução livre, 'furacão'), prolongando assim a participação de Israel no concurso. A música, segundo o jornalista Eran Swissa, aborda a história de uma jovem mulher em processo de superação de uma crise pessoal (Israel Hayom, 2024), refutando as suposições de que a obra carregue uma carga política.

Após diversas revisões e negociações, em 10 de março de 2024, ‘Hurricane’ é lançada mundialmente. Com isso, mais uma onda de opiniões dissonantes tomaram conta da internet. Os contrários a canção argumentaram amplamente que a música é uma mensagem política alusiva ao conflito travado entre o Estado de Israel e o grupo terrorista Hamas, em uma cristalina manifestação de apoio ao país e às Forças de Defesa de Israel (IDF), legitimando os atos nefastos nas regiões da Faixa de Gaza e Cisjordânia. Por outro lado, os apoiadores da obra de Eden ficaram divididos, entre argumentações frágeis que passeiam entre a inocência do teor lírico e a defesa de que a voz de Israel necessita ser ecoada pelo globo após a barbárie do grupo terrorista.

Nas semanas que antecederam o início do Eurovision, Malmö recebeu manifestantes que confeccionaram cartazes com a propaganda do evento coberta por manchas de sangue (Al Jazeera, 2024), sugerindo que o ESC estaria apoiando as mortes de civis nas regiões em conflito, ao permitir a participação de determinados países no concurso. As manifestações ganharam força com a chegada do mês de maio e com a adesão de figuras de notoriedade global ao movimento, como a ativista Greta Thunberg. Ela escreveu em suas redes sociais que Malmö não apoia o genocídio e os manifestantes não aceitarão que um país que esteja promovendo assassinatos em série (em referência a Israel) participe do concurso. Os protestos, intitulados "United by Genocide" (em português, 'unidos pelo genocídio'), são uma adaptação do slogan da edição do festival naquele ano, "United by Music" (em tradução livre, 'unidos pela música').

Reagindo às crescentes pressões, o ESC publicou, antes da primeira semifinal (ocorrida em 7 de maio), uma nota comunicando medidas de segurança para a edição de 2024. Dentre elas, uma que chamou atenção foi a autorização apenas das bandeiras dos Estados participantes e da comunidade LGBTQIAPN+ entrarem na arena (Le Monde, 2024). Outras bandeiras, incluindo emblemas de países não participantes e da União Europeia (UE), não foram autorizadas — teoricamente — a integrar os shows. Margaritis Schinas, Comissário da União Europeia para a Promoção do Modo de Vida Europeu, criticou o festival Eurovisão, afirmando que ele é, acima de tudo, uma celebração do espírito europeu, destacando a diversidade e o talento do continente, e que a bandeira da UE simboliza isso (Le Monde, 2024). No entanto, o que é relevante sob essa perspectiva é que, tanto nos ensaios televisionados à imprensa quanto nos shows transmitidos ao mundo, as bandeiras da União Europeia, Turquia (um país que já participou do concurso no passado) e de outros países da Oceania foram vistas nas mãos do público.


Imagem da plateia durante um dos shows. Pode-se visualizar a bandeira turca sendo exposta em direção ao palco. (Fonte: @povejmiKITrina/X) - https://x.com/povejmikitrina/status/1787935528182071506?s=46


Ao contrário da liberdade de exposição da bandeira turca, como vista na imagem acima, as bandeiras palestinas que entraram na arena foram prontamente removidas por seguranças. Sob esse ponto de vista, o veto seletivo, diante de uma regra que incluía uma proibição geral, revelou-se, para muitos, como um movimento claro de censura por parte da European Broadcast Union às manifestações de apoio à Palestina. No entanto, a questão central acerca do ocorrido é: por que o Eurovision estaria silenciando manifestações de apoio ao país do Oriente Médio? As possíveis respostas desgastam ainda mais o evento e o descredibiliza frente à sua tese, cada dia mais insustentável, de que o concurso está isento de questões políticas e não é instrumentalizado ou politizado. Em entrevista, o Supervisor Executivo da Eurovisão, Martin Österdahl, afirmou que "[...] o maior propósito [do Eurovision] é sermos unidos pela música e o mais inclusivos que pudermos [...]" (Dagens Industri, 2024). Contudo, é evidente que a EBU adotou um caminho oposto, ao institucionalizar a proibição de manifestações culturais dos Estados que participam do concurso. É nesse cenário de incerteza e desconfiança dos fãs em relação à instituição Eurovision que nos aproximamos do ponto decisivo do evento.

A abertura da primeira semifinal foi responsável por mais um capítulo deste drama. O ato consistia em uma apresentação musical realizada por três participantes do concurso de edições passadas: Eleni Foureira (Chipre, 2018), Chanel (Espanha, 2022) e Eric Saade (Suécia, 2011), que subiram ao palco, dando início ao primeiro show do evento. As apresentações impecáveis e cheias de energia não tiravam a atenção dos fãs do concurso, que acompanhavam atentamente cada movimento do representante sueco, devido à sua origem palestina. Na internet, muitos especulavam uma manifestação política do cantor, que dias antes do evento afirmou em suas redes sociais que "a forma como a EBU está lidando com o Eurovision é vergonhosa" (Bulletin, 2024). Durante a apresentação do artista, pôde-se perceber que ele utilizava um Keffiyeh, vestimenta tradicional palestina. Frente ao ocorrido, Ebba Adielsson, membro do Eurovision Song Contest Reference Group, equipe responsável pelo controle e orientação do festival, afirmou ao jornal sueco Aftonbladet que Eric Saade conhece bem as regras que se aplicam ao subir ao palco do Festival Eurovisão da Canção. E complementou, alegando ser triste que ele tenha usado sua participação "nessa forma" (Aftonbladet, 2024). A repercussão, mais uma vez, foi polêmica, onde a balança da opinião pública pesou novamente para o lado que alegava racismo por parte da EBU e instrumentalização da instituição, ao denotar que vestimentas culturais pertencentes a um povo são um símbolo político.

Ainda no entrelaçar da primeira semifinal, Bambie Thug, representante da Irlanda no concurso, utilizou (durante os ensaios) mensagens na escrita ogâmica – um alfabeto medieval usado para escrever a antiga língua irlandesa – no rosto e nas pernas como parte de sua apresentação (Wiwibloggs, 2024). A história se propagou rapidamente na internet, após a tradução, que revelou as traduções dos escritos: ‘cessar-fogo’, ‘liberdade a Palestina’ e ‘coroe o/a bruxo/a’ (em referência a sua música). Para muitos, a ‘mensagem subliminar’ na maquiagem de Bambie é uma manifestação necessária, em prol da paz, e do fim do conflito em progresso no Oriente Médio. Para outros, foi interpretado como um provoco a Israel e sua delegação, além de uma nítida tentativa de politização do evento. Com isso, a European Broadcast Union, ordenou, de acordo com Bambie, que as frases fossem removidas de sua maquiagem (Wiwibloggs, 2024). 



Imagem da maquiagem de Bambie Thug, que traduz a palavra "cessar-fogo", escrita em ogâmico para a sua apresentação. (Fonte: @/MarkAgitprop no X) - https://x.com/MarkAgitprop/status/1787754522196017368


Dias após, ocorreu a Segunda semifinal (SF) do concurso. Naquela noite, dez (10) dos dezesseis (16) países competidores se classificariam para a Grande Final, agendada para o sábado. Foi a primeira vez que Eden se apresentou ao vivo perante o público mundial. Ao final da transmissão, os finalistas foram anunciados, incluindo Israel. No entanto, o foco principal dos acontecimentos recai sobre a transmissão do concurso na Itália, pela Radiotelevisione Italiana S.p.A. (RAI). A emissora erroneamente transmitiu nacionalmente os supostos resultados do televoto daquela noite. A divulgação da lista, que indicava que 'Hurricane' obteve 39,31% dos votos do público italiano, gerou preocupação internacional entre os espectadores do concurso (EuroVoix, 2024) e a organização, devido à divulgação prematura dos resultados da SF, que normalmente acontece depois do sábado. Após a divulgação dos resultados e o encerramento das transmissões, desde a noite de quinta-feira até os minutos que antecederam o início da Grande Final (GF) no sábado, uma onda de denúncias contra a delegação de Israel foi desencadeada. Essas acusações foram potencializadas pelas repercussões estratosféricas nas redes sociais, que inflamaram as opiniões e dividiram as pessoas, em um caminho rumo à final de um evento cujo slogan (ironicamente, ou não) é 'Unidos pela Música'.

O jornalista Dov Gil-Har tornou-se um dos principais focos de discussão diante dos acontecimentos. O repórter da KAN esteve envolvido em diversos incidentes vergonhosos nos bastidores da Malmö Arena, envolvendo assédio a repórteres de outros países e artistas que se preparavam para a apresentação na GF. Outro jornalista da emissora israelense, Asaf Liberman, também causou controvérsia ao publicar um vídeo em suas redes sociais provocando o dançarino do palco de Bambie Thug. Além disso, Keren Peles, membro da delegação israelense e compositora de ‘Hurricane’, causou desconforto ao dirigir uma mensagem sugestiva à representante da Grécia, Marina Satti, em suas redes sociais, expressando um desejo de que ela 'tenha dormido bem'. Esse gesto ocorreu após Satti, durante a conferência de imprensa na noite anterior (quinta-feira), ter manifestado sua insatisfação com as declarações de Eden Golan. Esses atos foram, para muitos, interpretados como assédio, ameaça e invasão de privacidade aos participantes. 

Enquanto isso, ainda durante a noite da sexta, surgiu um boato envolvendo o representante neerlandês Joost Klein, um dos favoritos ao troféu. Múltiplas fontes, ainda sem confirmação oficial, indicavam que o representante estava sob risco de desclassificação devido a atritos nos bastidores. Apenas dias após a final, veio a confirmação de que a expulsão dos Países Baixos da Eurovisão ocorreu devido a um 'incidente' entre Klein e uma figura feminina da organização do evento (BBC, 2024). Contudo, naquele momento (sexta-feira à noite), ainda não se sabia ao certo quem foi o/a protagonista das provocações à Klein. Com esses precedentes, surgiram especulações sobre o envolvimento de jornalistas da KAN, já nas primeiras horas do sábado (The New Arab, 2024).  A informação, que mais tarde se mostrou falsa, naquele momento ainda sem confirmação oficial, deu origem ao boato de que o cantor de 'Europapa' foi injustamente expulso por reagir às provocações da imprensa de Tel Aviv nos bastidores, criando uma narrativa enganosa. Enquanto a madrugada avançava em Malmö, os olhos internacionais permaneciam atentos a cada atualização, sobre especialmente a possível expulsão do neerlandês. Na manhã da Grande Final, a EBU divulgou um comunicado oficial informando que, enquanto as investigações dos órgãos competentes não fossem concluídas, Joost não poderia subir ao palco, confirmando assim sua ausência na noite decisiva (EBU, 2024).

Com isso, ganhava força e ecoava um movimento mais agressivo de desaprovação em relação à participação da delegação israelense, representada pela cantora Eden Golan. Durante o ensaio realizado na tarde do sábado e também durante sua apresentação na Grande Final, Golan enfrentou vaias do início ao fim de sua música. Contudo, é importante notar que as manifestações de descontentamento em relação a Israel foram baseadas em uma informação que, naquele momento, não havia sido confirmada e posteriormente se revelou inverídica. No entanto, dadas as circunstâncias anteriores, era compreensível que houvesse mobilizações para denunciar tais comportamentos por parte da delegação de Tel Aviv, especialmente por parte daqueles que se sentiram ofendidos por suas ações.

Nos momentos que antecederam a final, vários artistas expressaram sua insatisfação e preocupação com o cenário geral, como destacado pela italiana Angelina Mango e Bambie Thug, entre outros competidores, que mencionaram a atmosfera “tensa” e “horrível” nos bastidores (BBC, 2024). Segundo o jornal de Oslo, Aftenposten, Gåte, representante da Noruega, chegou a considerar deixar o concurso até o ‘último segundo’. Um dos membros da banda alegou que não queria ser utilizado numa ‘máquina de propaganda de guerra em Israel’ (Aftenposten, 2024). Além disso, outros participantes ponderaram não realizar suas apresentações na final (Aftonbladet, 2024), motivados por diversas questões, incluindo o comportamento inadequado da delegação israelense e a desclassificação de Joost Klein. Contudo, após diálogos com a organização, decidiram subir ao palco da competição (EuroVoix, 2024). Alguns desses, inclusive, não participaram de momentos cruciais durante o ensaio geral, como o Desfile dos Finalistas, causando preocupação entre os fãs, que temiam a possibilidade do concurso ruir a qualquer momento.

Após horas intermináveis de tensão, as transmissões da Grande Final começaram exatamente às 21h, no horário local. Apesar das ameaças de retirada, o concurso só contou com uma delegação que não subiu ao palco, os Países Baixos, de Joost. Durante a Final, quatro momentos em especial merecem destaque. O primeiro foi a apresentação de Israel, onde Eden foi vaiada durante cada trecho de ‘Hurricane’, como já mencionado anteriormente. Outro aspecto crucial foi o breve discurso do Supervisor Executivo da Eurovisão, Martin Österdahl, tradicionalmente apresentado antes da revelação dos resultados. Surpreendentemente, um coro de vaias se fez ouvir, competindo com as palavras do sueco. A atitude, em alguns momentos, sobrepôs o discurso de Österdahl, demonstrando cristalinamente a insatisfação com a administração do concurso. A revolta revelou-se como um sentimento concreto e seguro de si.

O terceiro momento destacado corresponde à revelação dos pontos dados pelo público à representante Eden Golan. O cenário era temido devido ao precedente aberto na Segunda semifinal, quando Israel venceu o televoto na Itália, com grande vantagem. O público esperava para ver se a Europa e o resto do mundo se comportariam da mesma forma que em Roma naquela ocasião. "Hurricane" recebeu do público trezentos e vinte e três (323) pontos, levando Eden imediatamente ao primeiro lugar.

O quarto e último momento refere-se ao anúncio da apresentadora Petra Mede de que a Ucrânia recebeu trezentos e sete (307) pontos do público em casa. A comemoração na Malmö Arena foi inevitável, assim como em todos os outros vinte e quatro (24) países. No entanto, quando os grandes painéis de LED revelaram o pódio, Israel caiu para o segundo lugar, provocando uma celebração nítida e entusiasmada, acompanhada pelos gritos que tomaram conta do ambiente. Naquele momento, Israel não tinha mais nenhuma chance de vencer o concurso. Ao final da noite, Suíça, Croácia, Ucrânia e França ultrapassaram Eden, terminando o país do Oriente Médio em quinto lugar, um resultado otimista considerando sua trajetória conturbada. Pouco depois da 1h da manhã na Suécia, a EBU encerrou oficialmente as transmissões, marcando o fim de um dos momentos mais dramáticos e tensos da história do concurso.

Nos dias que se seguiram ao término do Eurovision, uma forte sensação de nostalgia envolveu os fãs do concurso. As músicas, os artistas, as performances e cada detalhe do palco, inclusive as piadas das apresentadoras, pareciam deixar um vazio palpável. Cada elemento do evento era sentido com saudade, independentemente de ideologias. Ao mesmo tempo, um suspiro de alívio pairava no ar, como se os corações pudessem finalmente retomar seu ritmo adequado. Era ali, o fim de um ciclo.

Após uma jornada que se estende desde 1956, permeada por momentos de intensa significância, torna-se evidente que as mais de 1.700 músicas que competiram neste concurso carregavam consigo uma narrativa única, uma fonte de inspiração e uma mensagem a transmitir. Amores, desilusões, força, derrota, línguas imaginárias, renascimentos, superações e tantas outras mensagens ecoaram ao longo das décadas, influenciando e transformando inúmeros fãs do concurso em todos os cantos do mundo.

Sob esse viés, 'Hurricane' transcendeu a simplicidade de seus versos e a melodia envolvente para se revelar como uma ferramenta estratégica durante os conflitos entre Israel e o Hamas. Por muito tempo, os países hegemônicos recorreram a estratégias belicosas; agora, uma nova abordagem, combinando as armas e influência cultural (Soft Power), entra em cena, amplificando sua ressonância. Tel Aviv demonstrou um domínio inteligente do Soft Power para legitimar sua posição diante do conflito. Com isso, 'Hurricane' conseguiu absolver Israel e desviar o olhar de suas ações nos campos de batalha, mesmo que temporariamente.

No entanto, apesar do sucesso de Tel Aviv, é inegável que a edição de 2024 representou uma derrota cristalina para o Eurovision, que emergiu fragilizado dessa batalha de narrativas. O concurso agora se encaminha para um terreno incerto, com sua credibilidade em declínio e sua suposta neutralidade política exposta como uma farsa. As ações da Eurovisão não parecem ser, ao autor deste texto, um deslize do evento em sua essência, mas sim o resultado de lideranças atuais, como o Supervisor Executivo e a Equipe de Referência, que desde dezembro adotaram posturas que politizaram e instrumentalizaram o concurso. Ao fornecer uma espécie de salvo-conduto para a delegação israelense, especialmente sua mídia, para ameaçar, assediar e criar desconforto, demonstraram um profundo desrespeito pelos artistas, emissoras e, acima de tudo, pelos verdadeiros protagonistas do concurso: os fãs.

Embora não seja incomum a música ser utilizada como uma ferramenta política, nunca se viu sua manipulação com tal intensidade. Para quem reflete sobre essas questões, os próximos meses, e especialmente a próxima edição, serão cruciais: será a oportunidade de desmoralizar as ações de Tel Aviv em 2024 ou consolidá-la como tendência. Enquanto enfrentamos o que alguns chamam de "Depressão Pós-Eurovision", ainda estamos tentando entender como um palco que antes simbolizava celebração se tornou um campo de batalha tão intenso. Assim, o autor encerra este texto consumido pelo desejo de ver, daqui a menos de um ano, Nemo entoando seu título "The Code" em uma arena suíça, em um ambiente verdadeiramente unido pela música.



 

Bibliografia

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