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Victoria de Sousa/OBSERVATÓRIO

Um panorama geral sobre os atuais protestos no Irã

- Victoria de Sousa

Os atuais protestos no Irã, ocorridos nas últimas duas semanas, são as maiores manifestações de oposição ao governo do país desde a repressão dos protestos contra o aumento do preço da gasolina em 2019, de acordo com Sandra Cohen, autora e repórter correspondente do “O Globo”. Motivados pelo caso de Mahsa Amini, de apenas 22 anos, que foi levada a um “centro de reeducação” e, logo depois, a um hospital, onde faleceu três dias após ser presa pela polícia iraniana em Teerã.

A causa da morte de Mahsa Amini, estopim para a onda de manifestações no país, segue sem respostas. A versão do governo iraniano é a de que a jovem fazia uso de um véu muito fino, que deixava parte dos cabelos à mostra, o que, para a Sharia (tipo de sistema jurídico com base no Corão) é inadequado, por isso, a jovem ficou sob custódia policial e, de acordo com o regime, sofreu problemas cardíacos e veio a falecer. Entretanto, a família da jovem não reconhece essa versão, pois afirma que Amini não possui histórico de doenças no coração e um de seus primos alega que a mesma foi golpeada na cabeça por policiais ao ser presa.

Além das reivindicações acerca das rígidas regras em relação ao vestuário feminino, onde mulheres iranianas passaram a queimar véus e cortar seus cabelos, os protestos também apresentam insatisfação com o governo e pedem o fim do regime que comanda o país desde 1979. Tais manifestações, que em geral apresentam queixas sobre o custo de vida alto e falta de liberdade individual no país, tendem a ocorrer de tempos em tempos, mesmo que violentamente reprimidos pelo governo. O que diferencia os antigos protestos do cenário atual é que antes eles se concentravam nos grandes centros urbanos e não demandavam abertamente o fim do regime como agora. Além disso, as ondas de protestos anteriores em 2019 e 2021 ocorreram, principalmente, por fatores econômicos, o que evitou que as revoltas se estendessem para outras áreas da vida civil iraniana.

Agora, as manifestações se estenderam por boa parte do país, ocupando mais de 40 cidades, além de terem se espalhado pelas redes sociais, de acordo com o G1. Como repressão, o regime respondeu com o apagão na internet e, para além disso, a CNN afirma que, até o momento, 70 pessoas foram mortas e mais de 1.200 feridas em confronto com a polícia. A magnitude dos protestos é expressa nas imagens que saíram do país, que demonstram a raiva popular em grande escala, envolvendo não só questões referentes a falta de liberdade feminina e pedidos de justiça pela morte de Amini, mas também um a junção de um vasto histórico de repressão e violência ocorridos no país desde 1979.

Em resposta aos atos que vêm ocorrendo em todo o país, o governo iraniano vem apresentando uma postura rígida, onde culpa a imprensa ocidental de estimular as revoltas, trazendo a ideia de conspirações estrangeiras no país. Além disso, veio a confirmação de autoria da Guarda Revolucionária do Irã em relação ao ataque contra alvos militantes na região curda, por meio de mísseis e drones, no último dia 28. Isso pois, o Teerã acusa os curdos de encorajar os protestos pela morte de Amini. Em contrapartida, a Anistia Internacional pede ação global para combater a repressão. De acordo com a ONG, existem evidências de disparos ilegais da força de segurança iraniana contra manifestantes em cerca de 20 cidades em todo o país.

Em resumo, o cenário é de um confronto direto da juventude iraniana frente a um regime autoritário que governa o país. Em vista desse cenário, deduz-se que o fim dos protestos provavelmente venha a partir de mais repressão violenta ao invés de acordos e concessões por parte do regime. Esfandyar Batmanghelidj, fundador e CEO da Bourse & Bazaar Foundation, afirma que “o governo tem muito mais capacidade de repressão do que para uma reforma neste momento” e também acredita que falta a intitulação de uma liderança nas manifestações. Além disso, Sanam Vakil, pesquisadora sênior do programa para o Oriente Médio e norte da África no think tank Chatham House, acredita que mesmo que o governo chegue a fazer concessões, ainda é possível que exista resistência da juventude em relação ao uso do hijab, evidenciando a complexidade do que ocorre atualmente no Irã.


 

Referências


EBRAHIM, Nadeen. What you need to know about Iran’s raging protests. CNN, 2022. Disponível em: https://edition.cnn.com/2022/09/26/middleeast/iran-protests-explainer-mime-intl/inde x.html. Acesso em: 28 de set 2022.

COHEN, Sandra. Em que os atuais protestos no Irã diferem das ondas anteriores de insatisfação popular. G1, 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/blog/sandra-cohen/post/2022/09/28/em-que-os-atuais-p rotestos-no-ira-diferem-das-ondas-anteriores-de-insatisfacao-popular.ghtml. Acesso em: 30 de set 2022.

Irã ataca Curdistão iraquiano em resposta a protestos por morte de curda presa com ‘véu inadequado’; sete morrem. G1, 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/09/28/ira-ataca-curdistao-iraquiano-mortos. ghtml. Acesso em: 30 de set 2022.

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