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Tarifas, Sanções e Rivalidade Global: A Nova Ordem Econômica Internacional

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  • 7 de jun.
  • 5 min de leitura



Jéssica Alves dos Santos

Maria Júlia Paz Correia


O cenário econômico mundial vive uma nova fase de tensões comerciais, especialmente entre Estados Unidos, China e União Europeia. Com o aumento das disputas, o impacto da guerra comercial volta a ser discutido internacionalmente. Essas tensões envolvem tarifas, sanções e subsídios que afetam o comércio multilateral. A guerra comercial representa o uso estratégico de barreiras para proteger setores internos, corrigir déficits ou combater práticas desleais. A grande questão é: quem ganha, quem perde e como isso afeta o comércio global?

As disputas comerciais se tornaram mais evidentes a partir de 2018, com a guerra tarifária iniciada por Donald Trump, que apesar do discurso liberal, adotou uma política protecionista contra a China. Com seu retorno em 2025, essa postura se intensificou, com novas tarifas sobre setores estratégicos chineses. Em resposta, a China impôs tarifas de 34% sobre os produtos dos Estados Unidos (EUA), válidas a partir de abril do mesmo ano. Já a União Europeia (UE) enfrenta seus próprios desafios, lidando com práticas desleais e disputas por subsídios. O bloco tem reforçado suas defesas com medidas antidumping para proteger sua economia da concorrência chinesa e das políticas industriais americanas.

Nesse contexto, organismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) têm um papel fundamental. Essas instituições são responsáveis por mediar conflitos, garantir a previsibilidade das regras comerciais e promover a cooperação internacional. No entanto, sua eficácia tem sido limitada frente ao aumento do unilateralismo e à busca de soluções bilaterais por parte de países que ignoram os canais tradicionais de negociação.

As principais barreiras nas guerras comerciais atuais incluem tarifas de importação, sanções econômicas e subsídios internos. As tarifas elevam o preço de produtos estrangeiros, estimulando o consumo local. As sanções funcionam como pressão política e econômica, como no bloqueio dos EUA à Huawei. Já os subsídios incentivam a produção nacional em setores estratégicos, sendo amplamente usados por ambos, China e EUA.

As medidas adotadas geram impactos diversos. Os Estados Unidos conseguem proteger empregos e estimular a produção interna, mas enfrentam custos mais altos para os consumidores e retaliações que prejudicam setores como a agricultura. A China avança em sua meta de independência tecnológica, porém perde acesso à mercados e enfrenta barreiras institucionais. A União Europeia tenta se equilibrar entre as duas potências, porém também adota medidas para defender seus próprios interesses econômicos.

Entre os setores mais afetados, destacam-se a tecnologia, a agricultura, o setor automotivo e o de energia. A disputa pelo domínio da produção de semicondutores, fundamental para diversas indústrias, tornou-se um dos pontos centrais da rivalidade entre EUA e China. Da mesma forma, o controle da transição energética envolve subsídios bilionários e uma corrida por inovação em energias limpas, com efeitos diretos nas cadeias globais de produção.

Para os demais países, especialmente os emergentes, as guerras comerciais trazem riscos e oportunidades. A instabilidade dos mercados, a inflação global e a desaceleração do comércio são efeitos negativos. Por outro lado, países como o Brasil podem se beneficiar ao ocupar espaços deixados pelas grandes potências, ampliando exportações, como é o caso das exportações agrícolas para a China, e fortalecendo acordos como o Mercosul-União Europeia.

A intensificação das disputas comerciais entre as grandes potências não afeta apenas a economia, mas também redesenha o cenário político internacional. Os conflitos tarifários e as sanções revelam o uso do comércio como ferramenta geopolítica. A imposição de barreiras deixa de ser apenas uma questão de proteção econômica e se torna instrumento de influência, pressão e barganha diplomática. A crescente rivalidade entre Estados Unidos e China acelera a formação de blocos estratégicos. Enquanto os EUA buscam fortalecer alianças tradicionais, como o G7 e firmar acordos com países do Indo-Pacífico, a China intensifica parcerias por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), além de ampliar sua influência sobre economias emergentes na Ásia, África e América Latina.

A União Europeia, por sua vez, tenta manter uma posição de equilíbrio, mas enfrenta pressões internas e externas. Internamente, os países do bloco têm interesses econômicos divergentes, o que dificulta respostas unificadas. Externamente, a UE busca fortalecer sua autonomia estratégica, evitando dependência excessiva tanto dos EUA quanto da China, especialmente em setores críticos como tecnologia e energia.

As sanções e retaliações também alimentam uma nova corrida tecnológica, em que a soberania digital, o controle de dados e a segurança cibernética passam a ser tratados como questões de segurança nacional. A exclusão de empresas chinesas de mercados ocidentais, como no caso da Huawei, exemplifica como tecnologia e política se entrelaçam cada vez mais. 

Em meio à guerra comercial, os efeitos variam entre setores e países. Alguns ganham, outros perdem. Entre os beneficiados estão empresas nacionais protegidas por tarifas, que conseguem aumentar sua produção interna, e países emergentes, como o Brasil, que aproveitam brechas no mercado para exportar mais. Já entre os prejudicados estão os consumidores, que enfrentam preços mais altos, e exportadores afetados por sanções e retaliações. Além disso, as cadeias globais de produção se tornam mais instáveis, o que gera incertezas e perda de eficiência para a economia mundial.

Ademais, a fragmentação das cadeias globais de valor pode trazer prejuízos de longo prazo, reduzindo a eficiência econômica e a inovação. As tarifas e sanções comerciais entre EUA, China e União Europeia compõem uma nova etapa da geopolítica global, onde o comércio se tornou arma estratégica. Essa guerra não se resume a números e taxas, mas à redefinição de lideranças, valores e modelos econômicos.

Se, por um lado, medidas protecionistas oferecem certo alívio a setores internos e fortalecem a autonomia nacional, por outro, elas aumentam os custos globais e enfraquecem o multilateralismo. O comércio internacional entra em um ciclo de incertezas, no qual o protecionismo e o unilateralismo ameaçam a estabilidade construída nas últimas décadas. Cabe à comunidade internacional buscar meios de retomar o diálogo, fortalecer instituições como a OMC e construir pontes para um novo equilíbrio, onde competição e cooperação possam coexistir. O futuro do comércio global dependerá da capacidade das nações de conciliar interesses econômicos com responsabilidade coletiva.








REFERÊNCIAS:

INFO MONEY. Há aumento das tensões comerciais entre China, Europa e Estados Unidos, diz analista. Infomoney, 03 abr. 2024. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/mercados/ha-aumento-das-tensoes-comerciais-entre-china-europa-e-estados-unidos-diz-analista/ . Acesso em: 5 abr. 2025.

CNN BRASIL. Entenda a guerra comercial que afeta a economia mundial. CNN Brasil, 16 ago. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/entenda-a-guerra-comercial-que-afeta-a-economia-mundial/ . Acesso em: 5 abr. 2025.

FIA. Guerra comercial: o que é, causas e consequências. Blog FIA, 07 nov. 2022. Disponível em: https://fia.com.br/blog/guerra-comercial/ . Acesso em: 6 abr. 2025.

B3 – BORA INVESTIR. Zona do euro, FMI, OMC, OCDE: quem é quem na economia mundial. B3, 27 jun. 2023. Disponível em: https://borainvestir.b3.com.br/noticias/mercado/zona-do-euro-fmi-omc-ocde-quem-e-quem-na-economia-mundial/ . Acesso em: 6 abr. 2025.

JUSBRASIL. Medidas protecionistas e seus impactos no comércio internacional. Jusbrasil, 19 jan. 2022. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/medidas-protecionistas-e-seus-impactos-no-comercio-internacional/1257477477 . Acesso em: 5 abr. 2025.

G1. China anuncia tarifas de 34% sobre produtos dos EUA. G1 Economia, 04 abr. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/04/04/china-anuncia-tarifas-de-34percent-sobre-produtos-dos-eua.ghtml . Acesso em: 5 abr. 2025.

PARLAMENTO EUROPEU. Política anti-dumping: a resposta da UE às práticas comerciais desleais. Parlamento Europeu, 01 jun. 2018. Disponível em: https://www.europarl.europa.eu/topics/pt/article/20180601STO04822/politica-anti-dumping-a-resposta-da-ue-as-praticas-comerciais-desleais . Acesso em: 6 abr. 2025.

O GLOBO. Em nova frente da guerra tecnológica, EUA proíbem venda de chips americanos para a chinesa Huawei. O Globo, 08 maio 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2024/05/08/em-nova-frente-da-guerra-tecnologica-eua-proibem-venda-de-chips-americanos-para-a-chinesa-huawei.ghtml . Acesso em: 6 abr. 2025.

VEJA. Huawei fura bloqueio dos EUA e lança software próprio de gestão. Veja, 14 ago. 2023. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/huawei-fura-bloqueio-dos-eua-e-lanca-software-proprio-de-gestao . Acesso em: 6 abr. 2025.

 
 
 

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