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Uma Noite de Crime e a Anarquia do Sistema Internacional

Por Daniela Mendes e Alan Araújo

Diz ai, ASCOM!


Imagine essa situação: em uma noite do ano, durante exatas 12 horas, todas as leis são suspensas, permitindo que os cidadãos cometam qualquer crime, inclusive homicídio, sem sofrer sanções legais. Esse cenário distópico é a base da premissa do filme Uma Noite de Crime 2: Anarquia (2014), dirigido por James DeMonaco. Esse contexto de caos controlado e violência extrema permite uma análise profunda em relação à anarquia que se observa no sistema internacional, conforme teorias das Relações Internacionais.

O conceito de anarquia nas Relações Internacionais sustenta que o sistema internacional é caracterizado pela ausência de uma autoridade central que regule as interações entre os Estados, o que cria um ambiente de competição. Cristina Pecequilo, em seu livro Introdução às Relações Internacionais: Teorias, atores e visões, explora essa ideia, destacando como a falta de um poder central conduz à busca pela sobrevivência e preservação em um sistema marcado pela dinâmica de interação entre os Estados. (PECEQUILO, 2004). 

Essa dinâmica também é observada no filme quando a suspensão temporária das leis cria um ambiente caótico, onde os cidadãos agem de forma egoísta ou estratégica para sobreviver. De forma análoga, no sistema internacional, os Estados, sem a presença de um poder soberano global, precisam agir de forma autônoma e competitiva para garantir seus interesses.

Pecequilo também utiliza o conceito do Leviatã, proposto por Hobbes, para explicar o papel do Estado na esfera interna e sua ausência no sistema internacional. Enquanto, para o autor, o Estado surge para impor ordem e proteger os indivíduos do estado de natureza, o filme de DeMonaco ilustra o colapso dessa função estatal ao institucionalizar a anarquia por uma noite, revelando as consequências sociais e éticas de tal sistema. 

No cenário global, onde o Leviatã está ausente, os Estados permanecem em uma condição hobbesiana, buscando autossuficiência e alianças estratégicas para sobreviver em um ambiente competitivo (PECEQUILO, 2004). Assim, tanto o filme quanto a teoria anárquica evidenciam os desafios impostos pela ausência de uma autoridade central, seja na sociedade ou nas Relações Internacionais.

Ademais, Kenneth Waltz, ao exteriorizar a ausência de um ente supranacional no sistema, em seu ensaio Theory of International Politics, estima que, enquanto exista a possibilidade do uso da força a qualquer momento por parte de alguns Estados, todos os outros Estados devem estar preparados para fazê-lo ou viver à mercê de seus vizinhos militarmente mais vigorosos. De forma paralela, o filme destaca que, durante a noite do expurgo, os cidadãos norte-americanos contrários ao evento sentem-se compelidos a recorrer ao armamento bélico como medida de proteção diante da possibilidade de ataques ou invasões de outros indivíduos. 

Dessa forma, a abordagem sistêmica estruturada pelo princípio de ordenamento anárquico como principal definidor das regularidades no comportamento dos atores internacionais se destaca como o cerne das tomadas de decisão da sociedade internacional, uma vez que os atores sempre são constrangidos pelo resultado das decisões dos demais (DUARTE; CAMPOS, 2013).

Em suma, o filme Uma Noite de Crime 2: Anarquia proporciona uma metáfora instigante para a análise das dinâmicas anárquicas que permeiam o sistema internacional, conforme teorizado nas Relações Internacionais. A ausência de uma autoridade central tanto no cenário ficcional quanto no sistema global revela as implicações éticas, sociais e estratégicas de um ambiente competitivo e desregulado. Através de conceitos como o "Estado de Natureza" e o "Leviatã" de Hobbes, bem como os postulados de Kenneth Waltz sobre a constante ameaça de uso da força, observa-se que tanto indivíduos quanto Estados são compelidos a adotar estratégias de sobrevivência em contextos de anarquia. Assim, o filme serve como uma narrativa complementar às teorias internacionais, elucidando os desafios e as complexidades das interações em um sistema regido pela competição de interesses e pela ausência de uma autoridade suprema.


Referências


DUARTE, Érico Esteves;  CAMPOS, Tiago Cerqueira. Waltz, a ideia de anarquia e o estudo das relações internacionais. Ufrgs.br, 2024. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/111982>.


HOBBES, Thomas (s.d). O Leviatã [S.n.t — Diversas edições].


PECEQUILO, Cristina. Introdução às Relações Internacionais : Temas, atores e visões. Editora Vozes: Rio de Janeiro, 2004.



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